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Adventure Time: Hey Ice King! Why'd you steal our garbage?!! - Análise

Companheiros de aventuras.

O acordo firmado entre a Cartoon Network e a WayForward para a criação de um jogo baseado na conhecida série de animação norte-americana de Pendleton Ward - Adventure Time -, visa replicar nas consolas o mesmo sucesso que a série atinge na televisão. Mas bem se sabe qual é normalmente o resultado quando são criados jogos sob a licença dos filmes e séries. Raramente o jogo suplanta o alcance da produção em referência. Contudo, havia a expectativa de obter um bom resultado em virtude da participação da produtora americana que já nos trouxe Shantae, Mighty Switch Force e, o ano passado, Duck Tales Remastered. Os resultados positivos demonstrados nesses títulos acrescentaram alguma confiança ao projecto que nesta primeira produção se apontou unicamente às portáteis da Nintendo: a DS e a 3DS.

De resto, cumpre referir que Ice King chega com mais de um ano de atraso em relação ao lançamento americano. Lançado nesse território no final de 2012, o adiamento implicou um lançamento quase em simultâneo com Adventure Time Explore the Dungeon Because I Don't Know, uma espécie de sequela do primeiro jogo e disponível para mais plataformas, nomeadamente o PC, PS3, 360 e Wii U, além da versão 3DS. É de facto uma quantidade significativa de produções ancoradas na mesma série, o que é um sinal revelador de uma adesão significativa ao jogo. Mas será que Ice King presta realmente um verdadeiro tributo à série de animação e funciona bem enquanto jogo?

O Ice King fez uma princesa de lixo, este é o tema à volta do qual se passa esta aventura. Finn e Jake terão bastante que fazer.

Em primeiro lugar a importância que qualquer utilizador dará ao jogo começará por depender da sua afectação ao exclusivo da Cartoon Network. Mostrando os mesmos desenhos que Pendleton Ward trouxe ao mundo, temos na mesma as aventuras de Finn, um jovem de quinze anos sequioso por grandes jornadas e Jake, o fiel cão amarelo dotado de poderes mágicos. O primeiro contacto com o jogo evoca precisamente algumas das qualidades por que é conhecida a série: o seu tom humorístico, uma paleta de cores bastante contrastante e uma apresentação do mundo e personagens bastante peculiares. Tudo isso está presente no jogo, sendo a manutenção da definição visual e narrativa da série os elementos mais destacados.

Mas a dificuldade maior para a WayForward foi conciliar a narrativa com o conceito. Que tipo de mecânicas poderiam funcionar melhor dentro da ideia de aventura? Plataformas? Um jogo de acção? Um jogo de role play? Por que não combinar acção com elementos de role play? Essa acabou por ser a mecânica escolhida. No entanto, em larga medida estes diferentes elementos ficam aquém de atingir um grau de inovação que esperávamos. Ice King não é diferente de muitas outras produções e oferece poucos motivos para o jogador se deixar levar pelo jogo.

Alguma da crítica tem-se referido ao jogo como sendo uma nova versão de Zelda II The Adventure of Link, o jogo da Nintendo que nunca deixou de ser um pequeno sarilho para os seguidores de Zelda. Na verdade, há similitudes na estrutura do clássico da Nintendo e neste título da Way Forward, particularmente no que respeita ao modelo de combate dentro das masmorras ou à superfície (nalguns segmentos). A perspectiva 2D, os saltos sobre inimigos e as arcas dos tesouros, são pontos de encontro. Já para nem falar na acumulação de objectos com os quais podemos tornar uma personagem mais rápida (a correr), recuperá-la do seu estado de saúde frágil ou até socar com mais força as criaturas inimigas. Contudo, rapidamente se esfuma a expectativa que temos ao começo de qualquer nova aventura. A dimensão do jogo não é muito significativa.

Os efeitos do ecrã estereoscópico são escassos mas visíveis, por exemplo, no movimento das nuvens.

O ponto mais peculiar no que respeita às acções ofensivas dos protagonistas é a dualidade de ataques, executados por Finn e Jake. O primeiro usa os pés e o segundo uma extensa língua. Contudo a prática destas combinações depressa arrefece alguma empatia, muito por culpa do posicionamento dos inimigos, causando uma repetição sistemática e por vezes saturante. Estes segmentos apresentados em 2D são muito semelhantes entre si e os movimentos reciclam-se, o que depressa nos leva a avançar unicamente pela descoberta de novas personagens e quests que a história nos oferece. Mas quando chegamos a uma ilha diferente e vasculhamos por outras personagens, voltamos a passar pelos aborrecidos combates, uma ou mais vezes, porque ao voltarmos atrás, os adversários que tínhamos eliminado continuam a patrulhar a área.

O lado mais criativo deste rpg de acção simples advém do resultado da evolução das personagens. As transformações operadas a partir da subida de nível, com as personagens a usarem novos poderes especiais, asseguram uma diferente exploração das masmorras, um dos poucos pontos que nos revela fertilidade criativa e alguma fuga ao quadro de previsibilidade que marca a aventura.

Musicalmente não é excedível e mesmo em termos gráficos fica bastante aquém do que podia ser feito para uma 3DS, até dentro dos efeitos tridimensionais. É certo que o seu grafismo mais simples e essencialmente colorido nos pode levar a pensar em Scribblenauts, mas este oferece mais pormenores e um grau de pequenas animações em tudo superior.

Em síntese, uma experiência que poderá encontrar mais algum significado junto dos fãs da série pela boa captura que faz das personagens, atmosfera e humor típicos da animação. Mas tirando isso e a pensar apenas no desenvolvimento do conceito, Ice King raramente passa do entretenimento mediano. Uma aventura aceitável que talvez encontre mais algum eco diante dos fãs mais pequenos, a iniciarem-se nos role play de acção.

5 / 10

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