BioShock Infinite - Análise
Vale a pena acreditar.
Parece uma eternidade desde o dia em que a 2K Games deu a conhecer ao mundo BioShock. Conquistou um lugar de mérito nesta indústria, pela sua audácia, pelo arrojamento, e jamais será esquecido. O regresso a Rapture é um sonho que poderá nunca passar disso mesmo, mas nunca devemos perder a esperança, pois podemos ser surpreendidos quando menos esperamos.
BioShock Infinite é daqueles jogos que tememos, existe sempre o fantasma do passado, e por vezes os jogos que se seguem vivem na sombra do êxito alcançado. Será mais uma obra de arte, ou um autêntico fracasso? Será que é digno do jogo original? Estas questões são sempre colocadas quando abordamos um trabalho que à partida já temos uma ideia de como será. A mecânica de jogo, a construção da ideia, o design do conceito, a atmosfera e ambiência. São variáveis que temos em consideração e que fazem parte do nosso subconsciente.
O que realmente surpreende e ressalta em Infinite é a sua história. Não estava à espera dum alcance tão grandioso, um enredo quase irrepreensível com retrocessos nostálgicos, e por vezes uma visão do futuro. É um desabrochar perfeito de uma história que revela um mundo alternativo e que as nossas escolhas são sistemáticas e irreversíveis.
É de coração aberto que se recebe este jogo, desde o seu primeiro minuto. A 2K Games proporciona um momento delicioso logo na entrada do jogo, e que faço questão de não o revelar. Joguem BioShock Infinite, se querem fazer parte desta sublime aventura virtual. Não há palavras para descrever o sentimento quando iniciamos esta jornada. Somos colocados num cenário que nos arranca um sorriso rasgado nos lábios. Parabéns 2K Games.
Mas o que nos move em Infinite? Uma simples procura. Estamos em 1912 e somos Booker DeWitt que parte na busca de Elizabeth, que se encontra retida em Columbia, uma cidade flutuante. Inicialmente, tudo se move de um modo calmo, com a vida na cidade a desenrolar-se com naturalidade, as pessoas preocupadas com as tarefas do dia-a-dia. Mas paira no ar um certo desconforto, uma sensação de que algo não é realmente o que aparenta ser.
Booker tenta passar despercebido por entre os habitantes, em busca de Elizabeth, mas nem tudo corre conforme planeado. Num ápice, é obrigado a lutar contra as forças da autoridade da cidade assim que o associam ao "falso pastor". Existe uma marca na sua mão, e é essa mesma marca que o incrimina. Booker acaba de constatar que resgatar Elizabeth será uma missão gigantesca e que terá que usar todos os poderes ao seu alcance. Elizabeth torna-se a personagem mais importante de todo o jogo, tudo irá girar à sua volta, é a história dentro da história.
De facto, estamos perante um jogo em que o fundamental é mesmo a sua narrativa. Os restantes princípios, jogabilidade, grafismo, design, sonoplastia, são apenas "condimentos" que ajudam a tornar esta aventura imperdível. Há um extraordinário trabalho em todo o enredo, é fantástico evoluir pelo jogo e sentir que a cada passo dado progredimos para um final apoteótico e que deixa o jogador rendido perante o que acaba de jogar. Existem situações memoráveis em BioShock Infinite, que embalam o jogador, que pegam pela nossa mão e nos transportam num sonho videojogável.
Graficamente, Infinite é um regalo para os olhos. Não raras são as vezes que damos por nós a apreciar o design de toda a cidade e dos seus edifícios flutuantes. É claro que podem dizer que existem texturas que deveriam estar com melhor qualidade, mas é um ponto secundário, já que o que conta é o todo, o conjunto artístico, as cores, os efeitos de luz e partículas. A construção e a conjugação com a jogabilidade é de enaltecer, há um enorme cuidado na construção de todo o cenário para que este seja adequado à forma como nos deslocamos e combatemos. Se no exterior é de contemplar os edifícios, olhar o horizonte e constatar a enormidade da cidade a flutuar, no interior também nada foi deixado ao acaso. Há muito para ser explorado, apesar de existir uma forte linearidade, há sempre uma pequena liberdade de ação e percorrer alguns locais que não são bem o percurso a seguir.
