A Nintendo Switch é uma fantástica peça tecnológica - primeiras impressões
Mas a Nintendo terá que gerir cautelosamente a sua colocação no mercado.
Ontem, pelas onze horas da manhã, depois de uma madrugada com sono interrompido cerca das 3:57 para assistir à apresentação da Nintendo Switch, a partir do Japão, estava de mãos coladas à nova consola da Nintendo. A Switch é um pedaço de tecnologia ímpar; aqueles joy cons que podem ser facilmente descolados das laterais do ecrã, funcionando como comandos autónomos para dois jogadores ou quando ligados à máquina para uma experiência individual mais tradicional, são uma parte da experiência híbrida proporcionada pela Nintendo que a torna diferente das demais. A vocação portátil da consola é isto, poder transportá-la para qualquer sítio e continuar lá a jogar, sem televisores ou barreiras. Chegando a casa e pousando a consola na estação de carga ligada à TV por cabo de alta definição, facilmente continuamos a jogar (enquanto a consola carrega - necessita de 3 horas para um carregamento a 100%) diante do grande ecrã, na forma mais tradicional.
As transições são suaves, rápidas e cómodas. Não basta ver para crer. Tocar e experimentar faz toda a diferença. Foi isso que senti e pude testemunhar quando experimentei o primeiro jogo na Switch; no fundo aquele que mais aguardo, da lista inicial e que é, naturalmente, o maior jogo que irá estar disponível com a consola quando esta chegar ao mercado a 3 de Março: The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Aliás, o jogo ocupava o maior espaço no recinto construído pela Nintendo, no interior do Eventim Apollo, uma casa de espectáculos no centro de Londres. Não é para menos a ressonância em torno de um novo Zelda. Há muito que esta aventura é aguardada. Daí que, com aquele entusiasmo galopante, tenha sido a minha primeira escolha para pela primeira vez jogar na Switch.
Comecei por jogar no formato tradicional diante do televisor. A partir do comando sem fios que é composto pelos dois Joy Con ligados ao grip, depressa as minhas mãos se adaptaram à nova peça. É um comando talvez um pouco mais pequeno que o habitual (se estivermos habituados ao GamePad da Wii U, torna-se perceptível a dimensão mais reduzida), no entanto, o acesso a todos os botões é imediato, especialmente ao muito pequeno e quase imperceptível d-pad colocado na parte superior de um dos joy con, que em Breath of the Wild nos deixa escolher os itens e mudar de arma. Até aqui tudo normal.
Mas assim que descolamos os comandos do grip e os assentamos na lateral da consola, que se encontra na estação de carga e ligação à TV, rapidamente a deslocamos para fora, puxando-a para cima numa transição rápida, quase natural, como um "transformer" que de repente ganha um ecrã ao meio. Após uma breve selecção de opções temos o jogo a continuar no ecrã do que se assemelha a um "tablet" quando sem aqueles Joy Con que parecem ganhar vida própria, adaptando-se bem às palmas das mãos, proporcionando bom tacto e um certo conforto, apesar da sua extrema ergonomia. Em modo portátil, Breath of the Wild corre numa resolução de 720p, embora permaneça a 60 fps, diz-nos a Nintendo. É verdade que com um ecrã de reduzidas dimensões, a limitação na resolução, por contrapartida com os 1080p do televisor, não é tão perceptível a diferença. Neste caso, é o consumo de bateria que tende a encurtar a experiência no modo portátil.
A Nintendo refere que a bateria da consola oscila entre 2 horas e meia e as 6 horas, dependendo dos jogos. Zelda é um dos que mais consome, uma vez que requer mais processamento de imagem, mas poderão ainda assim conseguir aproximadamente 3 horas de jogo. Não é o cenário perfeito quando comparado com um Zelda numa 3DS, embora seja a primeira vez que a Nintendo põe jogos em modo portátil que antes só corriam numa televisão.
Curiosamente, um dos jogos que mais me impressionou e me deixou rendido em formato mobile foi Mario Kart 8 Deluxe. O primeiro contacto que tive com o jogo foi numa mesa redonda, composta por 8 consolas com os joy con instalados nas laterais da Switch, sendo que todas estavam ligadas entre si por via wireless, como uma lan party. O resultado é estrondoso. Mesmo a 720p, os 60 fps garantem uma fluidez incrível e todo o colorido que temos na TV quando ligamos a consola permanece em formato portátil. A Nintendo não revelou quanto tempo é possível jogar Mario Kart 8 Deluxe naquele formato mas também não deverá ser muito diferente do que acontece com Zelda.
Sobretudo impressionou-me a sensação de conforto. Uma experiência mais tradicional, com os comandos, com a leveza de um tablet e a ergonomia facultada pelos Joy Con. É algo na linha do que acontece quando jogamos com o GamePad da Wii U, mas com um ecrã maior, mais luminoso e com melhor reconhecimento ao toque. A consola é mais elegante e fina, com melhores acabamentos, não tão plástica, o que lhe dá alguma estrutura mas não a torna pesada para jogar por longos períodos. Torna-se muito confortável jogar neste formato e claramente Mario kart 8 foi uma das minhas experiências favoritas. Tive ainda a oportunidade de jogar no modo batalha, através do modo giroscópio, encontrando-se a consola estacionada na dock. A sensação é na linha dos comandos por movimentos, uma vez que os Joy Con são uma evolução dos comandos da Wii e do GamePad.
