Affordable Space Adventures - Análise
Uma aventura de outro planeta.
Resultado de uma produção conjunta entre dois estúdios, a Nifflas (Knytt Underground) e a KnapNok Games (Bumpie's Party), Affordable Space Adventures é um jogo exclusivo para a Nintendo Wii U e um dos que melhor aproveita o potencial do GamePad. No meio de tantos jogos independentes que muitas vezes não arrebatam justamente por lhes faltar uma espécie de toque de midas, aquilo que verdadeiramente faz a diferença juntos dos demais, encontramos aqui um jogo muito bem executado, criativo e bastante original nos conceitos e mecânicas, sem cair na generalização, no lugar-comum ou refém da sua própria teia.
No começo, há qualquer coisa que me lembra Bioshock. Não é tanto a cidade Rapture, mergulhada nas profundezas do oceano. Talvez seja a descrição nos postais, o ambiente e a atmosfera, uma espécie de isolamento que aproxima a viagem no espaço da viagem ao fundo do mar, como nas 20 mil léguas submarinas de Júlio Verne. Em Affordable Space Adventures o jogador mergulha literalmente numa viagem espacial até um planeta longínquo, não identificado. Para não variar, algo corre mal na aterragem, devido a uma série de avarias em catadupa que provocam um acidente e consequente perda de funções e unidades motrizes do aparelho.
Durante as pausas e os loadings são mostrados panfletos ilustrativos ou manuais de instruções que tocam o mais elementar da condução do aparelho, como colocar as mãos nos apoios devidos para evitar quedas, abrir o guarda-luvas, ligar o motor etc. Tudo tem um significado e em concreto uma função específica no ecrã táctil do gamepad. A maioria dessas funções está desligada ao começo, como uma avaria que afectou todo o sistema. De início temos disponível o motor de arranque e um pequeno propulsor. Com ambos, conseguimos meter a máquina em funcionamento. Mas aqui entra alguma paródia salutar. Ao invés de um aparelho modernaço, a nave mais parece um automóvel dos anos setenta, de gama média, a trabalhar, lançando fumo assim que aceleramos através do analógico. Ainda há espaço para uma buzina e outras funções como o índice de massa, que atribui peso à nave muito especial.
As coisas ficam mais interessantes quando começamos a mexer nestas funções como o propulsor e o índice de massa e verificamos que se levarmos o propulsor ao limite o motor aquece demasiado, correndo o risco de explodir, provocando o fim da nossa aventura. Existem vários níveis de aceleração e intensidade, pelo que é crucial gerir o avanço num cenário tridimensional mas sempre sob uma perspectiva bidimensional. Felizmente o pesadelo inicial vai desaparecendo, até porque à medida que avançamos entre áreas diferentes deste novo planeta e encontramos pontos de abastecimento (alguns estão inactivos por força de misteriosos artefactos que se revelam hostis à nossa presença), a nave vai adquirindo funções até aqui indisponíveis.
"encontramos aqui um jogo muito bem executado, criativo e bastante original nos conceitos e mecânicas"
Em pouco tempo passamos a poder usar um estabilizador, óptimo para atravessar zonas apertadas e uma sonda com a qual identificamos melhor os artefactos à nossa volta depois de apontarmos um raio luminoso na sua direcção, lançamos um foguete para acertar nos alvos e ainda observamos, com uma lanterna, áreas mal iluminadas por onde podemos avançar, rodando o Gamepad e dessa forma a nave.
Desta forma, não só o jogador progride jogando, como são evitados aqueles extenuantes manuais de aprendizagem. Em certos momentos o jogo faz uma pausa para nos mostrar a nova funcionalidade que voltou a ganhar vida. Estas têm a forma de botões desenhados no ecrã táctil. O que torna a navegação no planeta mais interessante, especialmente ao nível da condução da nave, é a observação dos manómetros. Com eles verificamos a energia consumida, o calor produzido pelos aparelhos e outro sinal de consumo. A superação de alguns artefactos (que reagem de forma agressiva se penetrarmos no seu campo de acção) envolve o manuseamento das funcionalidades por forma a que possamos passar pela área controlada por eles. Por exemplo, reduzir o calor e a electricidade é essencial num dado momento.
Nesta altura podemos aceder ao motor eléctrico e usar outras funcionalidades como gravidade, deslocação, etc. As reacções no aparelho são imediatas e obrigam muitas vezes a uma condução apertada, quando descobrimos a forma de ultrapassar certos obstáculos. A dada altura atinge-se uma relativa complexidade ao nível da gestão de funcionalidades tendo em conta uma observação atenta aos manómetros. Todavia verifica-se um realismo muito saudável e desafiante ao nível da condução da nave, com comandos bem implementados, requerendo por vezes uma reacção rápida que nos leva ao erro, ainda assim não deixa de ser uma mecânica bastante original.
A produção ao nível do ambiente no planeta também se mostra bem conseguida, com espaços apertados, pejados de pequenas armadilhas e ratoeiras quando avançamos a fundo na sua exploração. A pouca luminosidade, ausência de diálogos e sobreposição dos dos sons oriundos do planeta e da nave tornam esta experiência bastante rica do ponto de vista do ambiente. Nalgumas ocasiões com alguma saturação dos desafios, mas sempre num design que por vezes até lembra o jogo Limbo.
Com um modo para três jogadores a nível local, ambos trabalham em funções distintas da nave, como se estivessem a bordo de um tanque da segunda guerra ou a bordo de um avião Lancaster e um de vós fosse o artilheiro e os outros estivessem aos comandos. É uma proposta interessante, sobretudo pelo grau de cooperação e comunicação exigido. Pese embora a concessão, é provável que muitos prefiram jogar a solo, mesmo com alguma abundância de tarefas quando todas as funcionalidades ficam disponíveis. Vale por isso e pela condução muito original e criativa da aeronave num planeta distante. Um dos melhores jogos indie para a Wii U dos últimos tempos.