A Wii U está em apuros?
Mas ainda há tempo para a salvar.
Esta é a história de uma grande consola japonesa, muito à frente do seu tempo. Tinha exclusivos de luxo, não se pagava para jogar online e o comando até tinha um segundo ecrã.
O seu lançamento foi um sucesso.
O seu futuro parecia risonho.
Mas apareceu a concorrência e deslumbrou toda a gente. O encanto pela consola japonesa parecia ter terminado. Jogadores disseram “não a vou comprar, prefiro esperar pelo que vi”. As editoras ficaram com medo de lançar nela os seus jogos. Quem as podia culpar se não havia gente suficiente para os comprar? Nem a maior do mundo arriscou lançar lá o seu FIFA. E a pequena consola japonesa acabou por falecer, amada por poucos mas ignorada por muitos.
Esta é a história da Dreamcast, a última consola da Sega, mas podia muito bem ser a história da Wii U.
A semana passada, Michael Pachter disse que a Nintendo está em apuros. Apesar de a 3DS estar a gozar de um momento fantástico e a dar-nos o melhor catálogo de exclusivos que vejo desde os tempos da PlayStation 2, não é preciso muito para perceber que o cenário não é tão risonho para a consola doméstica da Nintendo que, até ao final do ano, se prepara para ser eclipsada em vendas por qualquer outra consola no mercado(vá, tirando a PS Vita): Grand Theft Auto V vai dar um boost final nas vendas da Xbox 360 e PlayStation 3 e, poucos meses depois, saem a XBox One e a PlayStation 4.
Com jogadores desinteressados e as grandes editoras a abandonar o barco, como é que a Nintendo pode tentar evitar aquele que será, certamente, o natal mais triste de que há memória para a empresa?
Deixo-vos com as minhas propostas:
1- Baixar o preço da consola
O preço actual da versão premium da Nintendo Wii U é de €349. A PlayStation 4 vai custar €399, tem especificações bastante superiores e faz bem mais do que apenas jogar jogos. Apenas em fóruns online é que especificações significam automaticamente um melhor produto mas, neste caso, é seguro afirmar que na relação qualidade-preço, mesmo tendo em conta os títulos no mercado, favorece a consola da Sony. €50 num investimento de médio prazo é um valor negligenciável e que favorece a PlayStation 4 num confronto directo com a Wii U. Poucas serão as pessoas que irão optar pela Wii U por causa de tal valor.
"Na minha opinião, a Wii U precisa de baixar para €250, no máximo, para se manter competitiva."
A €499, a Xbox One já se distancia da Wii U. Esta diferença de €150 já é considerável, servindo perfeitamente para comprar vários jogos para a Wii U(dá perfeitamente para 3 jogos em Portugal ou entre 10 e 12 jogos se dermos uso à cabeça e os mandarmos vir de Inglaterra).
Na minha opinião, a Wii U precisa de baixar para €250, no máximo, para se manter competitiva. Uma diferença de €100 já pode fazer uma enorme diferença no orçamento natalício de muitas famílias.
2- Acabar com o modelo base
Dar ao consumidor poder de escolha é bonito na teoria mas terrível na prática. A escolha passa a confusão e o nosso produto multiplica-se em vários. Lembram-se quando havia 3 ou 4 PlayStation 3 e Xbox 360 à venda? Uma com disco maior, outra com entradas para cartões de memória, uma compatível com a PlayStation 2, uma com HDMI, outra sem, etc.? O sucesso foi tanto que acabaram todas descontinuadas e, provavelmente, com o serviço de apoio a clientes entupido, tantas eram as questões que todo este arraial de funcionalidades e diferenças levantou.
A Wii U neste momento vem em três “sabores”: um modelo branco básico de 8gb que ninguém compra, um modelo premium preto de 32gb com Nintendo Land e um modelo super premium preto de 32gb com um jogo(Zombi U ou Monster Hunter Tri) e um comando Pro.
A Nintendo deve descontinuar o modelo de 8gb e passar a oferecer apenas o de 32gb. Se oferecerem uma opção só vai existir uma escolha. Os bundles que acompanham novos lançamentos devem continuar uma vez que, além de ocasionais, representam valor para o comprador.
3- Incluir Nintendo Land com todas as consolas
A acompanhar o modelo de 32gb deve continuar o Nintendo Land. A sua ausência deixa-me um bocado estupefacto uma vez que, historicamente, as consolas da Nintendo que vieram acompanhadas de um jogo não só venderam bem como foram as mais vendidas da sua geração. Tal só não aconteceu com a Nintendo 64 e a Gamecube, duas consolas que custaram a liderança à Nintendo. Porquê cometer o mesmo erro novamente?
