A Microsoft na E3 - Um olhar para o passado
Tentando adivinhar o futuro.
Estamos a sensivelmente a uma semana da E3 2015 e antes mesmo do evento começar, as principais companhias desta indústria vão apresentar as principais novidades para o resto do ano. Tradicionalmente é a Microsoft que dá início aos procedimentos e resolvemos então começar por olhar primeiro para o que a gigante Norte Americana poderá ter para oferecer aos seus fãs. Mas antes mesmo de olhar para o futuro, decidimos olhar para o passado e rever os principais momentos da Microsoft nas suas conferências E3 ao longo dos anos. Grandes momentos foram presenciados em Los Angeles e a marca Xbox foi crescendo a olhos vistos até se tornar referência para toda uma dedicada comunidade de jogadores.
E3 2001 - Apresentação da Xbox original:
Anunciada na GDC 2000 por Bill Gates e mais tarde apresentada no CES em Las Vegas, por Bill Gates e The Rock (Dwayne Johnson), a E3 2001 foi a primeira da marca Xbox e foi aqui que ficamos a saber o preço e data de lançamento. Há muito que o evento é visto como um palco adequado para este tipo de informações e apesar de não ter sido a estreia de Halo: Combat Evolved, o mesmo voltou a surpreender no evento quando acompanhou a chuva de informações Xbox.
Oddworld: Munch's Oddysee, Enclave, Jet Set Radio Future, Amped: Freestyle Snowboarding, Mad Dash, Project Gotham Racing, Project Ego, Medal of Honor: Allied Assault, Dead or Alive 3 e Gunvalkyrie juntaram-se ao título da Bungie como os grandes destaques da companhia para o lançamento da primeira Xbox e mostram bem porque decidimos começar por 2001 para a Microsoft. Previamente a companhia não havia assumido uma posição tão importante: estava a entrar no mercado das consolas de onde a SEGA estava a sair para deixar a Nintendo e Sony a lutarem entre si.
E3 2002 - Apresentação do Xbox Live:
Saiu a SEGA e entrou a Microsoft. A companhia de Bill Gates estava empenhada em criar os alicerces firmes que o seu produto exigia e assim o procurou fazer. Blinx: The Time Sweeper, Tom Clancy's Splinter Cell, Dead to Rights, Unreal Championship, Panzer Dragoon Orta e Ninja Gaiden foram alguns dos sensacionais títulos anunciados naquele ano e a agora tradição de combinar anúncios de jogos com anúncios de serviços ou produtos começava a conquistar terreno.
Isto porque foi na E3 2002 que a Microsoft apresentou ao mundo o Xbox Live. Além de procurar oferecer jogos exclusivos que mais nenhuma outra plataforma tinha, a Xbox também convidou os jogadores PC para a sala de estar e colocou neste novo serviço uma parte altamente importante da sua estratégia: a vertente online.
Depois da assistência à SEGA com a Dreamcast, a Microsoft fez tudo para a Xbox triunfar onde a Dreamcast falhou. Foi uma das principais filosofias no desenho da plataforma e como sabemos agora, o serviço revolucionou a forma como consumimos os nossos produtos e nada mais foi igual. A ideia de jogarmos contra outros jogadores, jogar ao lado deles (mesmo tão distantes), de comparar pontuações. A Microsoft deu vários passos no sentido certo em 2002.
E3 2003 - Halo 2:
A Microsoft havia estabelecido as fundações da Xbox nos dois anos anteriores e neste ano foi a vez de Halo 2 se destacar. Aqui a Microsoft continuava a sua filosofia para a sua primeira consola. Por um lado dava-nos a primeira sequela de um espectacular título de lançamento, estabelecendo a sua primeira série de videojogos para uma consola, e por outro voltava a dar ao mundo mais um poderoso jogo online que iria viciar jogadores de todo o mundo. Os videojogos deixaram de ser um produto unicamente a solo cujas impressões eram trocadas na escola com amigos ou quando eles vinham cá a casa, agora havia interacção online.
KOTOR e Fable foram dois dos principais trunfos da Microsoft para a Xbox. Continuando a tradição de produtos exclusivos ausentes de outras plataformas (mesmo do PC em alguns casos) e com foco na criação de uma comunidade, a Microsoft criou com a ajuda de outras companhias e estúdios duas séries que ficaram para sempre na memória de quem entrou em contacto com elas.
É inegável que em apenas três anos a Microsoft já havia estabelecido nomes de respeito.