Como seria de esperar, há que vasculhar todos os recantos, na procura tanto de dinheiro como itens. As máquinas de venda voltam a fazer a sua aparição, onde podemos comprar munições, melhorias para as armas e para os nossos poderes. As armas são adquiridas com a evolução do jogo, vamos apanhando as que os inimigos deixam e algumas que estão guardadas em determinados lugares. Os poderes (Vigors) são adquiridos quando encontramos as respetivas poções, que ao serem consumidas farão parte de nós. Os Vigors são utilizados na mão esquerda e as armas na direita.
As armas, apenas podemos transportar duas, mas os Vigors estão todos disponíveis, sendo necessário pausar o jogo para trocar entre os dois que são de acesso direto e os que estão em segundo plano. Não há uma grande novidade nos poderes ao nosso dispor, são todos muito familiares. As armas disponíveis são variadíssimas, desde simples pistolas a lança granadas. Aqui não há grandes novidades, mas não é necessariamente mau. Adicionalmente, também temos a possibilidade de evoluir determinadas características do nosso personagem, como determinadas capacidades aéreas, outras mais relacionadas com a eficácia da utilização das armas, e até a interação com o meio que nos rodeia.
A jogabilidade em si, considero que está aprimorada em relação aos jogos anteriores. A relação e combinação dos poderes com as armas está bem construída, são a união perfeita. A seleção do poder adequado a cada momento é imprescindível contra inimigos poderosos e nos níveis de dificuldade mais elevados. Certamente que estão familiarizados com os carris aéreos que ligam diversos edifícios flutuantes, e que dão acesso a determinadas zonas. Com uma espécie de gancho que possuímos na mão esquerda, adquirido na parte inicial do jogo, temos a possibilidade de nos prender e deslocar rapidamente pelo terreno de jogo. Em muitos dos combates contra inimigos poderosos estes são essenciais, e deliciosos quando dominamos a sua utilização. É fantástico percorrer o mapa a uma velocidade estonteante e subitamente saltar para cima de um inimigo executando um golpe fatal. Esta variante aérea na jogabilidade é a porta perfeita para uma abordagem única em BioShock Infinite.
"Elizabeth torna-se a personagem mais importante de todo o jogo, tudo irá girar à sua volta, é a história dentro da história."
Como já referi, Elizabeth tem um papel preponderante em toda a narrativa, é parte integrante de toda a jogabilidade. Ela possui poderes especiais que nos transportam para mundos paralelos. Abre portas para teletransportar tanto armas como itens de outros mundos, fornece munições e poções quando estamos em combate e necessitamos urgentemente de ajuda, tem a capacidade de abrir portas inacessíveis ao jogador, vasculha o terreno de jogo em busca de dinheiro, e por vezes indica onde se encontra determinado artigo. Durante os combates não temos que nos preocupar com a sua segurança, pois nunca é atacada e está sempre à procura de cobertura. Podemos dizer que é uma união perfeita, quando ela não está presente sentimos mesmo a sua falta, emocionalmente e estrategicamente.
A partir do momento que Elizabeth é encontrada e aceita a nossa presença, ela passa a ser a razão da existência de tudo o que se passa à nossa volta. Ela tem vários estados de espírito, influencia as nossas ações, consegue criar emoções distintas em nós. O que inicialmente seria a nossa tarefa, passa a ser a nossa vida. Elizabeth é a resposta a tudo o que nos acontece, a todas as nossas ações, é o que sempre procuramos, mesmo sem o sabermos. A parte final do jogo é memorável, com momentos nostálgicos e respostas a questões que estão no nosso subconsciente.
Vale a pena acreditar que ainda existe a capacidade de executar um trabalho de qualidade e entregar ao jogador uma obra que merece ser jogada. Não era tarefa fácil alcançar a qualidade do primeiro jogo, mas BioShock Infinite sobrevive a esse "fantasma", evolui em todos os sentidos, desvenda segredos, é uma viagem imperdível.