Alice: Madness Returns
"Alice aqui as regras são outras".
Existem jogos que ficam na nossa memória gravados a ferro e fogo. Um desses jogos é American McGee's Alice, uma visão mais adulta, violenta e aterradora do conto Alice no País das Maravilhas. Pessoalmente sempre achei o conto original como algo sombrio, nunca senti que Alice fosse a menina tão simples e inocente como demonstra ser. O próprio universo criado por Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson) é tudo menos normal, com criaturas estranhas, misturando o mundo real com algo simplesmente surreal.
A base estava criada e a visão do designer American McGee do mundo das maravilhas é simplesmente genial, captando o lado negro de algo que não está assim tão bem escondido. Um gato com um enorme sorriso que torce o pescoço ou até mesmo o estranho Chapeleiro Maluco, que passa a vida a beber chá, não são criaturas normais e emanam de si algo macabro e sombrio.
Dito isto considero a visão de American McGee como a "real" em termos daquilo que o conto deixa passar para fora. Este "Twist" na história da Alice no País das Maravilhas não se resume apenas ao ambiente, mas sim em todos os aspetos do jogo. Desde história, dos gráficos, da sonoplastia e principalmente a forma insana de retratar as personagens do conto. Apesar de a versão que tivemos a oportunidade de jogar apenas deixar-nos jogar cerca de 20% do jogo, já foi possível verificar que a qualidade e o fantástico trabalho de arte que o jogo contem. Em poucas palavras posso dizer que o jogo é lindo de morrer e bastante grande.
Alice está mais velha onze anos, exatamente o tempo desde o primeiro jogo. Mas a idade não se faz sentir muito fisicamente na menina cândida. Alice continua num orfanato, mas o passado continua assolar a sua vida, principalmente os seus sonhos, misturando a realidade com a ficção. A morte de seus pais é um acontecimento traumático, e será recorrente o ressurgimento de memórias de seus pais, isto em formato de itens que temos de apanhar. Neste novo jogo começamos no orfanato, onde outras crianças partilham de brinquedos e quartos. Mas rapidamente somos transportados para o País das Maravilhas, onde iniciamos uma espécie de tutorial, mas sempre contextualizado no jogo.
A ida para o País das Maravilhas é nada mais que a busca de respostas do porquê de as memórias e acontecimentos passados terem voltado de repente. Mas Alice verifica que tudo mudou, notícias dadas pelo Gato de Cheshire ou Gato Risonho, aquele que torce o pescoço. A sério acho o gato sinistro, mete medo. Aliás não gosto de gatos. Alice parece não querer nada com ele, mas Cheshire afirma que não há volta a dar, as regras mudaram no País das Maravilhas e que apesar de Alice não querer enfrentar novos desafios e lutas, isso será inevitável.
Neste ponto, início da aventura, Alice aparece com o seu vestido carismático, mas rapidamente a candura do branco e azul mudará de cor. Também não esquecer que este vestido não é o único da sua caminhada. Conforme percorremos os níveis, Alice é "transformada" esteticamente pela sua roupa. Cor branca, cabelos longos pretos, olhos vidrados e com uma enorme faca ensanguentada na mão, é uma imagem que não se atribui a uma menina. Mas a necessidade faz o espírito de sobrevivência.
As regras no País das Maravilhas não são as mesmas que na realidade. Por essa razão Alice pode planar ao saltar, devido ao seu vestido, pode ficar pequena devido à poção que acabará por encontrar e terá ao seu dispor diversas armas, e ainda poderá melhorar cada das suas armas, isto com a moeda de troca que são os dentes que irá apanhar nos diversos níveis.
Durante os níveis apresentados tivemos ao dispor diversas armas. A faca, que conseguimos atualizar para o terceiro nível, um pimenteiro, que atira sementes de pimenta para poder destruir os inimigos, ou, algo surreal, fazer espirrar focinhos de porco voadores para revelar certas passagens. Arrebatador no mínimo. Mais para o fim iremos ter acesso a um pequeno coelho de relógio, que é nada mais que uma bomba conta-relógio. Este último é muito útil para abrir portas, bem como distrair os inimigos e os atingir. Mas não pensem que será fácil. Os inimigos apenas são enganados uma vez, da próxima vez evitarão aproximar-se do coelho.
Alice: Madness Returns joga-se de forma fantástica. O jogo é extremamente fluído e rapidamente compreendemos todos os seus segredos. De realçar o incrível aspeto artístico dos níveis, que farão qualquer um que goste de arte em videojogos ficar arrebatado. A mistura explosiva das diversas armas fazem cada embate um festim visual. Também os inimigos têm animações distintas, diferenciado-se muito uns dos outros. Julgo poder dizer que o jogo é incrivelmente complexo neste aspeto. Lutar com um bule de chá enervado com um enorme olho e que atira chá quente para cima de nós, é genial, e ainda por cima com animações de se tirar o chapéu. Que o Chapeleiro não nos ouça.
O jogo é tudo aquilo que queremos um jogo de plataformas, de puzzles(embora não tenha muitos), e com carradas de arte digital. Como já devem ter reparado o jogo surpreende, e estas primeiras horas(longas) de jogo apenas deixou um desejo enorme de nunca sair do País das Maravilhas. Tal como as crianças, que olham para algo banal e criam um universo rico, Alice: Madness Returns tem essa capacidade. Ora devido à sua arte, ora devido às suas surpresas e músicas que acompanham o jogo.
Não falta muito para o jogo ser lançado, chegando a 14 de junho para a Xbox 360, PS3 e PC. Até lá irei explorar mais o jogo, e claro poder testar a versão final, verificando se mantém o mesmo ritmo destes primeiros 20%.