E3 2004 - Xbox Live Arcade:
Call of Duty: Finest Hour, Forza Motorsport, Half Life 2, KOTOR 2, Prince of Persia 2, Splinter Cell 3 e Unreal Championship 2. Foram estes os grandes jogos que a Microsoft promoveu em 2004. Todos eles são espectaculares títulos que provavelmente deram grandes recordações a todos vocês. Exclusivos, sequelas, títulos desenvolvidos com acordos com outras editoras, exclusivos temporários e jogos com forte componente online, a Microsoft estava a usar todas as táticas e todos os argumentos possíveis para tornar a sua consola cada vez mais sólida para o mercado Europeu e Norte Americano.
No entanto, e por mais incrível que possa parecer, com tantos nomes imponentes, a estrela do ano para a Microsoft não foi nenhum deles. Foi o Xbox Live Arcade. Mais uma vez a Microsoft dava um gigantesco passo em direção ao futuro e deixava a Nintendo e a Sony para trás graças à sua postura diferente, focada em avanços que rompiam com as tradições.
A Microsoft introduziu o conceito de jogos vendidos em formato digital, que podiam ser comprados sem sair de casa e apresentou o modelo de forma apelativa às massas. Agora é um conceito banal e até os principais AAA são lançados com direito a versão digital no primeiro ano. Na altura o conceito passava por produtos exclusivos, de menor porte mas também muito mais baratos.
E3 2005 - A Xbox 360:
Numa altura em que a E3 começava a assumir contornos mediáticos sem precedentes (cobertura televisiva ou via internet para todo o mundo em directo) a Microsoft preparou a apresentação da Xbox 360 à imprensa especializada e divulgou todos os principais detalhes. A integração ainda maior do Xbox Live na plataforma e na forma como eram desenhados os jogos foi também outro dos destaques aos quais a companhia dedicou tempo e atenção.
Gears of War, Half Life 2, Kameo, King Kong e Perfect Dark Zero foram alguns dos destaques e podemos constatar que a Microsoft adequada a sua postura aos novos tempos: foram apresentadas várias novas propriedades intelectuais exclusivas de peso e foram anunciados acordos com estúdios e editoras externas.
E3 2006 - Gears of War:
A Xbox 360 tinha meros meses de vida quando regressou à E3 e em 2006 foi mesmo Gears of War que tomou conta da indústria. Série da Epic Games que viria a ser uma das maiores faces das consolas Microsoft, partilhou as atenções com uma outra série que nasceu de uma relação íntima com a Microsoft: BioShock.
Bioshock, Brothers in Arms, Fable 2, Forza 2, Gears of War, Grand Theft Auto IV, Mass Effect e Shadowrun foram alguns dos estrondosos momentos daquele ano e actualmente conhecemos bem o impacto que tiveram no sucesso da consola naquele ano. A Microsoft assegurou diversos exclusivos de alta importância e mostrava novamente uma forte relação com os estúdios externos.
E3 2007 - Um dos melhores anos da marca Xbox:
Bioshock, Call of Duty 4: Modern Warfare, Fallout 3, Halo 3, Halo Wars, Lost Odyssey, Mass Effect, Resident Evil 5 e Rock Band foram os principais destaques da Microsoft para o evento daquele ano. Apesar do Xbox Live Arcade ter sido alvo de grande foco, foi o crescente sucesso e lucro gerado pela marca Xbox que deixou a Microsoft simplesmente sorridente e numa posição confortável.
No ano em que a febre Call of Duty se instalou, a Bungie ajudou a Microsoft a vender milhões de consolas com o terceiro jogo Halo e Halo Wars também ajudou o universo a se expandir. A Microsoft mostrava novamente que havia estabelecido fortes ligações com estúdios de todo o mundo (assegurando um segundo exclusivo de Hironobu Sakaguchi) e deslumbrava todos com Mass Effect.
E3 2008 - Final Fantasy XIII:
Numa fase em que a E3 havia passado para um formato mais pequeno, longe do espectáculo mediático em que se havia tornado, as fabricantes de consolas e editoras externas iam mostrando os frutos das suas parcerias. Gears of War 2, Fable 2, Fallout 3, Modern Warfare 2, Portal: Still Alive e Resident Evil 5 partilharam o palco da conferência Microsoft na E3 2008.
