A New Beginning
Quanto tempo terá o planeta?
É exatamente com Bent, o nosso primeiro protagonista, que o jogo começa. Exilado no refúgio de sua casa numa zona montanhosa algures na Noruega, Bent está longe do típico protagonista que costumamos controlar num videojogo. Com um ar sóbrio, ressentido, e principalmente só, Bent tinha já desistido de se preocupar com os hábitos da humanidade, como se o destino do planeta estivesse dependente das suas ações. Isto claro, até receber uma visita no mínimo inesperada, a viajante do tempo e segunda protagonista do jogo, Fay.
Num primeiro momento Bent revela-se surpreendido com a visita de Fay, e resiste em ouvir as motivações da viajante do tempo em procurar os seus serviços, pedindo apenas que o deixe em paz. O jogo introduz imediatamente uns puzzles simples, onde Fay ajuda Bent a consertar uma máquina que serve para secar a madeira das árvores para que Bent tenha lenha para se aquecer. Logo nestes primeiros cenários passados na época atual, existem alguns detalhes curiosos que pretendem demonstrar o descuido da humanidade para com o ambiente, um claro exemplo é o lixo na costa do mar junto da casa de Bent.
Fay convence Bent a ouvir a sua história, começando por lhe mostrar uma fotografia da equipa de viajantes do tempo, enquanto conta todos os pormenores de como um primeiro salto atrás no tempo para o ano de 2050 falhou, e Bent é agora a única esperança da viajante, e mesmo da humanidade. Ao viajar até ao ano de 2050 Fay encontrará as ruínas que costumava ser a cidade de San Francisco, os cálculos da equipa de viajantes do tempo estavam errados, e 2050 era já tarde demais. Ao perceber que nada havia a fazer naquela altura, Fay é forçada a preparar um salto para uma época ainda mais antecedente, exatamente o tempo atual onde encontra Bent. Estas memórias da viajante do tempo são jogáveis, e contam os acontecimentos de uma forma retrospetiva enquanto ela vai conversando com Bent. A estrutura narrativa é muito interessante e curiosa neste início de jogo, porque apesar de estarmos a jogar as memórias passadas de Fay, estamos a jogar 50 anos no futuro, enquanto convencemos Bent que vimos originalmente do ano de 2500, e nos encontramos ao mesmo tempo sentados em casa de Bent no presente.
Eventualmente a linha narrativa da aventura estabiliza no presente atual, com Bent e Fay concentrados em mudar os acontecimentos futuros. Bent retoma a sua pesquisa com algas, juntando-se ao seu filho Duve, e à sua antiga equipa de investigação, que nunca desistira de trabalhar na pesquisa do mentor. Como qualquer jogo deste género, a aventura resume-se a uma série de puzzles, uns envolvendo mais lógica do que outros. Uma coisa é certa, preparem-se para o apelo desesperado pela procura de um guia online para resolver alguns dos puzzles. Ou se calhar sou eu que já não tenho a mesma paciência de outros tempos em testar todos os objetos, em todos os sítios possíveis, à procura da opção certa.
Um dos pontos fortes neste género de aventuras, muito devido à simplicidade das mecânicas e ao foco na narrativa, é a possibilidade de construção de verdadeiras personagens multi-dimensionais, cujas personalidades se vão desenvolvendo ao longo da aventura. Infelizmente em A New Beginning, apesar de muitas personagens se revelarem bastante interessantes, e proporcionarem alguns momentos cómicos, os diálogos estão longe de se adequarem à qualidade da história. Em particular as vozes mereciam um cuidado maior, sempre algo robóticas e vazias, mesmo os protagonistas parecem privados de qualquer emoção, mantendo sempre o mesmo tom independentemente do tipo de interação. A versão original do jogo é em Alemão, e talvez este facto explique algumas falhas na representação e na tradução das legendas, ainda assim, para que uma aventura gráfica seja capaz de imergir o jogador na aventura, precisa de maior qualidade e fiabilidade na representação, sob pena de quebrar a experiência por completo.
Outro aspeto negativo e que sinceramente até é algo estranho nos dias de hoje, é o facto de o jogo apenas permitir a resolução num rácio de 4:3, sem suporte para qualquer tipo de widescreen. Assim, somos forçados a jogar com duas barras negras de cada lado do ecrã, nada de muito grave, mas a beleza dos cenários seria bem mais agradável de pudesse ser apreciada na plenitude de um monitor de 24 polegadas wide.
De uma forma geral A New Beginning é um bom jogo que agradará aos fãs de jogos de aventura “old school”. Tal como a maioria dos títulos do género é para ser jogado apenas uma vez, e de uma forma algo linear ao longo dos oito capítulos da aventura. Gostei do sistema de ajuda que revela a localização dos pontos de interesse nos cenários, não por tornar o jogo mais fácil, mas porque possibilita que passemos mais tempo a resolver os puzzles, do que a procurar os puzzles, se é que me entendem. A grande maioria dos problemas que o jogo coloca envolve de facto alguma lógica, e pode ser resolvido sem o recurso a medidas desesperadas (do género de utilizar uma vassoura para tentar abrir uma fechadura). A New Beginning não tem o brilho por exemplo dos primeiros Broken Sword, mas prova que os jogos de aventura ainda proporcionam experiências interativas de qualidade, principalmente quando alicerçados em narrativas inteligentes, com as quais nos consigamos relacionar.