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A Game Boy comemora 25 anos

A surpreendente portátil da Nintendo que conquistou o mundo.

É impossível regressarmos ao tempo das surpresas na indústria dos videojogos. Hoje, qualquer novo produto, antes de chegar ao mercado, é esmiuçado até ao limite. Nunca a cobertura sobre videojogos foi tão grande e massiva. Os produtores submetem-se ao desejo fervoroso dos fãs, fornecendo-lhes todas as indicações sobre o que podem contar. Temos toda a informação num instante e praticamente deixaram de existir surpresas. O que dizer então do tempo em que passávamos a palavra sobre a mais recente novidade? Ou quando descobríamos numa página de publicidade de um jornal, um passatempo numa revista ou detalhe sobre uma nova consola ou jogo?

No final dos anos oitenta, começo da década de 90, a indústria conhecia uma fase pujante, depois do "crash" causado pela Atari. A Nintendo emergiu como empresa dominante no sector, lançando jogos originais, inovadores e que viriam a lançar as sementes para o futuro. Numa época marcada pelas produções 8 bit as receitas foram astronómicas. Os Jogos vendiam milhões e nunca como naquele tempo se assistiu à entrada no mercado de inúmeras consolas. Apesar da grande concorrência, a Nintendo Entertainment System foi um sucesso à escala mundial, conquistando os japoneses, europeus e sobretudo os norte americanos, completamente rendidos aos jogos japoneses mas também às produções dos estúdios ocidentais que saltaram para a máquina.

Super Mario Land é um jogo significativamente das versões para a NES, que para muitos foi a primeira experiência na portátil da Nintendo. Um nível é jogado com Super Mario num avião, como num shooter,

Mas enquanto que jogar em casa, diante do televisor, era sinónimo de experiência partilhada, passível de ser contemplada mesmo por quem não jogava, jogar numa portátil era uma experiência substancialmente diferente. Jogo e máquina fundiam-se num só. Um mundo nas nossas mãos. Por isso começaram as máquinas de um jogo só, como as Game & Watch da Nintendo. Um pouco mais baratas que uma consola doméstica, baixo consumo energético e passíveis de serem transportadas para qualquer lado, sem necessidade de um televisor por perto para obter imagem. Mas por mais interessante que fosse a experiência, os jogos ficavam muito aquém das experiências domésticas.

Quando a Nintendo lançou a Nintendo Game Boy em Abril de 89 no Japão, algum tempo depois nos Estados Unidos e na Europa a 28 de Setembro de 1990, assistiu-se a uma revolução por completo nas portáteis, algo comparável ao impacto que os "smartphones" e "tablets" proporcionaram há uns anos em termos de experiência mobile. A Game Boy foi a primeira grande consola portátil, viria a modelar por completo a experiência em termos de jogo portátil, não sendo por isso uma surpresa o recorde unidades vendidas que conseguiu na altura, com mais de 100 milhões de consolas colocadas nas mãos de jogadores rendidos ao seu potencial.

Gunpei Yokoi foi o pai desta notável peça de hardware que veio agitar o mercado das portáteis. Após o seu lançamento, rapidamente proliferaram alternativas lançadas pelas diversas marcas em operação no mercado. Ecrãs maiores, superior resolução, cores, etc. A Game Boy parecia incapaz de resistir. Em bom rigor, as suas especificações eram modestas, mas o apelo era irresistível, o design arrebatava qualquer um, a ergonomia clamava pela colocação em mãos, o ecrã mostrava-nos gráficos precisos, nítidos e aquela inesquecível conjugação de botões, assim como o "lettering" da marca e sistema, clamavam por uma interacção imediata.

Recentemente, Hillary Clinton, candidata à presidência dos Estados Unidos, revelou uma imagem sua enquanto jogava Game Boy, numa deslocação de avião.

Apesar da forte concorrência a Game Boy conquistou o mundo. A máquina cabia perfeitamente nas mãos e as mãos ajustavam-se perfeitamente à sua forma rectangular e estreita. Regulávamos o jogo como queriamos e depois de colocadas quatro pilhas novas, ganhávamos horas e horas sem que aquela luz vermelha lateral, assinalada como luz de bateria, fosse perdendo o fulgor. Impressionava quando as pilhas se esgotavam e já perdíamos de vista o progresso conquistado em certos jogos ou a quantidade de vezes que completáramos o Tetris.

