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3D Streets of Rage - Análise

Cidade delapidada.

Streets of Rage está na lista dos meus favoritos da Mega Drive e dos melhores de sempre. Acompanhado pelo grande Golden Axe e pelo magnífico Shinobi, era o mais sublime de uma lista de três que foram disponibilizados pela SEGA pouco antes da primeira metade da década de noventa. Lançado pela SEGA em 1991, representou uma tentativa da marca japonesa rivalizar com outros jogos do mesmo género, nomeadamente Final Fight e Double Dragon, duas séries que integravam o género dos beat'em up. O resultado final de Streets of Rage excedeu as expectativas. Um jogo sólido, conciso, muito bem desenhado e com uma mecânica de combate simples mas suficientemente apelativa e eficaz. Streets of Rage só não foi melhor porque conheceu uma sequela no ano seguinte que superou totalmente o primeiro episódio.

No entanto, esta resiliência bem testada pela passagem do tempo, mostra-nos que vinte anos depois a SEGA ainda tem aqui um legado dotado de indecifrável valor, acrescido de uma das mais demarcadas bandas sonoras da sua época, da autoria de Yuzo Koshiro, um produtor de bandas sonoras que se notabilizou por uma produção massiva durante os anos noventa. A M2 sabia que ao pegar em Streets of Rage estaria a ir ao encontro das boas memórias dos primeiros titulares da Mega Drive. Streets of Rage é sinónimo de "tours de force" em modo dois jogadores e tardes com alguma coisa de bestial pelo meio. O seu maior entrave ainda hoje é ser um jogo curto. Jogado individualmente na dificuldade mais elevada, com poucos continues, é muito provável que não vejam o big boss tão depressa quanto vêm na dificuldade normal. Mas a dois, mesmo na dificuldade mais elevada, não terão muita dificuldade em vencer o antagonista em pouco mais de uma hora.

Neste ecrã, para além da exposição dos movimentos das personagens podem ver Blaze piscar o olho.

Mas que é uma hora extraordinária, numa escalada de porrada incansável, limpando o sebo a rufias e socando criaturas vis, numa cidade em decadência acentuada, lá isso ninguém pode negar. Com efeito, Streets of Rage adquiriu um estatuto de culto e permanece lá, todos estes anos, porque é bom, tem qualidade e encontrou uma produtora que fez por isso. Com um belo design, mecânica de combate afinada e uma "score" à medida, só pode resultar num clássico de natureza obrigatória. A introdução ainda é uma das mais nucleares para uma produção deste género. É o mote perfeito para um "beat'em up" de feições bastante tradicional. O fluxo da acção decorre na horizontal (exceptuando o belo nível no elevador de limpeza dos vidros de um edifício, que vos leva até à suite do big boss), com vagas de inimigos sucessivas antes de um combate "a sós" com um adversário de fim de nível.

Numa cidade à beira do caos, dominada por uma organização criminosa cujos tentáculos tocam todos os departamentos do poder, a resistência é proporcionada por um grupo de polícias dispostos a erradicar a vaga de crime. As três personagens disponibilizadas podem ser escolhidas livremente, sendo que as diferenças entre elas estão no alcance dos golpes. Axel Stone, por exemplo, é o mais equilibrado, enquanto que Adam Hunter apesar de ser forte movimenta-se mais lentamente e a bela Blaze Fieldings tem na rapidez de movimentos o seu maior trunfo mas é mais vulnerável diante dos inimigos.

Yosuke Okunari com as versões japonesa e americana de Streets of Rage e Naoki Hori com a versão 3DS.

As possibilidades de combinação de golpes são interessantes e significativas mas ao fim de um nível estamos já acostumados aos movimentos de ataque, incluindo os de defesa que nos permitem cair de pé, sem sofrer dano, depois de sermos projectados pelo adversário. De todo o modo, os golpes básicos dividem-se em socos, pontapés e pontapé pelo ar. Depois há os arremessos e a possibilidade de usar armas deixadas pelos adversários, como bastões, facas, tubos de ferro, garrafas de cerveja. Caso estejam prestes a perder a vida ou estejam numa luta mais complicada com um "boss" podem sempre chamar o apoio dos vossos colegas; o carro da policia. Com ele, uma equipa à distância lança um míssil que liberta uma chama ao redor da nossa personagem, queimando tudo o que se move ao seu redor. É interessante verificar que estes efeitos são diferentes para cada personagem.

No entanto, não é um sistema de combate fértil combinações. Ao fim de um nível ou dois já estamos a repetir o mesmo esquema, mas revela-se tão sólido, fluído, mesmo com dois jogadores a jogar em co-op, que sempre nos dá motivação e as ferramentas necessárias para prosseguir na demanda com interesse.

No nível do elevador o efeito 3D destaca-se na profundidade existente entre o elevador e o edifício em fundo. No final há vista para a cidade.

Em termos de design Streets of Rage enche os olhos. Todos os níveis são muito diferentes, bem desenhados e com pormenores gráficos relevantes para uma produção de 1991. O bom trabalho da M2 está patente no acréscimo dos efeitos estereoscópicos e na boa emulação do jogo. Não há o mínimo de abrandamento e nas opções dos gráficos 3D os jogadores podem escolher entre dois sistemas (3D para dentro ou para fora do ecrã. Este último é impressionante). Bom trabalho também no que respeita à inclusão do modo cooperativo, ainda que local e force os dois jogadores a terem uma cópia do jogo instalada na consola. Porém, a experiência melhora tanto a dois que vale a pena juntarem-se a alguém só para acabarem o jogo numa penada. A possibilidade de optar por um grafismo semelhante ao de um visor CRT enche a 3DS de nostalgia mas na versão normal é inesquecível o brilho especial deste novo arranjo nos gráficos. A M2 sabe-a toda.

Sobre a magnífica banda sonora de Yuzo Koshiro não há muito a dizer senão que é um dos seus trabalhos mais reconhecidos. Mérito inteiro pelo estilo e ritmo escolhidos, ajustando-se perfeitamente aos diversos níveis, enchendo de adrenalina quem segura o comando nas mãos. Em conclusão, Streets of Rage é um magnífico beat'em up e uma das melhores produções de sempre da SEGA para a Mega Drive. Só perde por ter sido superado por uma sequela ainda melhor, mas por ter sido o primeiro e o original há um encanto nesta obra que não se esfuma de um momento para o outro. Vislumbrando-se em Streets of Rage muitas coordenadas das produções arcade, esta versão 3D faz justiça ao original e por 5 euros é uma pérola que nenhum jogador pode deixar escapar.

8 / 10

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