Gears of War 2 e Fable 2 eram os jogos apoiados pelos Microsoft Game Studios enquanto Modern Warfare 2 mostrava uma parceria singular entre a Microsoft e a Activision, que dura até aos dias de hoje. No entanto, foi mesmo Final Fantasy XIII que se tornou no centro das atenções. A série da Square Enix era considerada como exclusiva Sony e impensável na altura que fosse lançada numa consola não Japonesa. A parceria com a Square Enix ditou que o jogo seria lançado na Xbox 360 e desde esse ano que a Sony e a Microsoft têm partilhado a grande maioria dos jogos Final Fantasy.
E3 2009 - Project Natal:
Hideo Kojima, Paul McCartney, Ringo Starr, Tony Hawk, Yoshinori Kitase, Cliff Bleszinski e Steven Spielberg. Todos estes grandes nomes passaram pela conferência da Microsoft e todos eles com grandes anúncios que reflectiram a postura da companhia numa altura em que a Xbox 360 estava a caminho do seu quarto aniversário. Alan Wake, Assassin's Creed 2, Crackdown 2, Forza Motorsport 3, Halo: ODST, Halo: Reach , Left 4 Dead 2, Mass Effect 2, Metal Gear Solid Rising, Shadow Complex e Splinter Cell: Conviction foram os principais jogos no evento.
É muito bom jogo para um ano só mas ainda assim o destaque foi para o Project Natal e para a demo Milo. Numa fase da indústria em que os controlos por movimento se tornaram na sensação, patrocinado pelo sucesso da Nintendo Wii, a Microsoft decidiu apresentar a sua visão para esse sector. Mais tarde, Project Natal tornou-se no Kinect e todos sabemos o que lhe aconteceu (enorme campanha de marketing e um fraco apoio dos estúdios) mas naquele ano uma grande parte dos jogadores sonharam com as possíveis experiências que poderiam vir a acontecer.
E3 2010 - O Kinect:
Call of Duty: Black Ops, Crysis 2, Dance Central, Dead Space 2, Fable 3, Halo: Reach, Metal Gear Solid Rising e Mortal Kombat foram alguns dos jogos aos quais a Microsoft prestou o mais do que merecido apoio na sua conferência. Numa altura em que a Microsoft havia cimentado a sua posição e estava confortável para falar da Xbox 360, a parceria com editoras e estúdios externos dava origem a anos de grandes colheitas.
Focada na apresentação de sequelas em séries de renome capazes de vender consolas e cativar jogadores, a Microsoft aproveitou o evento de 2010 para dar a conhecer o Kinect e os jogos de lançamento. Agora sabemos o que aconteceu ao Kinect e como se tornou num dispendioso acessório para o qual não são feito jogos mas ainda assim, foi a forma que a Microsoft encontrou para "atacar" os casuais.
E3 2011 - As sequelas anuais e as parcerias:
O ano de 2011 foi um pouco ingrato para os jogadores. Isto porque muitos já estavam a pensar quando a Microsoft iria anunciar a sucessora da Xbox 360, na altura já a caminho dos 6 anos de idade, e as sequelas anuais não iam obtendo a mesma reação dos jogos nas mesmas em anos anteriores. Por outro lado, o efeito Kinect não se estava a materializar como previsto e o equipamento estava a ser ignorado pelos jogadores dedicados.
Dance Central 2, Halo 4, Forza 4, Gears of War 3, Mass Effect 3, Modern Warfare 3 e Tomb Raider foram dos momentos mais espectaculares que foram promovidos pela companhia Norte Americana. Olhando para estes nomes, constatamos que praticamente todos ostentam um número à frente do nome e o ritmo de sequelas anuais ia sendo assegurado. Por outro lado, o reboot de Tomb Raider surpreendia os jogadores de todo o mundo e a Microsoft mostrava todo o seu apoio ao jogo.
E3 2012 - O foco no entretenimento multimédia na Xbox:
Xbox: Entertainment Evolved. Foi este o lema da conferência da Microsoft naquele ano e provavelmente foi dos anos mais fracos para a companhia de Bill Gates. Call of Duty: Black Ops 2, Dance Central 3, Forza Horizons, Halo 4, Splinter Cell: Blacklist, Tomb Raider e Watch Dogs são nomes que temos que respeitar mas ainda assim, somente dois se referem a propriedades intelectuais verdadeiramente inéditas e focadas na oferta de experiências diferentes. Mesmo com moldes familiares.
A integração com a televisão e as funcionalidades multimédia da Xbox 360 foram dos principais focos de uma conferência que teve ainda em Black Ops 2 e Resident Evil 6 dois dos pontos mais altos. Depois da grande confiança demonstrada nos anos anteriores, a Microsoft parecia estar simplesmente a marcar calendário e a promover os últimos fôlegos de uma plataforma que se aproximava dos seus 7 anos de vida.
