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Pikmin 3 - Análise

Delicada forma de vida.

Shigeru Miyamoto já não se senta à mesa de produção do mesmo modo que o fez em títulos como Mario 64 ou Pikmin. Hoje, o seu escritório nos edifícios da Nintendo no Japão há-de ser um espaço mais reservado e exclusivo. Pelo menos é assim que o vejo e idealizo, porque nunca lá fui. Mas nem por se encontrar mais longe dos grupos de trabalho - os departamentos que trabalham em certas franquias -, e por estar mais perto do dia em que se reformará por completo, ele não deixa de ser uma espécie de controlador de garantia de qualidade, um mestre a quem os seus discípulos acorrem nos seus momentos de dúvida e indefinição.

É bom para uma companhia ter uma figura como esta, ainda presente e pronta para indicar a direcção de produções relevantes. Creio até que não é menos importante esta função a que está confiado hoje, por comparação com a que desempenhou até há alguns anos. Este é o momento a partir do qual os criativos testam os seus trabalhos e provam a sua capacidade em desenvolver não só produções clássicas, mas também os jogos do futuro, qual extensão de seguro de vida da companhia. Em certa medida, Pikmin 3 é um jogo de transição, da ideia de Miyamoto para os seus Pikmin. Ainda leva consigo com muitas das ideias da mente que idealizou e projectou o jogo. Apesar de não integrar a direcção ou produção de jogo, Pikmin 3 está mais perto do resultado que Miyamoto idealizou quando desenvolveu o original para a GameCube em 2001.

Alph dá os primeiros passos em PNF-404, enquanto descobre as peculiares plantas.

Na verdade, Pikmin 3 é em todas as suas vertentes um jogo mais coeso, equilibrado, profundo e superior. Apesar de reconhecermos imediatamente as suas mecânicas, e como estas ainda são muito semelhantes às mecânicas do original, o salto para a alta definição e sobretudo para uma máquina capaz de produzir mais animações e primor gráfico, deixa o jogo à beira de um sentido de perfeição, que os dois primeiros títulos não conseguiram materializar. No fundo, apesar de não implicar grandes mudanças na jogabilidade, Pikmin 3 é uma experiência muito mais polida e apelativa. Desafiante e complexa, sem nunca se tornar frustrante. Acessível, mas longa e cheia de desafios para dois jogadores. A maior ausência é mesmo o modo online, algo que reforçaria a experiência em termos de jogo partilhado, criando mais algum complemento ao modo história.

Quanto a este último ponto, dou-me inteiramente por satisfeito por ter precisado de quase vinte horas para conhecer o final de Pikmin. Uma história bastante apelativa, que pega nalguns temas como gestão de recursos, a existência de vida noutros planetas, e que graças ao "twist" final, nos empurra para mais uma dose de indefinição até à conclusão. Porém, o jogo não é parco em opções para dois jogadores. O modo multi jogador, apesar de se desenvolver em termos locais, também se revela de grande qualidade, uma vez que reaproveita a estrutura do jogo principal de modo a acomodar um desafio especial para dois jogadores, dentro do mesmo espaço. De forma cooperativa ou competitiva, ambas opções encerram desafios especiais, mas lá iremos.

Em Pikmin 3, o objectivo do jogador volta a ser explorar um planeta; um novo planeta, o PNF-404, controlando três personagens: Alph, Brittany e Charlie. Em comum, estes intrépidos exploradores têm a sua proveniência. Oriundos do planeta Koppai, a braços com problemas como sobrepopulação e poucos recursos para a alimentar, a única alternativa que lhes resta para sobreviverem e regressarem a Koppai com novas sementes, é recolhendo a fruta deste PNF-404. No entanto, na entrada do planeta Koppai, a SS Drake, a nave espacial que os transportou para longe, sofreu um acidente, atirando os intrépidos exploradores para diferentes pontos do planeta.

Os Pikmin com asas transportam os objectos pelo ar, mas também irão enfrentar sérias resistências.

É então que tem início a primeira fase do jogo, na qual começamos por controlar Charlie, o capitão, para de seguida conhecermos melhor Alph, já dentro da estrutura regular do jogo. É interessante descobrir, ao longo das primeiras horas, como a equipa de produção se esforçou por criar uma história muito coesa e apelativa. Apesar de falarem numa língua desconhecida, pela primeira vez na série elas comunicam por palavras. Durante as primeiras horas ficam claros os objectivos. Temos de obter o maior número possível de frutas, já que estas fornecem o combustível necessário para que as personagens possam sobrevier. Para tal, teremos que comandar os Pikmin e dar-lhes as instruções adequadas para que estes consigam transportar até à nave as frutas. Normalmente um dia no planeta PNF-404, implica o consumo de um frasco de sumo de fruta e cada fruta tende a proporcionar 1, 2 ou 3 frascos de precioso sumo.

Apesar de ser um jogo de estratégia, vemos que há outros elementos que assumem grande relevância; um deles é a exploração. O planeta PNF-404 é constituído por diferentes zonas que iremos descobrir ao longo da história. O GamePad, também conhecido no jogo como KopPad, fornece o mapa e é justamente aqui que temos uma das grandes inovações e melhorias face aos jogos anteriores. Através do ecrã táctil do nosso comando, podemos ver uma perspectiva aérea da área onde nos encontramos. À medida que avançamos, a área explorada torna-se visível, permitindo que identifiquemos as frutas, os limites da área, as ligações para outro ponto e muitos locais onde é possível efectuar algum tipo de interacção. No ecrã, vemos também onde se encontram os Pikmin, caso alguns fiquem para trás, o que nos permite resgatá-los mais facilmente caso o dia esteja prestes a acabar. Isto para dizer, que apesar de ser um jogo com uma componente estratégica muito forte, Pikmin 3 é também um jogo de exploração e gestão. Como uma aventura que avança dentro de alguns limites. Limites esses que nos obrigam a trabalhar em ordem a conseguir os objectivos imediatos (recolher fruta para sobreviver), mas também encontrar os nossos camaradas de viagem até este belo planeta.

Com efeito, é difícil subsumir Pikmin 3 a um género, e fazê-lo é condicioná-lo. É que para além da componente estratégica e de gestão, o jogo ainda oferece um tipo de interacção que privilegia elementos de acção, com uma física muito mais acentuada. Isso está bem patente quando levamos os Pikmin a combater as criaturas do planeta. Ainda que não tenhamos o poder de as controlar directamente, é possível alvejar as criaturas inimigas em pontos concretos, como nos olhos esbugalhados dos caranguejos, na carapaça de um escorpião gigante, entre outros. As reacções dos inimigos também são imediatas e muitas vezes causam grande mortandade entre os Pikmin, pelo que convém atacar com segurança e com a certeza de que o ataque está a ser travado com os Pikmin adequados ao tipo de inimigo.