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Alan Wake 2 é assim tão bom? Análise completa depois de 26 horas de jogo.

Terror psicológico.

A Remedy consegue dar um nó no nosso cérebro com esta nova interação pelo universo Alan Wake. Uma narrativa cheia de terror psicológico que apenas sofre de algumas falhas no ritmo do jogo e problemas técnicos aqui e ali.

Alan Wake 2 chega como uma das mais aguardadas sequelas, traz consigo a promessa de envolver os jogadores num novo pesadelo psicológico. O primeiro título da série, lançado há mais de uma década, cativou pela sua narrativa envolvente, atmosfera sombria e mistérios intrigantes. Agora, com o regresso do icónico escritor Alan Wake, a expetativa é grande, para descobrir o que o novo capítulo tem reservado.

Esta é mais uma viagem de suspense e terror, um universo com ramificações muito para além do que podemos imaginar. Temos a junção de vários mundos, de diferentes videojogos, com uma escrita de grande qualidade que entrelaça cada um deles num enredo credível e que faz sentido. Nem sempre é fácil de assimilar, por vezes dei por mim absorvido numa contemplação, a questionar o que realmente estava a desenrolar-se, enquanto recordava os outros trabalhos da Remedy Entertainment, Max Payne, Control, Quantum Break e o próprio Alan Wake.

A construção de um puzzle

A narrativa apresenta pequenas evidências do passado de forma sublime, como peças de um puzzle que se vão encaixando gradualmente, o que torna o desenvolvimento das situações intrigante e, ao mesmo tempo, cria uma vontade de mais revelações. Inicialmente, assumimos o papel da detetive do FBI Saga Anderson, que, acompanhada pelo seu parceiro Alex Casey, viaja até à emblemática Bright Falls, em Washington.

Trata-se de uma experiência que desafia a qualquer descrição sem revelar pormenores do enredo, que serve de base a toda a viagem alucinante que proporciona. Neste mundo, somos conduzidos pelas mentes dos personagens e até mesmo pela nossa própria, enquanto tentamos decifrar o que é real e o que é fruto da ilusão, muitas vezes fabricada por Alan Wake. A busca pela obra-prima suprema, enquanto tenta salvar aqueles que mais ama, está no centro da narrativa. Embora a história seja o foco central, Alan Wake 2 também brilha noutras áreas, com uma apresentação cinematográfica, visuais deslumbrantes e uma jogabilidade bem equilibrada.

A progressão é gradual e deliberadamente lenta, o que me agrada particularmente. Tudo acontece de forma cinematográfica, com recurso a gráficos luxuosos. Inicialmente, estamos alheados dos acontecimentos, com as primeiras pistas a apontar para um rumo previsível dos eventos. No entanto, somos rapidamente atirados para um turbilhão de possibilidades enquanto Saga Anderson e Alex Casey fazem a sua investigação. Saga desempenha um papel crucial, uma vez que pode transportar-se para um mundo de ilusões, uma realidade alternativa criada pela sua mente, onde junta as peças do puzzle reunindo provas e tomando decisões sobre o rumo da investigação. Esta construção constitui uma façanha por parte da Remedy, contribui para a base do jogo e mantém o toque de sobrenatural caraterístico das obras do estúdio.

Inconsistência do ritmo da narrativa

À medida que a narrativa evoluía, fui confrontado com desvios na minha perceção de uma perfeição inatingível. O ritmo de jogo tem alguns momentos suscetíveis de serem criticados, com partes notoriamente lentas, particularmente quando nos deslocamos a pé, o que pode parecer penoso em caminhadas mais longas. Isto acaba por afetar a imersão que estava num ponto ideal. Para além disso, certas escolhas na progressão da história deixaram-me insatisfeito, levando-me a pensar na possibilidade de fazerem as coisas de forma diferente, embora perceba que esta é a visão criativa da Remedy. Estes momentos quebram em certa forma a imersão profunda que estava a sentir, parecem prolongar artificialmente acontecimentos que não se encaixam perfeitamente na narrativa. Este sentimento tornou-se mais pronunciado na reta final, quando acreditei que tinha chegado ao epílogo, apenas para descobrir que ainda havia mais, fiquei frustrado porque seria o final perfeito.

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Adaptar esta complexa construção narrativa a algo jogável constitui um desafio considerável. Na maioria das vezes, o estúdio conseguiu fazê-lo de forma eficaz. A jogabilidade complementa bem a história, com mecanismos sólidos. Utilizar as armas e a lanterna é uma experiência gratificante, e a mecânica para derrotar os inimigos é recompensadora. Quer estejamos a controlar Saga ou Alan Wake, a jogabilidade é robusta, embora existam alguns desequilíbrios que poderiam ter sido aperfeiçoados, nada de muito substancial.

A psicologia do terror

Sendo um jogo de terror psicológico, é fundamental avaliar esse impacto. Para além dos "jump scares", que são introduzidos de formas inesperadas, mas por vezes recorrentes, resultando numa experiência que se torna algo previsível, alguns destes momentos são bem executados, proporcionando sustos genuínos. Alan Wake 2 é, em grande parte, um jogo assustador, graças a uma narrativa introspetiva e emocionalmente carregada, sem esquecer o seu luxuoso design sombrio.

