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Age of Empires 4 review - Saudoso regresso

Uma autêntica aula de história.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Um regresso que já se justificava. Este género merece mais apostas como esta, de modo a não se tornar numa espécie em vias de extinção.

Estratégia em tempo real é um dos géneros mais ancestrais da indústria, pegar agora em Age of Empires IV faz-me recuar ao auge do género que se foi esfumando com o passar dos anos. É como entrar numa máquina do tempo e retroceder décadas, encontrar pérolas como The Settlers de 1993, Warcraft em 1994, rever Command & Conquer de 1995, o próprio Age of Empires em 1997, StarCraft em 1998, Ground Control de 2000, e podia estar aqui eternamente a enumerar clássicos que marcaram a minha juventude como jogador. Nem todos estes exemplos são da mesma linhagem, temos variáveis que os distinguem, uns com uma vertente vincada na gestão e construção, enquanto outros mais ligados à exploração, guerra e domínio territorial.

Passado este tempo todo e olhar agora para Age of Empires IV após as décadas douradas do género é um deleite e, sobretudo, verificar que esta longa espera valeu a pena, já que a Xbox Game Studios quis que esta nova abordagem fosse digna da série e não defraudasse os grandes fãs do género e, sobretudo, da franquia. Posso desde logo afirmar que é uma aposta ganha e que estamos perante um trabalho digno dos predecessores. Transporta novamente para a casa de todos os jogadores uma fórmula que nos faz ficar agarrados durantes horas a fio, sem que notemos o tempo a passar.

A estruturação de Age of Empires IV no modo para um jogador é debruçada e configurada de forma interessante e muito gratificante. Temos autênticas aulas de história para as quatro campanhas disponíveis, Os Normandos, A Guerra dos Cem Anos, O Império Mongol e a Ascensão de Moscovo. Estas quatro campanhas colocam frente-a-frente os vários impérios, podemos desta forma testemunhar os vários lados da barricada e sentir o que estes povos passaram naquela época. São de facto quatro aulas para adquirir conhecimentos e enriquecimento pessoal, efetuada de forma agradável. Cada passo dado tem uma explicação por parte de uma narradora, complementada através de imagens reais e atuais dos palcos de guerra misturadas elementos gráficos, dando uma visão abrangente e credível de todo o cenário.

"tutorial que é designado por Arte da Guerra, sendo este fundamental para todos os novatos em jogos de estratégia em tempo real"

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Preparando o jogador para todo o desafio aqui proposto, temos um tutorial que é designado por Arte da Guerra, sendo este fundamental para todos os novatos em jogos de estratégia em tempo real (RTS), mas nunca de descartar pelos veteranos e familiarizados com as mecânicas e suas fundações. Existe ainda no modo para um jogador o Skirmish, batalhas contra a IA, totalmente configuráveis ou então selecionadas a partir de umas já predefinidas. Estas são uma boa forma de dar continuidade à aprendizagem antes de se entrar em confrontos contra jogadores reais no modo multijogador.

A campanha proporciona aquisição de conhecimentos, mas de nada serviria se não fosse acompanhada por uma jogabilidade com mecanismos apropriados, satisfatórios e recompensadores. Para meu contentamento, está como deveria estar. Não é que reinvente a fórmula de um RTS ou traga à cena algo revolucionário, mas consegue conservar os parâmetros fundamentais adequando-os à atualidade. Só o facto de atualizar uma série para os dias de hoje é uma vitória conseguida pelas produtoras, Relic Entertainment e World's Edge. Na atualidade, não existem muitas opções para os fãs do género e esta é uma oportunidade única de voltarem a esta forma videojogável que tantos amam.

A cada missão, no modo campanha, são propostos objetivos, complementados por metas principais e outras secundárias para adquirir mais pontuação caso se tenha êxito. A vitória depende sempre se conseguimos ou não executar o objetivo principal. As missões são bastante diversificadas, em algumas até temos determinadas estruturas já criadas e avançadas, noutras temos de efetuar todo o processo de construção desde o princípio, e em outras apenas temos de gerir o nosso exército para alcançar a vitória. Esta é a estruturação deste modo, para as quatro companhas disponíveis, que dão a conhecer partes da nossa história bem como nos ajudam no processo de domínio das mecânicas de jogo. Os nossos objetivos estão ligados a acontecimentos que marcaram a história da fação que estamos a controlar, e o desfecho reflete o que aconteceu há centenas de anos atrás. Esta possibilidade de vivermos em primeira mão estes acontecimentos é um dos pontos que mais me agradou, uma forma deveras interessante de se adquirir conhecimento através de um videojogo.

