3D da Nintendo 3DS: ligado ou desligado?
Porque deixou a Nintendo de falar no 3D para a Nintendo 3DS?
E3 de 2010. A primeira feira de videojogos da versão 2.1 do século, se assim quisermos chamar-lhe, foi o momento escolhido pela Nintendo para apresentar o seu novo sistema portátil, a Nintendo 3DS. Mais do que uma evolução do sistema portátil mais vendido de sempre na história da companhia - a Nintendo DS, que suplantou com fulgor o bom velho GameBoy - a Nintendo 3DS representa não só significativo progresso tecnológico, mas também possui uma característica determinante; o ecrã tridimensional.
A possibilidade de se jogar, pela primeira vez, através de um sistema portátil dedicado, totalmente em 3D e sem necessidade de óculos, deve-se à Nintendo. O 3D foi um dos atributos de relevo da consola que mais destaque mereceu em toda a E3 de 2010. É verdade que a consola mesmo não sendo a mais forte por comparação com os atuais sistemas, em termos de especificações, é altamente evoluída relativamente ao sistema anterior, a DSi. Atendendo à produção gráfica, em conjugação com a duração da bateria, melhor som, ligações sem fios à rede e exibição do 3D através de um ecrã sem fios, a 3DS assumiu rapidamente uma posição de destaque, convencendo a audiência.
Como que brotado do espírito nuclear da Nintendo e da sua história, o 3D em forma de portátil representa uma oportunidade para vingar o desaire do Virtual Boy, um volumoso aparelho lançado na década de noventa que permitia jogar uma série de títulos com efeitos tridimensionais, ainda que muito moderados. Apesar de ser altamente procurado pelos colecionadores, a verdade é que esta plataforma representou um completo falhanço. Foi produto de uma louca criação de sistemas oriundos de companhias nipónicas durante a década de noventa. Só que em pleno século XXI, a realidade do mercado impõe outra iniciativa e o lançamento de uma nova plataforma envolve todo o tipo de cuidados.
"Jogar 3D sem usar óculos especiais foi a mensagem mais sublinhada pela Nintendo ao longo de mais de um ano."
Muito embora a Nintendo 3DS fosse vista como uma evolução da DSi, o ecrã 3D teve, ao princípio, um efeito motivador no que toca à publicidade da consola. Desde o anúncio até ao lançamento da 3DS, a Nintendo fez tudo para salientar, mais do que qualquer outro elemento, o 3D. Com o ecrã tridimensional os jogadores podiam não só experimentar jogos exclusivos em três dimensões, mas também ver vídeos e "brincar" com fotografias em 3D e imagens de realidade aumentada. Tudo isto era quase novo para a Nintendo. Porque a ideia era apelar à audiência alvo da DS e seduzir muitos curiosos com vontade de experimentar jogar em 3D.
Jogar 3D sem usar óculos especiais (uma mensagem que chega quando há muita gente acaba de ir ao cinema ver pela primeira vez um filme em 3D, Avatar) foi a mensagem mais sublinhada pela Nintendo ao longo de mais de um ano e era tentador ouvir isto. Foram realizadas imensas campanhas com figuras públicas a segurar numa 3DS, mostrando-se surpreendidas com o que viam no ecrã. Até Fils-Aime entrou para os risos através do vídeo no qual víamos Bowser sair do ecrã da 3DS como que ganhando vida, empurrando-o para trás.
Mas se ao princípio a novidade foi bem recebida entre a comunidade de fãs e crítica em geral, considerando que a Nintendo, mais uma vez, experimentava algo com potencial de sucesso, não tardou até que chegassem as primeiras críticas mesmo antes do lançamento da consola em Fevereiro de 2011. Primeiro porque muitas pessoas declaravam sentir tonturas e efeitos indesejados quando jogavam com o efeito 3D no máximo. Apesar da Nintendo ter incluído um regulador para estabelecer a intensidade do efeito 3D, desde nenhum efeito até ao máximo, muitas pessoas continuavam a admitir a necessidade de ajustar o efeito à sua visão, instalando dúvidas e indecisão sobre os potenciais compradores do sistema.
"Até Fils-Aime entrou para os risos através do vídeo no qual víamos Bowser sair do ecrã da 3DS como que ganhando vida, empurrando-o para trás."
Depois porque se tornou muito complicado para a Nintendo publicitar com sucesso o 3D da consola. Entre imagens, vídeos e fotografias de revistas, não era fácil mostrar como é um jogo em 3D e, sobretudo, até onde vai esse efeito. As imagens relacionadas quase sempre com os produtos para a 3DS só podem ser indicadas em 2D. A única hipótese de saber como funciona o 3D era através da consola em mãos. A Nintendo partiu então para uma série de iniciativas junto das principais cidades do país, colocando expositores para experimentação em lojas da especialidade, mas de um modo geral permanecia ainda alguma confusão e dúvida entre os interessados na consola.
Há relativamente poucos meses, a Nintendo veio a público admitir que falhou a sua estratégia inicial de comunicação sobre a 3DS. Não só faltaram jogos importantes para o lançamento, mas Miyamoto, por exemplo, referiu outra coisa, que outras características como o Street Pass e Spot Pass deviam ter merecido mais destaque. A partir dessa admissão pública de uma estratégia de lançamento da 3DS que não foi a melhor, a Nintendo terá deixado cair a bandeira do efeito 3D como ponto diferenciador para as outras plataformas. A 3DS continua a ser a única plataforma no mercado dedicada para jogos exclusivamente em 3D, mas o destaque dado ao efeito já não é o mesmo dantes.
Daqui por dois dias a Nintendo vai distribuir no nosso país a Nintendo 3DS XL, uma consola que não traz evoluções tecnológicas à exceção de ecrãs 90% maiores. Sobre um efeito 3D com maior destaque, para o ecrã superior, nem uma palavra da Nintendo. Parece que a companhia de Quioto está apostada em enfatizar o tamanho da consola e dos ecrãs, agora com mais área de observação. Não seria este um momento oportuno para voltar a sublinhar a importância do 3D?
A Nintendo sabe que qualquer consola ou sistema que introduz elementos que fogem à regra, causam sempre surpresa e reações aquando da revelação, muitas vezes com demasiada violência e exageradas ao ponto de nem sequer serem levadas a sério. Comentários positivos e negativos são tidos em conta, mas isso não invalida que um dos seus mais importantes elementos como o ecrã 3D seja tido como não essencial só porque se pretende evitar os tais coros de criticas, muitos até mal informados e de má fé.
A experiência que tenho tido com a 3DS mostra como esta é uma consola única quando posta à prova com o efeito 3D no máximo. É como se os jogos que conhecemos de sempre, ou se as novidades que nos chegam, adquirissem uma particular profundidade, mais substância. E basta desligar o efeito 3D para se retirar parte do apelo da experiência. Seria o mesmo jogar Super Mario 3D Land e Metal Gear Solid Snake Eater 3D com o efeito tridimensional desligado? Não me parece.
Ora, diante de um ecrã 90% maior e com o mesmo efeito quanto ao 3D, é natural que o efeito 3D nos jogos suba de importância. Estranha-se, por isso, que a Nintendo tenha abdicado de enfatizar uma das bandeiras da Nintendo 3DS. Subliminarmente o 3D continua bem patente através da nomenclatura da consola, mas a sua perda de importância no destaque da comunicação é o resultado de uma eventual nova estratégia: uma consola mais potente que a DS e agora com ecrãs maiores. O resto são surpresas que, ou já conhecem, ou ficarão a saber quais são depois de ligarem a 3DS XL.