A Arte da Ilusão - a E3 está a chegar
A era em que temos a "nossa E3".
Eis chegada a tão desejada altura do ano. Junho, outrora significado de praia, férias para alguns, e calor a acompanhar dias de céu azul, é para outros tantos significado de Electronic Entertainment Expo, ou seja E3. É aquela altura do ano em que iremos tentar perceber em cerca de uma semana como serão os restantes seis meses do ano e quais as melhores escolhas a fazer já para ter as melhores prendas na árvore de Natal. O drama, o drama.
Claro que a E3 é também uma espécie de ida à Disneyland, uma terra mágica onde as ilusões e magias são apresentadas aos que já não são meninos mas ainda gostam e se sentem vivos com o que os encantava quando ainda o eram. Apesar de todo o espetáculo e toda a pompa do showbiz que existe em Los Angeles nestes dias, pelo menos naquele pavilhão em específico pois o resto deve ser o mesmo igual a todo o ano, a história tem-nos ensinado que o aparato é todo muito bonito para as editoras se colocarem em primeiro plano, mas o que interessa primariamente são os jogos.
Na grande maioria dos sites, fóruns ou o que quer que seja, o foco está todo concentrado nos jogos e apesar das editoras estarem a tentar equilibrar a balança, piscando um olho aos investidores e acionistas com fogos de artifício, e piscando o outro aos jogadores com o máximo que podem mostrar no tempo disponível na antecipação e preparação ao evento, são os consumidores e imprensa dedicados que irão passar mais tempo a medir o pulso das apresentações.
Claro que ter todas as principais cadeias de televisão Norte Americanas, e de todo o mundo até, a passar imagens das novas propostas Microsoft, Sony e Nintendo em horário nobre a custo zero é uma excelente promoção, mas apenas para quem não está atento e não se interessa a sério por esta indústria. Os que seguem fielmente este seu acarinhado passatempo sabem o que precisam bem antes dessa peça noticiosa. Ao ponto de ser o consumidor que decide o que quer ver e quando.
Desde 1998 que sinto um grande fascínio pela E3, desde que li um artigo numa revista Espanhola dedicado a Hideo Kojima e ao seu então aguardado Metal Gear Solid. Alguns certamente sabem como era a altura na qual tínhamos que esperar semanas pelos artigos das revistas especializadas e a informação era selecionada. Agora, com toda a facilidade da comunicação dos dias de hoje, não só temos a informação na hora, verdadeiramente ao segundo quase, como podemos selecionar a informação que se identifica com os nossos gostos, ou seja, ter a "nossa E3".
Enquanto longos anos foram passados à espera de informações de Shenmue, Final Fantasy X, Super Mario Sunshine ou Ninja Gaiden, apenas para referir alguns anos e até lembrar uma altura em que também a SEGA promovia a sua consola, só mesmo em 2005 a E3 começou a assumir a forma que tem hoje, no sentido de acontecimento global imediato. Foi o primeiro ano em que foi transmitida para todo o mundo e no qual me sentei em frente ao PC a ver a apresentação da Xbox 360 da Microsoft, da Revolution da Nintendo e da PlayStation 3 da Sony.
A E3 da infâmia, como alguns certamente se lembram, muito por culpa da Sony principalmente, com os seus vídeos PlayStation 3 pré-renderizados, assentou as fundações para os próximos oito anos. Desde então o foco tem estado na apresentação de jogos, títulos de peso com capacidade para vender consolas, acordos ou parcerias entre editoras de jogos e fabricantes de consolas, serviços multimédia, funcionalidades sociais ou online e claro, nesse tão e mais importante ponto, os videojogos.
Gears of War, Mario Galaxy, Resistance, The Legend of Zelda: Twilight Princess, MotorStorm, Final Fantasy XIII, BioShock, Call of Duty: Modern Warfare, Wii Fit, Killzone 2, Forza 4 e uma lista infindável de jogos que poderia referir foram todos apresentados ou destacados na E3 ao longo dos anos e ajudaram a definir esta indústria. Tal como os jogos, os anúncios importantes passaram pelos preços ou datas de lançamento das consolas e pela apresentação de serviços.
No entanto, atualmente o panorama mudou e existe um foco nos serviços multimédia, na combinação e integração de serviços extra jogos nas consolas dedicadas assim como uma forte presença dos jogos indie e mobile. "Pequenos" elementos que podem deixar os mais ferrenhos e dedicados um pouco desnorteados, especialmente quando passaram os últimos anos a ver companhias a apresentar controlos de movimento, serviços de vídeo e TV, subscrições para serviços de oferta de conteúdos, e jogos sociais para telemóveis a conquistarem destaque (imaginem que voltavam no tempo e diziam ao vosso eu numa altura que desejarem que uma das melhores séries destes últimos anos, de seu nome Deus EX: Human Revolution, iria regressar em jogo para smartphone e tablets)!
Assim sendo, é completamente normal que os adeptos dos videojogos estejam reticentes mas encorajados, basta olhar para as mais recentes indicações das editoras, fabricantes e estúdios. Sem a momento algum esquecer os baldes de água fria dos anos mais recentes. Com a PlayStation 4 e Xbox One a apresentarem-se pela primeira vez aos jornalistas e público em formato jogável, com o acerto dos detalhes principais que ainda faltam (datas e preços) e a apresentação de jogos disponibilizados nos meses de lançamento, é fácil perceber porque é que estas duas "casas" tem os seus seguidores mais do que atentos.
A Nintendo por seu lado tem a Nintendo Wii U para promover, e mesmo a sua decisão de não levar a cabo uma conferência dedicada não parece prejudicial para os jogadores. A Nintendo pode estar a perder audiência casual em horário nobre na CNN, FOX News, NBC e outras, mas está a garantir que poupa nos custos e chega na mesma ao seu público dedicado com os seus Nintendo Direct, mas primeiro vamos por partes.
A danosa e desastrosa apresentação da Xbox One foi tudo menos acidental por parte da Microsoft. Foi o que consideraria um risco calculado para colocar a consola no centro das atenções. Há muito que a Xbox 360 vem sendo apregoada como centro multimédia e tal parece continuar. Quando uma fabricante de consolas apresenta a sua principal série em formato televisivo e não em videojogo, é normal que a confusão se instale nas mentes dos jogadores. Mas tudo parece ser parte do plano da Microsoft para conquistar um público mais abrangente porque aliar Steven Spielberg a Halo é fascinante, não o podem negar.
Provavelmente os jogadores ficaram a pensar, 'faz tudo menos oferecer jogos', apesar de Quantum Break e Forza 5 mostrarem um pouco do que pode ser feito na Xbox One. A Microsoft prepara-se agora para sacar de todas as cartas e apresentar os principais jogos do lançamento da Xbox One para o final do ano e a esperança é que a sua capacidade seja reconhecida e atestada.
A fuga de informações sobre Titanfall, exclusivo Microsoft, do estúdio responsável por Modern Warfare, e a insistente procura de novidades antes do evento que oferece as novidades, é um exemplo que denota bem o quão ansiosos e impacientes os consumidores desta indústria se tornaram. Quase ao ponto de quererem a notícia antes do facto noticiado ter sequer acontecido. Algo assim. Numa era em que existe uma procura para saber tudo previamente, torna-se mais complicado ser surpreendido ou do outro lado, surpreender.