"objetivos estão ligados a acontecimentos que marcaram a história da fação que estamos a controlar, e o desfecho reflete o que aconteceu há centenas de anos atrás"

Relativamente aos procedimentos e mecanismos da jogabilidade, Age of Empires IV mantem-se fiel a si próprio e ao tradicional. Temos elementos com a função de construir as diversas estruturas e recolha de recursos, como ouro, pedra, alimento e madeira. Estes recursos são as bases para a criação de tudo, sejam estruturas ou unidades. Relativamente às unidades, temos variadíssimas opções, cada uma com pontos fortes e suas fraquezas e são representativas dos exércitos de cada império. Por exemplo, os cavaleiros são vulneráveis a unidades com lanças, sendo estes vulneráveis a cavaleiros que galopam em sua direção. São estas condicionantes que devem ser bem estudadas e geridas durante as batalhas, saber com que unidades avançar e fundamentalmente avaliar se teremos um desfecho positivo no confronto que temos à nossa frente.

O conhecimento de cada unidade é fundamental, para deste forma abordarmos as batalhas de forma inteligente e não criar um caos total. Se não escolhemos as unidades adequadas, como quem avança primeiro em direção aos arqueiros, ou torres vigia, corremos sérios riscos de ficar sem unidades de combate. Também é fundamental gerir o desenrolar dos próprios embates, não deixar que avancem à sua vontade e gerir eficazmente as fraquezas e pontos fortes de cada elemento. É como uma dança bem sincronizada entre todos os constituintes do nosso exército num cenário de guerra brutal e visceral.

"dança bem sincronizada entre todos os constituintes do nosso exército num cenário de guerra brutal e visceral"

A simbiose contínua entre gestão e coordenação torna o género RTS ímpar, seja em desafios e suas gratificações. É tremendamente satisfatório quando conseguimos suplantar o adversário e atingir o nosso objetivo. Esta combinação de controlo de unidades na arte da guerra, construção de infraestruturas e, fundamentalmente, a coordenação célere entre todas as vertentes determina o elevado grau de satisfação aqui encontrado. Quem não gosta de um desafio onde somos levados ao limite das nossas capacidades? A adrenalina que se sente nos momentos de maior intensidade é perfeitamente atingida em Age of Empires IV, consegue provocar esse saudoso efeito.

Finalmente temos o tão apetecível modo multijogador online, que é o derradeiro teste às nossas capacidades. Jogamos contra a IA e jogadores de todas as paragens do planeta. Temos batalhas em cooperação contra a IA e outras contra jogadores, sendo as partidas totalmente configuráveis. Diferente do modo campanha, onde apenas temos acesso a quatro impérios, Inglês, Francês, Russo, Mongól, aqui são um total de oito. Para perfazer os oitos temos então a adição do Chinês, Romano, Sultanato de Déli e Dinastia Abássida. São muitas opões que aumentam consideravelmente as variáveis em cada batalha. O conhecimento de cada um é fundamental, seja quando os comandamos ou combatemos. Como acima referido, este modo é o derradeiro desafio, é o Endgame de Age of Empires IV e o que ditará a sua sobrevivência a longo prazo. São horas a fio a construir batalhas épicas sem darmos pelo passar do tempo.

"existem profundas quebras de fotogramas, principalmente quando alteramos o zoom ou rodamos a câmara"

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Abraçando a parte mais técnica, temos pontos extremos aqui. Na parte sonora está irrepreensível, cada paisagem com som ambiente apropriado, onde se consegue ouvir o vento a soprar e os próprios animais selvagens, passando pelo som feroz dos exércitos a cavalgar na direção do inimigo, os cânticos e festejos a cada vitória e até o pormenor delicioso das diferentes pronúncias apropriadas a cada império. Já na vertente visual as coisas estão mais debilitadas, certamente muito por culpa do motor de jogo utilizado, o Essence Engine, em utilização desde 2006 e que já se encontra na sua quinta geração. Visualmente não é de última linha, apesar dos milagres feitos aqui, não consegue disfarçar a sua idade. Para juntar a um certo desapontamento visual, temos uma performance muito duvidosa mesmo em máquinas muito poderosas. Joguei num Intel i9 9900KF com uma RTX 3080, e mesmo assim existem profundas quebras de fotogramas, principalmente quando alteramos o zoom ou rodamos a câmara. É estranho pois assim que paramos a rotação da câmara ou de efetuar zoom, os fotogramas voltam ao normal.

Age of Empires IV é uma aposta robusta que consegue satisfazer de forma consistente todas as exigências. Apesar de não reinventar o género, baseia-se numa adaptação de conceitos e de estruturas aos tempos atuais. As problemáticas referidas, principalmente de performance, não são suficientes para lhe retirarem o brilho. Amantes de RTS vão encontrar aqui a sua nova casa, que poderá ser quase permanente se a Relic Entertainment e World's Edge continuarem a suportar o jogo (haverá acesso a mods no futuro).

Prós: Contras:
  • Campanha muito interessante
  • Autênticas aulas de história
  • Temos um total de oito impérios para escolher
  • Modo multijogador viciante
  • É sempre bom observar o lançamento de mais um RTS
  • Visualmente não impressiona
  • Problemas de fluidez, com enormes perdas de fotogramas
  • Não acrescenta novidades ao género

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