Nintendo Land pode não ter o apelo de massas de um Wii Sports(nem tal coisa é discutível) mas, ainda assim, é o jogo que melhor demonstra as capacidades únicas da consola. Nintendo Land é uma boa carta de boas vindas ao universo Nintendo e pode entreter muita gente até que a killer app da consola, um dia, decida aparecer.
E não Nintendo, a killer app não é o Miiverse. Killer app é algo de tão irresistível que justifique um investimento de centenas de euros na vossa consola. Dêem-nos um jogo do calibre de Super Mario Bros., Super Mario World, Super Mario 64 ou Wii Sports se faz favor.
4- Oferecer um jogo digital grátis com todas as Wii U
Haverá melhor forma de mostrar aos novos consumidores as capacidades da e-Shop do que oferecendo um jogo digital grátis?
Isto sim, juntamente com o Nintendo Land, seria valor para o consumidor. Tanto a Microsoft quanto a Sony já o fizeram em bundles. Até a própria Nintendo já o fez com a 3DS. Não faz sentido ter uma consola portátil que anda a todo o vapor enquanto a consola doméstica continua com políticas de há duas gerações atrás.
Mimem-nos.
Dêem-nos razões para vos darmos o nosso dinheiro.
5- Investir numa campanha de relançamento
Se a Nintendo quer fazer frente às novas consolas da Sony e Microsoft vai ter de fazer muita e boa publicidade. Vamos ser bombardeados com anúncios da PlayStation 4 e Xbox One(ok, em Portugal só vamos mesmo ver anúncios da Sony) e a Nintendo precisa de mostrar que existe e que tem um produto de qualidade no mercado.
O ideal seria um relançamento total da consola, com direito a nova imagem e novo nome. Wii U é um nome TERRÍVEL e que leva muita gente a confundir a nova consola com um acessório de €300 para a Wii. Não acreditam? Perguntem ao balcão de uma qualquer loja de jogos quantas pessoas já fizeram esta confusão da próxima vez que entrarem numa. A sua apresentação na E3 também não ajudou. Eu próprio(que escrevo sobre videojogos!) pensei que a Wii U fosse um acessório quando a vi pela primeira vez. Mostrarem-na a jogar outra coisa que não Wii Sports teria ajudado, digo eu. Mudar o nome seria uma medida radical e deve estar fora de hipótese para a Nintendo uma vez que iria gerar confusão entre quem já tem a consola e alguns retalhistas.
O nome Wii U foi um erro com o qual terão que lidar até à sua próxima consola mas uma coisa é certa: de certeza que não se chamará Wii U2.
Uma campanha de relançamento ao nível da “It only does everything” que serviu para relançar a PlayStation 3 pode tirar a Wii U de apuros. Basta a Nintendo ser criativa e dar a entender que tem uma boa consola que não é um mero acessório da Wii mas uma experiência totalmente nova.
A calma antes da tempestade:
Tudo isto são soluções a curto prazo que a Nintendo pode pôr em prática para tentar salvar o Natal. Se nada fizer, arrisca-se a entrar em 2014 no último lugar de uma corrida que começou em primeiro e a comprometer, seriamente, o futuro da consola.
De todas as “medidas propostas”, acho que a baixa de preço é aquela que a Nintendo mais desesperadamente necessita de aplicar.
Esta é uma estratégia que resultou brilhantemente com a 3DS: levou um corte de €80 e, mesmo com um catálogo terrível na altura(tal como acontece com a Wii U actualmente), nunca mais largou a posição de consola mais vendida em todo o mundo semana após semana.
Cortar no preço agora é um penso rápido mas que precisa de ser aplicado para que a consola não continue a sangrar. Tal como com a 3DS, a adopção em massa é vital para que as third parties que já foram todas à vida voltem a ver a Wii U como uma plataforma viável e não apenas como uma máquina que só serve para a Nintendo fazer dinheiro nela. A EA não está interessada nela, a Activision mostrou-se desapontada com as vendas de Black Ops 2 na consola e até mesmo a Ubisoft, uma editora que apoia tudo o que mexe, já disse que o exclusivo ZombiU não foi rentável e que não vai haver sequela.
A Wii U foi a consola com mais exclusivos apresentados na E3 deste ano e um bom punhado deles vai chegar antes do Natal mas serão Super Mario 3D World, Donkey Kong Country: Tropical Freeze, Sonic: Lost World e Wind Waker HD suficientes para travar as novas consolas, Grand Theft Auto V, Battlefield 4 e Call of Duty: Ghosts?
Se sobreviver a este impacto brutal, a Wii U parece oferecer em 2014 tudo o que um fã da Nintendo procura - Super Smash Brothers, novo Zelda, X, Bayonetta 2.
Esperemos é que por essa altura existam fãs suficientes para justificarem o interesse das editoras third party.
Que outras medidas acham que a Nintendo deveria adoptar para “salvar” a Wii U?