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3D Fantasy Zone II - Análise

Opa-Opa, Sega!

Eurogamer.pt - Recomendado crachá

A velha Sega que grande parte de nós conheceu, nos marcou e que de certa maneira contribuiu como poucas para o avanço da indústria dos videojogos, pode estar morta e enterrada, mas a sua magia perdura algures, nem que seja no coração dos fãs e dos proprietários do seu riquíssimo e abundante software lançado anos a fio e que nos enche de nostalgia e de boas memórias interactivas quando aos seus jogos regressamos. Boa parte da magia da Sega reside também nestes trabalhos de restauro e revitalização de clássicos, muitos deles com mais de vinte anos, pela mão da equipa M2, comandada pelos heróis do momento, os inevitáveis e tridimensionais Yosuke Okunari e Naoki Horii.

O esforço notório que empregaram no fabrico destes clássicos para a Nintendo 3DS é cada vez mais valorizado, reconhecido e apoiado pelos fãs, reflectindo-se em boas vendas, num sinal de incentivo a futuros trabalhos. O que temos em cima da mesa são remasterizações no verdadeiro sentido da palavra, com anos e anos de distância desde o lançamento do original, refundando por completo a experiência de modo a torná-la o mais fiel à arcade ou congénere versão doméstica ( a Mega Drive), apimentada por uma paleta de cores mais viva, novo dinamismo e uma profundidade a três dimensões única e central, fazem todo o sentido e mais algum quando chegam com a qualidade a que nos habituaram desde a primeira vaga de Sega 3D classics, como Super Hang-On.

Experiência tipicamente arcade e um avanço tremendo face ao original para a Master System.

Depois de 3D After Burner, 3D Out Run e 3D Fantasy Zone, a M2 não quis ficar por aí, percebendo que muitos interessados no "shmup" lançado em 1986 pela Sega para as arcadas, numa placa chamada System-16, gostariam de ver no mesmo formato 3D, a sequela, programada para a Master System, no ano seguinte. O original é um "shmup" difícil, tipicamente arcade, mas muito apelativo visualmente e dotado de uma boa jogabilidade. Por seu turno, a sequela corrigiu muitos dos aspectos não tão bem elaborados, sendo que além de um jogo melhor a equipa M2 procedeu a significativos ajustes de modo a tornar a experiência ainda mais amigável, quiçá equilibrada.

3D Fantasy Zone 2 decorre no ano 1432, 10 anos depois de Opa-Opa ter derrotado as forças de Nenon. No entanto, os planetas de Fantasy Zone estão novamente em perigo e desta vez Opa-Opa terá de combater um renovado exército sabendo que o seu pai fora o comandante das tropas inimigas no confronto anterior. Esta incisão narrativa é apresentada textualmente mal entramos em jogo, no canto superior direito do ecrã, de forma curta e simples, sem tangas.

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A M2 aproveitou a versão baseada num remaster para a arcada System-16, da Master System e melhorou alguns aspectos do jogo. O primeiro, imediatamente reconhecível, é o formato wide do ecrã, promovendo uma área de observação maior por forma a garantir um desvio atempado dos tiros e avanços inimigos, assim uma gestão mais equilibrada dos nossos ataques. Por outro lado, o jogo oferece-nos dois modos distintos: "Tears of Opa-Opa", o modo história, e "Link Loop Land", sem escolha de capítulos e uma oportunidade para competir pelo melhor "score".

A placa PCB System-16 para as arcadas. Uma relíquia para ligar a uma Astro City, da Sega.

Partindo da versão desenvolvida para arcada System-16, terão de inserir créditos, como quem joga moedas num salão de jogos. A partir daí entram directamente em jogo, procedendo ao controlo de Opa-Opa, disparando projécteis e atirando bombas na direcção do inimigo. O "scroll" é de formato horizontal, e tanto poderão avançar para a direita como para a esquerda. A área é a mesma e ao longo do nível terão que aniquilar as bases inimigas, se falharem alguma poderão voltar atrás ou prosseguir em frente, num sistema circular.

Derrotadas as bases inimigas, terão que enfrentar um boss, através de uma batalha demorada e especialmente complexa. A destruição de algumas bases inimigas abre uma espécie de buraco negro. Se entrarem nele terão acesso à mesma área, mas com um ambiente escuro e inimigos mais difíceis de lidar, com novos ataques, como quem entra numa "twilight zone". A diferença relativamente ao "bright side" resume-se às moedas deixadas por um adversário rebentado (mais valiosas), o que permite reforçar o pecúlio financeiro, óptimo para incrementarmos o poder ofensivo e deslocação de Opa-Opa.

Por vezes, um balão com a indicação "Parts Shop", invade a área de observação. Se chocarmos com ele entramos directamente num quadro que nos dá uma oferta de periféricos e partes com as quais podemos melhorar a produção da nave, tornando-a mais rápida e melhor manobrável, mas também mais forte em termos de disparos. Os preços dos "upgrades" são variáveis, mas atenção. Se forem alvejados perdem as melhorias e voltam à configuração original. É importante por isso não só manter uma "ratio" de alvos muito alta, como também é imprescindível uma boa reserva de moedas, num banco. Lá mais para a frente a quantidade de inimigos em cena é brutal e se quiserem sobreviver e aniquilar o boss terão de possuir o melhor equipamento, pelo que ao começarem um jogo poderão transferir uma soma monetária de modo a comprar imediatamente os upgrades.

Em modo combo.

Não mexendo no grosso das mecânicas e alterando apenas estas regras de modo a equilibrar a dificuldade, a experiência melhorou, compatibilizando-se com mais jogadores, mesmo os pouco versados em "shmups". Todos os outros vão adorar o jogo desde o primeiro instante. Pese embora a sua simplicidade e mecânicas pouco desenvolvidas face a outros jogos do género (podemos eleger Radian Silvergun como um dos "shmups" mais complexos de sempre e ainda assim tremendamente gratificante,) é um jogo belíssimo visualmente e muito atractivo do ponto de vista do desafio, com os seus picos de dificuldade, mas sem nunca nos deixar em alto-mar. Os efeitos 3D aprimoram ainda mais os visuais e introduzem uma genuína sensação de profundidade, sob uma espantosa fluidez.

3D Fantasy Zone II é mais uma conversão perfeita de um clássico que começou na Master System, passou pelas arcadas e ainda contou em 2008 com uma versão integrada numa colecção para a PS2, exclusivamente nipónica. A M2 e os seus mestres chegaram ao nervo e à semelhança da esmagadora maioria desta magnífica viagem 3D Sega Classics, concretizaram. A Sega que conhecemos e que durante intermináveis anos nos fez sonhar pode ter acabado, mas enquanto não faltar dedicação e esforço como este, de uma equipa de indefectíveis e já lançada nas próximas conversões, os fãs podem ter a certeza de que mais sucessos como estes serão lançados.

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