A última recompensa da virtude
Como o PlayStaion Plus pode estar a salvar a Vita.
Como qualquer outra plataforma dedicada aos videojogos, a PlayStation Vita precisa de jogos para sobreviver, especialmente bons jogos que destaquem o seu apelo único. Pouco mais de um ano desde o lançamento na Europa, a Vita está atualmente a tentar imprimir um bom ritmo de lançamentos e a Sony parece firme na sua demanda para expulsar da mente dos jogadores aquele pensamento que 'H4Z N0 G4M3Z' que tanto se vai apregoando. Depois de no final do ano ter tentado a sua sorte com séries de renome como Call of Duty ou Assassin's Creed, com produtos específicos, a Vita foi igualmente brindada com jogos que tentavam apelar a outro tipo de público.
New Little King's Story, Zero Escape: Virtue's Last Reward, Dokuro e até Sine Mora tentaram no final de 2012 imprimir uma personalidade mais variada e rica ao catálogo de jogos da mais recente portátil da Sony. Combinados com séries como FIFA, Need for Speed, LittleBigPlanet ou PlayStation All-Stars Battle Royale (a promover a conectividade com a PlayStation 3 de bela forma), não podemos dizer que a companhia teve adormecida em relação à PlayStation Vita.
Em 2013 o mesmo empenho parece continuar e se por um lado temos a Vita repleta de conversões caseiras, por outro lado temos produtos originais e uma tentativa clara de diversificar o seu catálogo. Tivemos a chegada de Persona 4: Golden, Ninja Gaiden Sigma Plus 2, Dead or Alive 5 Plus, Atelier Totori Plus, Ragnarok Odyssey, Earth Defense Force 2017 Portable ou Sumioni: Demon Arts que tentam preencher o arranque do ano enquanto preparam o caminho para Soul Sacrifice e os já aguardados Muramasa, Killzone ou Tearaway que chegam mais no final do ano.
Então depois desta introdução quase digna de um panfleto promocional, a questão que fica é: 'Então porque raios não pego na minha PlayStation Vita desde Novembro?', quando joguei Assassin's Creed: Liberation, caso estejam a perguntar. Com bem menos tempo do que gostaria e com as plataformas iOS a providenciar experiências mais imediatas 'on the go' (isto hoje é só expressões à la chique) facilmente fui ficando com pouco tempo para a Vita, e mergulhado nas experiências caseiras o foco simplesmente não surgiu.
Eis então que chega a hora do PlayStation Plus salvar o dia e potencialmente tornar-se no melhor amigo de quem compra uma PlayStation Vita. Quando em Fevereiro me tornei membro do serviço, reparei que a Sony não estava a ser tão ativa nos descontos adicionais para jogos Vita, nem sequer ativa nas promoções de jogos para a consola, mas o que estava a ser era generosa na oferta de jogos e depois de produtos como Uncharted: O Abismo Dourado, Gravity Rush, Lumines: Electronic Symphony, WipEout 2048, Jet Set Radio e Metal Gear Solid: HD Collection, eis que a Sony me brindou com uma oferta que fez com que a Vita se tornasse novamente senhora dos meus fins de semana: Virtue's Last Reward.
Virtue's Last Reward é um jogo que pode ser descrito como uma combinação de novela gráfica com jogo de aventura no qual o jogador é transportado para um mundo sem igual. É uma proposta bem diferente e até bem estranha que provavelmente passará ao lado da grande maioria dos jogadores mas acredito que aqueles que tiverem a curiosidade para o testar vão ter uma boa surpresa. Após a curiosidade inicial perante o título da Chunsoft, o primeiro na PlayStation Vita, lá acabei por ficar mais do que "amarrado" no seu conceito mais do que interessante.
"Porque é que as pessoas se traem? Se não podemos confiar uns nos outros então todos devem MORRER! Bem-vindos ao meu reino!" Esta é a introdução ao jogo que por momentos quase nos faz acreditar que estamos perante aquilo que seria um Reality Show da TV feito por Japoneses loucos com uma enorme panca pelo terror e pânico. Vindo dos responsáveis por Zero Escape: Nine Hours, Nine Persons, Nine Doors, não é de espantar que também aposte no estranho, misterioso e até chocante para marcar a sua personalidade.
Nove pessoas acordam num local desconhecido para sobreviverem a um cruel jogo no qual as emoções e reações do próprio ser humano vão ser testadas. Isto faz-se ao longo de vários quebra-cabeças engenhosos e da interação uns com os outros que ditam se a confiança impera ou se a natureza do ser humano é impor-se perante os outros, especialmente numa luta pela sobrevivência.
Tudo foi muito estranho no primeiro impacto mas o jogo fez questão de começar de forma branda. Sigma, personagem principal, acorda no elevador e numa perspetiva na primeira pessoa vi um estranho coelho com uma estranha mensagem. A misteriosa rapariga que também estava no elevador partilha duas coisas com Sigma, não sabe nada sobre o que se está a passar e tem um estranho relógio no seu pulso.
Aos poucos e poucos este elevador tornou-se num quebra-cabeças de escala bem maior do que inicialmente previsto e tornou-se igualmente numa espécie de tutorial para o jogador se familiarizar, com o esquema de jogo e com os controlos. Uma combinação de controlo por toque com controlos físicos resultou na perfeição e após alguns minutos de adaptação tornou-se altamente intuitivo.
O cofre no elevador tinha que ser aberto para obter a chave que dali permitia sair mas tiveram que ser feitas algumas coisas antes de lá chegar. Pelo caminho fui testado e colocado em sentido, aqui não somos meros espetadores, temos que recorrer ao raciocínio e sentimos desde logo o belo toque desta combinação de quebra-cabeças com novela gráfica, que começa em tudo o seu fulgor assim que saímos do elevador.
Não quero aqui estragar pormenores e detalhes seja a quem for mas este NONARY GAME! AMBIDEX EDITION está mesmo a tornar-se num mistério demasiado apelativo para o deixar passar. A vontade de querer saber mais é enorme e este é agora o meu companheiro de cabeceira que acompanha as minhas noites, tal e qual um bom livro que pede só mais uma página ao seu devoto leitor.
Aqui os visuais ficam para segundo plano, são até bem básicos apesar dos personagens que estão um toque acima dos cenários. O destaque está na combinação do enredo, do tom de mistério, nas vozes dos personagens enquanto dão vida a esta história e aos quebra-cabeças que desafiam o jogador. VLR é um jogo que vai crescer em vocês e que vos vai cativar a sério.
Virtue's Last Reward não é de forma alguma um jogo que vai virar o vosso mundo de pernas para o ar, apenas vocês que o estão a jogar. É o tipo de produto que justifica em pleno a existências de portáteis como a PlayStation Vita e que justifica em pleno todo o gosto e dedicação que uma determinada classe ainda tem pelos produtos vindos do Japão. É um jogo muito específico mas repleto de qualidade e que assim que apanha o jogador, não mais o larga. Pelo menos a mim agarrou.
De igual forma está o PlayStation Plus, o serviço continua a fazer imenso por quem tem uma PlayStation Vita e mostra agora que não só dá acesso aos melhores e mais aclamados jogos na portátil, tenta diversificar o seu alcance e até dá acesso a experiências que de outra forma, vergonhosamente confesso, me iriam passar ao lado. Os meus fins de semana ganharam Vita e isso é um Plus.