E3 2013 - A Mais Controversa Conferência da E3:
Foi finalmente em 2013 que a Microsoft apresentou a Xbox One, a sucessora da Xbox 360 que seria lançada em Novembro com um preço de €499 mas apenas num número muito reduzido de países. Apesar da apresentação de títulos fantásticos como Halo for Xbox One Titanfall, Killer Instinct, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, Project Spark, Dead Rising 3 e Below, grande parte deles exclusivos da Xbox One, os focos dos jogadores ficaram concentrados nas políticas e filosofias da companhia para a nova consola.
Foi um dos piores anos para qualquer jornalista da indústria, um dos piores anos para qualquer adepto da marca Xbox e para qualquer um que tenha este meio de entretenimento como o seu favorito. Uma visão arrojada, arriscada que quebrava com vários conceitos estabelecidos na indústria (o fim dos jogos usados, a obrigatoriedade da consola estar constantemente ligada à internet, DRM, entre outras) deixaram perplexos os jogadores que ficaram com receios e alguma confusão sobre a visão da Microsoft.
A consola era vista como cara, a presença do Kinect não era compreendida, e todas as restrições e limitações pareciam querer amarrar os jogadores às vontades de uma companhia. Os jogadores sentiram que não estavam a ser respeitados, que não estavam a ser acarinhados pela companhia que tanto lhes havia dado nos anos anteriores. Ainda assim, Ryse, Killer Instinct e Sunset Overdrive foram momentos estrondosos.
No entanto, para a história ficou a palavra "TV", "Live", e provavelmente "Sports". "Games" é que não.
E3 2014 - Voltou o foco aos jogos:
No ano passado a Microsoft deu a volta e focou-se unicamente nos videojogos. Sunset Overdrive, Crackdown, Killer Instinct 2, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, Battlefield Hardline, Call of Duty: Advanced Warfare, Halo Master Chief Collection, Forza Horizon 2, Ori and the Blind Forest, Scalebound e Rise of the Tomb Raider mostraram a Microsoft de outrora a procurar oferecer aquela postura que tanto adoramos ao longo dos anos.
Parcerias com estúdios externos para financiar exclusivos, como Scalebound do Platinum Games, Advanced Warfare e Hardline a mostrar as equipas mais populares do género mais popular a funcionar na nova consola Xbox One e ainda exclusivos temporários como Rise of the Tomb Raider a mostrar que a Microsoft ainda sabe caminhar nesta indústria.
Sunset Overdrive é dos mais divertidos jogos que podem encontrar nesta geração, Crackdown é adorado pela comunidade Xbox mas ainda não foi lançado, Forza Horizon 2 é um portento apesar de ter sido lançado na Xbox 360 e Ori é um lançamento digital que cativou a imaginação dos jogadores de todo o mundo.
A Microsoft voltou aos videojogos.
E3 2015 - Continuamos focados nos jogos:
Para esta E3 2015, que começa daqui a menos de uma semana, a Microsoft deverá continuar com a postura que lhe valeu tantos aplausos ao longo dos anos de ouro da era Xbox 360. Além do anúncio de produtos exclusivos que podem apenas encontrar na Xbox One, a companhia deverá dar-nos os mais recentes frutos da sua arte de lidar com as outras editoras. Black Ops 3 deverá ser uma presença mais do que certa, Rise of the Tomb Raider está garantido e Scalebound terá que aparecer.
Fica o desejo do Insomniac Games apresentar algo novo após o sensacional Sunset Overdrive, Halo 5 deverá ser um dos grandes momentos, tal como Forza 6, e será mais do que bem-vindo um carinho especial para o estúdio Rare. Adicionalmente, a Microsoft deverá continuar a promover os seus esforços para a sua loja digital e ainda os habituais avanços nos serviços à disposição.
A integração do Windows 10 e a interacção com outros dispositivos terá o seu espaço mas a companhia vai a todo o custo procurar evitar os momentos de embaraço de outros anos. Acreditamos que tudo se vai focar nos videojogos e na visão da Microsoft para a Xbox One no resto de 2015 e início de 2016. A companhia é criticada por comprar exclusivos e não os desenvolver internamente mas a verdade é que essa arma lhe tem dados imensos frutos.
A Microsoft já não está na posição de liderança que lhe permitia destilar confiança mas poderá na mesma continuar a seguir como uma companhia com um produto de grande qualidade que mesmo com todos os seus defeitos não se esquece da dura lição de 2013: tudo se resume aos videojogos.