São incrivelmente pequenos e leves mas não demasiado. Os nossos dedos chegam bem aos botões, eles cabem na palma e podem ser usdos e manobrados através de diferentes formas. É um pedaço de tecnologia incrível que a Nintendo consegue. Eles são capazes de detectar com mais precisão os movimentos, algo que é bem visível no jogo 1 2 Switch. Estão cheios de botões, alguns nas costas, um analógico e até uns botões mais pequenos, como que a clamar pelo toque. No 1 2 Switch podem ser usados como se fossem uma pistola ou como uma "teta" de uma vaca para tirar leite (produz uma situação insólita e hilariante) e até como uma caixa de madeira com bolas no interior, o que demonstra bem a precisão dos acessórios. No jogo Arms transformam-se como que em mãos do nosso herói, num combate baseado na terceira pessoa, algo complexo à primeira, mas com suficiente profundidade, bem para lá dos jogos de movimentos verificados na Wii como aqueles que figuravam em Wii Sports, claramente mais simplificados.
A sua versatilidade, e talvez o "selling point" da Switch, reside na possibilidade de colocarmos o ecrã sobre uma superfície (suponhamos uma mesa de um café). Nós ficamos com um Joy Con e outra pessoa segura o outro. Ambos podemos competir ou participar em jogos cooperativos. Desafiar o adversário em Mario Kart ou participar num confronto de Bomberman. Os resultados são diversos, consoante os jogos (Arms, por exemplo, não pode ser jogado em formato portátil), mas isto poderá exercer um efeito de persuasão sobre a pessoa que experimenta pela primeira vez e fica com vontade de querer jogar mais. Poderá dar-se aqui um efeito algo similar aquele que aconteceu quando a Nintendo introduziu o sistema de comandos por movimentos. Com a Nintendo Switch, a companhia volta a experimentar algumas ideias anteriormente apresentadas, como os comandos por movimentos, aperfeiçoando e refinando os sistemas, ao mesmo tempo que unifica e cria uma ponte entre o formato portátil e doméstico. Muitas ideias foram apresentadas em anteriores aparelhos, mas agora a Nintendo dá o sinal de que esse é o momento, ao mesmo tempo que consegue acrescentar um novo nível de competição em formato portátil.
Se na 3DS Mario Kart 7 é talvez o maior jogo dessa vertente competitiva, a Switch terá em Splatoon 2 a transição do formato doméstico de um shooter colorido, vibrante e com um bom design, para as lan party, nas quais até 8 jogadores podem competir entre si, à semelhança de Mario Kart 8. Splatoon 2 foi outro dos jogos que experimentamos. Apesar das novas armas e dos níveis, ficou a sensação de uma certa continuidade, como se fosse mais uma evolução dos conteúdos novos do que uma nova engrenagem na série, embora tenhamos mais opções e habilidades. Como aconteceu com a demonstração de Mario Kart 8, que não mostrou as novas pistas que integram a versão Deluxe, também em Splatoon 2 ficamos cingidos a um par de áreas e novas armas.
Pese embora a grande dimensão dos jogos "first party" da Nintendo, comandados pelo novo Zelda, relativamente às "third party" sentiu-se alguma escassez de opções. Entre os inevitáveis Just Dance e Skylanders, espaço para uma versão melhorada de Neo Fast Racing, Bomberman, Ultra Street Fighter II: The Final Challengers (uma edição criada com gráficos da Udon) e Sonic Mania. Existe aqui espaço suficiente para uma onda nostálgica e quase retro que assenta particularmente bem no ecrã da Switch (é sempre bom ver um novo Sonic), mas depois de tanto tempo e quase um ano depois do último grande Natal da Wii U, fica a sensação de projectos que ainda estão por acabar. Ter mais jogos "third party" nesta altura seria uma certeza para o dia 3 de Março. Isto poderá ser um sinal de que o dia um da nova consola da Nintendo será sobretudo o dia de Zelda. Não só, mas configura-se cada vez mais, pelo seu tamanho e acrescento de novidades, com maior peso entre a oferta disponível.
A ausência de Mario Odyssey (previsto para o final do ano), assim como de Mario Kart 8 e Splatoon 2, é significativa e deixa a Switch por conta das novidades exclusivas da consola como Arms e 1 2 Switch, talvez os jogos com maior ressonância nesta fase. A Nintendo pretende chegar às diferentes audiências, com uma oferta diversificada e orientada para diferentes públicos. Resta saber se os jogos previstos para o primeiro dia serão suficientes para lançar a nova consola neste novo desafio. A incerteza do preço na Europa cria algumas incógnitas entre os potenciais utilizadores. Mais uma vez, a Nintendo volta a apontar para os retalhistas como sendo eles a determinar o preço. Os primeiros retalhistas a revelarem apontam para os 329 euros para a consola, sem jogo. Por outro lado paira ainda a indefinição relativamente ao preço para uma subscrição online, sendo que a Nintendo ainda não revelou detalhes.
Os próximos tempos serão importantes no sentido da Nintendo "tranquilizar" os fãs e dar garantias de que haverá jogos e produções "third party", de um modo mais visível. É certo que a folha de lançamentos previstos para o ano é significativa e no dia de lançamento, contar com um jogo com a dimensão de um Breath of the Wild, torna a compra mais apetecível. O conceito da Switch é fenomenal, tem um magnífico "selling point" - poder jogar em todo o lado os jogos que actualmente estavam confinados ao televisor -, apresenta uns magníficos Joy Con, mas será essencial incrementar a oferta e mostrar mais produções "third party", na medida em que será muito pelas editoras exteriores à Nintendo e mesmo às produtoras independentes, que passará o sucesso desta magnífica consola que a Nintendo está a mostrar.