Não podemos subestimar a importância da gestão de recursos, uma parte intrínseca do género que está diretamente ligada à criação de uma camada de estratégia, intensidade e inquietação. A mecânica de recolha e gestão de recursos encontra-se equilibrada, o que obriga os jogadores a tomar decisões inteligentes sobre quando e como os utilizar, seja ao derrotar inimigos ou ao evitá-los e poupar recursos.

A fusão entre uma narrativa complexa e estimulante que desafia os jogadores a desvendar pormenores intrigantes faz de Alan Wake 2 uma viagem verdadeiramente única. A experiência mantém elementos familiares, trazidos de outros trabalhos, mas com o toque distintivo da Remedy, que incorporou habilmente diversos aspetos dos seus vários franchises para criar um labirinto psicológico. Em Alan Wake 2, nada é o que parece, e os jogadores dão muitas vezes por si a procurar informações adicionais para desvendar os mistérios. Mesmo no último suspiro, ainda há segredos por descobrir.

É certo que, em alguns momentos da viagem, tive a sensação de que alguma da magia se tinha perdido, ponto incómodo para mim. Senti uma diferença percetível em relação ao resto da experiência, e não sei se isso foi feito para prolongar o jogo por mais algumas horas ou se reflete alguma dificuldade em ligar os diferentes momentos e narrativas, que são numerosos e por vezes abertos a interpretações diversas.

Há um pormenor técnico digno de nota que impressiona sempre que ocorre: a forma como os cenários se adaptam à narrativa. Por vezes, isto acontece em tempo real sem intervenção direta do jogador, enquanto noutras somos nós que modificamos o ambiente à nossa volta. Esta interação cria uma sensação de controlo e descontrolo simultâneos, com efeitos em tempo real que nos fazem questionar se estamos imersos num pesadelo ou na realidade.

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Visuais são um marco para os videojogos

É impossível não elogiar os visuais de Alan Wake 2, pois este é um marco na indústria dos videojogos. Não me lembro de ter ficado tão impressionado com os visuais nos últimos tempos. É visualmente deslumbrante em praticamente todos os cenários. O Northlight Engine, no seu estado atual, é capaz de criar momentos que parecem dignos do cinema, com visuais impressionantes que nos deixam a pensar como conseguiram atingir tal nível de detalhe. No entanto, esta extravagância visual tem um custo e não está isenta de problemas técnicos.

Joguei Alan Wake 2 no PC, equipado com uma RTX 3080, i9-9900k e 32GB de RAM, e a minha máquina não foi capaz de explorar todo o potencial da versão PC. Fiz alguns testes, colocando todas as definições no máximo, reduzindo a resolução e utilizando o DLSS, e o resultado foi incrível. Alan Wake 2 ganhou vida com gráficos impressionantes e ray tracing. No entanto, é importante lembrar que esta experiência visual máxima só está disponível para quem tem um orçamento generoso, uma vez que os componentes de hardware de alto desempenho, como as atuais GPUs, custam muito dinheiro.

Para além de merecer uma medalha pelos seus visuais, Alan Wake 2 também brilha pela componente sonora. A qualidade do áudio é simplesmente maravilhosa, proporcionando um refinamento excecional que eleva a experiência a um nível cinematográfico de alta qualidade. Os sons dos inimigos, o uivo do vento e da chuva, o balançar das árvores e os efeitos sonoros sinistros do mundo oculto misturam-se harmoniosamente, criando uma simbiose que está perfeitamente alinhada com os visuais e a narrativa. É uma experiência que tem de ser vivida para ser totalmente apreciada.

No entanto, como mencionado, o jogo também tem os seus problemas. No que diz respeito ao desempenho, mesmo com uma configuração para uma experiência sólida de 60 fps, após algumas horas de jogo, começam a surgir perdas inexplicáveis de desempenho, que só podem ser resolvidas ao reiniciar o jogo. Além disso, encontrei erros visuais ocasionais, como paredes que desaparecem, portas que deixam de existir e outros problemas semelhantes. Também vale a pena mencionar erros que afetam diretamente a jogabilidade, como a lanterna que deixa de funcionar ou a arma que não aponta corretamente. Um outro ponto de desagrado é o inventário, que infelizmente é bastante desajeitado, e a gestão de recursos deixa algo a desejar.

Um desafio para o teu cérebro

Alan Wake 2 é, sem dúvida, um bom jogo, que poderia atingir um nível ainda mais elevado se fossem resolvidas algumas questões relacionadas com o ritmo da narrativa. Há momentos em que a progressão da história parece artificialmente prolongada, o que pode afetar a imersão de quem a vivencia. Para além disso, as questões relacionadas com o desempenho inconsistente no PC deveriam ter sido resolvidas antes do lançamento. No entanto, apesar destes problemas, Alan Wake 2 é uma experiência que vale bem a pena, com uma narrativa psicológica fascinante e visuais incríveis.

Prós: Contras:
  • Narrativa forte e consistente
  • Ligações narrativas a outros jogos que puxam pelo nosso raciocínio
  • Visuais de excelência, capazes de definir um novo patamar da indústria
  • Sonoridade num patamar fora do comum
  • Jogabilidade robusta que recompensa o jogador
  • Prolongar de certos momentos de forma desnecessária
  • Alguns problemas visuais
  • Bugs que afetam diretamente a jogabilidade
  • Gestão do inventário é desajeitado

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