A versão Game Boy do jogo criado pelo russo Alexey Pajitnov vendeu, pasme-se, 35 milhões de unidades (quais os jogos que hoje atingem este número?). Para muitos este jogo foi a porta de entrada para a primeira experiência portátil e para muitos a primeira máquina da Nintendo. O esquema do jogo, a facilidade com que manobrávamos as peças e o grau de definição dos gráficos contribuíram para maximizar o jogo. Podendo parecer um jogo vulgar e simples, o conceito de Tetris escondia a receita que muitos produtores viriam a utilizar no futuro, quando se depararam com uma consola para a qual era relativamente simples programar.

O lançamento de Pokémon na Game Boy foi o equivalente ao lançamento de uma bomba atómica sobre as rivais.

Na chegada ao território europeu, a 28 de Setembro de 1990 havia pouco mais de meia dúzia de jogos editados. Super Mario Land (também criado por Gunpei Yokoi), Tennis, Golf e Alleyway, eram alguns dos nomes sonantes. Mas a rápida comercialização da plataforma, principalmente nos Estados Unidos, originou uma galopante entrada em cena de novos estúdios, de gente não só capaz de proezas ao nível do design, lançando jogos incríveis, praticamente equiparáveis às versões domésticas da NES, fruto de um aproveitamento exemplar do processador Sharp que equipava a consola, praticamente um Z80. Não levou muito até chegarem chegaram jogos como Super Metroid II: Return of Samus, Gargoyle's Quest, Castlevania II, Mega Man II entre muitos outros títulos que incrementaram a importância da consola, implacável perante qualquer concorrente e com isso acentuando a sua presença no mercado por mais alguns anos, até meados da década de 90, quando a Nintendo começou a lançar novas versões da Game Boy, melhorando as suas funcionalidades.

E embora a Game Boy fosse a primeira portátil a receber jogos multiplayer graças ao cabo de ligação para duas consolas, assim como o adaptador para quatro jogadores comercializado juntamente com o F1-Race, dando origem a partidas disputadas no Tetris (era mais difícil reunir quatro jogadores no F1-Race, todos com consola e cartucho, mas lembro-me de ter participado nalgumas sessões com esse jogo e de ter sido uma experiência incrível), a grande imagem que passou da consola e a experiência que marcou quem pôde jogar numa, naquela época, foi justamente o contacto individual, em qualquer sítio, desde que houvesse um candeeiro ou uma fonte de luz por perto.

Nos Estados Unidos os quiosques com consolas tornaram-se muito populares e fizeram parte da táctica da Nintendo para dar a conhecer aos americanos a sua portátil.

A Atary Lynx, a Game Gear e a PC Engine GT bem trouxeram retro iluminação e paletes coloridas que superavam o tom monocromático da consola da Nintendo, mas a Game Boy era a consola alvo de desejo, a máquina que tinha imensos jogos fascinantes, que desafiava constantemente e que recebia cada vez mais novas entradas. E foi um pouco mais tarde nos anos noventa, já na segunda metade, que chegaram jogos como The Legend of Zelda: Link's Awakening e Pokémon (Red, Blue, Green) que essencialmente serviram de estocada final sobre qualquer concorrente capaz de oferecer alguma resistência. Pokémon transformou-se numa fórmula de sucesso, dentro dos jogos de role play de acção, com mais de 32 milhões e meio de jogos vendidos e uma ligação permanente à portátil da Nintendo. As consolas rivais não tiveram qualquer chance e em pouco mais de dez anos, a Game Boy conhecia uma extensa lista de mais de 700 jogos produzidos.

Na década seguinte, o nome Game Boy persistiu, com uma nova portátil baptizada de Game Boy Advance e só viria a ser retirado do mercado com o lançamento da Nintendo DS, curiosamente a consola que superou a Game Boy em vendas, tornando-se na portátil mais vendida de sempre.

À distância de um quarto de século, a importância da primeira grande portátil da Nintendo e a influência que exerceu sobre as plataformas seguintes, persiste. A proliferação dos dispositivos accionados pelo toque não é mais do que uma ramificação com origem nessa primeira grande experiência portátil, de um quase objecto de culto, ligado às palmas da mão e aos dedos de ecrã pequeno mas tão ou mais mágico do que aquele ecrã generoso que víamos estacionado nas salas de nossas casas. A Game Boy foi uma surpresa, capaz de proezas que poucos imaginavam e assim conquistou o mundo.

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