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007: Legends - Análise

Licença para entediar.

A série 007: James Bond é uma das minhas favoritas e desde pequeno que me lembro de ver repetidamente os mais variados filmes que a compõe. Para rapazes de várias idades, para diversas gerações eram dotados de enorme fascínio e quase um exercício de aprendizagem para aqueles que queriam sonhar com vidas diferentes repletas de lindas mulheres e ação. Não é de estranhar que sejam peças fascinantes que alimentavam o nosso imaginário, pois afinal de contas temos charme, sensualidade, ação em locais paradisíacos, emoção por todos os lados, ritmo dinâmico, tiroteios envolventes e toda uma estrutura que nos faziam acreditar que uma completa fantasia era algo que acontecia mesmo enquanto nós estávamos na escola ou no trabalho.

Perseguições em alta velocidade, tiroteios de cortar a respiração, pancadaria cheia de estilo e ainda locais de espantar são mesmo os principais pontos de qualquer aventura Bond. Estando perante um jogo que pretende homenagear os melhores momentos da história da série é de esperar que todos eles tenham estado na base de design e criatividade que inspirou esta equipa de desenvolvimento nos estúdios Eurocom, que conta no seu currículo com alguns jogos da série 007. O estúdio não tem um título de alto perfil que possa servir como estandarte, e esqueceu-se de ver os filmes e o que lhes dá chama.

Todos estes elementos deveriam ter servido para alimentar o espírito do estúdio e para o motivar a criar isso mesmo: um jogo repleto de tiroteios emotivos, locais de espantar, charme e perseguições dramáticas. O produto que está agora nas minhas mãos é algo desprovido de completa alma Bond e que parece ter sido feito por um estúdio sem qualquer experiência e ainda pior, sem entusiasmo e ambições.

O intuito do jogo é homenagear e comemorar os 50 anos de James Bond e acompanhar a chegada do recente Skyfall aos cinemas. Para tal apresenta missões inspiradas em alguns dos melhores filmes das diferentes eras da personagem, interpretadas por diferentes atores no cinema. Desde logo o primeiro impacto com o jogo nos deixa de pé atrás. Tendo em conta a excelência que alguns motores estão a alcançar no género, Legends é um jogo que caso quisesse ser deselegante poderia descrever como horrível. Tendo em conta a importância do aparato visual na série, constatar a pobre e fraca qualidade dos visuais é desanimador. Não estamos só a falar de uma qualidade fraca a nível de texturas, de um fraco modelo de personagens e de parecer um jogo da anterior geração, falamos da sua qualidade em geral, que é algo de aspeto feio.

O jogo tenta combinar tiroteios abertos e sequências de ação pura (até temos cenas de pancadaria que por algum motivo usam os analógicos para eventos quase ao estilo QTE) com uma certa dose de furtividade. Isto já provou funcionar e já teve a sua aclamação noutros jogos, mas também aqui o estúdio parece ter sido vítima de si próprio. O design fraco de níveis combinado com uma fraca recompensa para os furtivos faz com que tudo seja despropositado e sem interesse. Apenas quando o jogo assim o força é que a componente furtiva ganha destaque. Caso contrário, se não tivermos que controlar os alarmes, mais vale seguir a tiro.

E se o Céu Cair, deixem que caia... aparentemente a Eurocom andou na gandaia.

Bond tem ao seu dispor três engenhocas que por muito interesse que tenham, a forma como a jogabilidade forçosamente se centra nelas e força o seu uso, faz com que percam o pouco interesse que poderiam ter. Combinadas com uma certa liberdade, estas engenhocas poderiam contribuir para uma jogabilidade rica e diversificada, mas da maneira restrita e especifica com que são usadas, temos aqui algo que rapidamente se torna entediante e também aqui temos alguns momentos estranhos (usar um aparelho para abrir um portão enquanto temos soldados a nascer sem parar bem ao nosso perto e levamos tiro sem parar).

Um smartphone, uns binóculos e um relógio são ferramentas de puro estilo nos filmes mas que aqui são instrumentos de tédio. Inicialmente até temos um bom uso e enquadramento, mas rapidamente perdem o interesse pois quebram o ritmo da ação. O seu uso apenas apenas consegue emocionar em alguns momentos. O relógio ainda consegue oferecer bons momentos no jogo, para distrair os adversários e abrir espaço para a componente furtiva mas o telefone para ler pontos específicos do cenários ou para fazer um hack a portões está perto do disparatado em função da como é usado.