Paper Mario Sticker Star - Análise
Folhado de estrelas.
A caminhar rapidamente para o seu segundo ano de vida, pode-se dizer que a Nintendo 3DS está em sintonia com as perspetivas definidas pela Nintendo. A consola recebe sistematicamente novos conteúdos relevantes e isso permite-lhe ganhar destaque ao longo do ano. Os indicadores de vendas que chegam semanalmente do Japão apontam para a 3DS como a consola mais vendida no território. Quanto à Europa e Estados Unidos, a 3DS não é líder entre todas as consolas, mas consegue estar ao nível da sua predecessora, a Nintendo DS. Entre jogos “first party” e títulos “third party” existe uma grande maioria de títulos com indiscutível qualidade.
É certo que continua a ser a Nintendo a produtora que melhor abastece as suas consolas. As suas produções internas conseguem dar bom uso das capacidades da máquina e fazem parte da oferta que entra em sintonia com as expectativas dos fãs. É curioso registar, porém, que em quase dois anos, a Nintendo 3DS já conheceu dois jogos da série Mario. Primeiro foi Super Mario 3D Land, que pode ser visto como uma original incursão de Super Mario em território portátil e como exclusivo 3D e depois uma já reconhecida recuperação através de New Super Mario Bros 2, sequela do original lançado para a DS.
Paper Mario Sticker Star é o terceiro jogo que retoma o protagonista de boina escarlate, mas desta vez sob o selo Paper, o contexto Super Mario que a Intelligent Systems vem fabricando regularmente desde a Nintendo 64 e que tem como clara inspiração o antigo Super Mario RPG (Legend of the Seven Stars). Este velho clássico resultou de uma parceria única entre a Nintendo e a Square para um exclusivo Super Famicom, jogo que, de resto, nunca saiu do país do sol nascente. Assente numa fórmula típica de role play que a Square tão bem soube e ainda sabe fazer, Paper Mario retoma boa parte dessa organização, ainda que seja um jogo diferente e único, fruto do seu design estilizado.
Basta reparar em Mario para nos apercebermos como é diferente o seu aspecto. De olhos miudinhos, não se lhe veem as gemas azuis que vem mostrando desde Mario 64. Serve-se de uma avantajada marreta de madeira (quase do tamanho dele) e de um pesado par de botas para dar na cabeça dos Goombas e Koopa Troopas e só lateralmente nos apercebemos como possui a espessura de uma folha de papel. E como o cenário parece ser uma construção de cartão e soma de folhas, é este particular design que dá mais destaque e personalidade ao trabalho da Intelligent Systems em Paper Mario. Ancorado depois num modelo de combate que se aproxima dos tradicionais jogos de role play nipónicos, Paper Mario acaba por ser um desafio constante, conjugando bons puzzles com batalhas de role play. Sem abdicar de entregar puzzles e sem prescindir de um sentido de investigação muito forte por parte do jogador, quem assumir esta oferta depressa irá perceber a especialidade que daqui emerge.
Pode-se dizer que depois de Paper Mario The Thousand Year Door (GameCube) e Super Paper Mario para a Wii, Sticky Star será uma aposta segura da Nintendo. Sticky Star deixa bem claro como a máquina está bem oleada, mas também que é possível oferecer ainda mais divertimento, continuando a surpreender. Numa 3DS que abre todo um novo potencial e liberta novas características como o 3D, a consola disponibiliza um ecrã táctil para ordenar operações e fazer escolhas rápidas durante o combate. Sticky Star volta a seduzir, muito por força de uma apresentação cuidada, mecânica refinada e toda uma produção criativa que mesmo não sendo nova é confortável e capaz de satisfazer plenamente os adeptos das plataformas, puzzles e combates por turnos.
O papel volta a ser a temática dominante e é graças às folhas e autocolantes que entra em destaque boa parte da especialidade do jogo. A história começa mais uma vez com uma entrada em cena do malvado Bowser, que acidentalmente põe um fim à Sticker Fest, uma festa criada pelos Toads na vila de Decalburg em homenagem ao cometa Sticker, capaz de realizar todos os desejos dos presentes. Bowser perturba a festa e causa a destruição do cometa, ao mesmo tempo que ganha novos poderes. Mario tem assim um novo desafio pela frente, encontrar todos os pedaços do cometa que Bowser espalhou pelo mundo (apelidados de Royal Stickers) e vencer vários inimigos como Kamek e Bowser Jr. Mario contará com a preciosa ajuda de Kersti, que a todo o instante auxilia o nosso herói com algumas pistas para os puzzles mais complicados e que pode ser ativada pressionando o botão L.
Mal arrancamos para a exploração do jogo apercebemo-nos da presença de stickers, autocolantes espalhados pelos recantos possíveis do cenário, dentro de caixas de interrogação e das caixas de madeira que podem ser quebradas usando a marreta. Estes stickers são úteis para o protagonista e funcionam como power ups que podem ser transformados em golpes especiais durante os combates como bolas de fogo, bolas de gelo, carapaças em velocidade, cogumelos para recuperação de saúde, entre tantos outros. Arrancando-os da parede, ficam imediatamente à disposição no ecrã inferior, podendo ser selecionados à distância de um toque. Mas há mais dentro deste processo de interação com os cenários. Algumas vezes encontrámos saídas secretas, escondidas, objetos que se acendem como a luz no interior da estátua de Yoshi, no deserto, outras vezes abrimos escadas e passagens que se transformam num belo acesso tridimensional, saído de uma perspetiva de duas dimensões. Sticker Star brinca imenso com as perspetivas, balizando a personagem constantemente entre 2D clássico para um 3D dotado de profundidade.
Certos stickers escondem desdobráveis que funcionam como pontes ou escadas para zonas secretas. É como aqueles livros antigos, que havia na escola e dos quais puxávamos um pedaço de cartão numa folha para revelar uma estrutura em 3D ou tão só uma informação suplementar. Sticky Star usa e abusa desse meio para assegurar a progressão. A pouca linearidade do jogo fomenta a exploração. Isso já era assim em Thousand Year Door e embora seja um método que torna as coisas mais complexas, leva a que o jogador constantemente investigue as áreas e se esforce por descobrir a saída, assim como zonas secretas onde se encontram escondidos importantes tesouros. Também é um jogo difícil, especialmente nas boss fights. As batalhas rotineiras poderão causar alguma sensação de acomodação, mas quando enfrentam uma criatura de poderes especiais terão de arriscar com atenção. Uma derrota implica que tenham de começar tudo de novo