APB: Reloaded - Análise
Nem todos têm uma segunda oportunidade.
O MMO Shooter APB (All Points Bulletin) da Realtime Worlds foi um dos mais importantes projetos do estúdio, e o seu falhanço comercial foi também um dos principais fatores que levaram ao encerramento da empresa Escocesa e consequente lapidação do seu património em 2010. Os direitos sobre a propriedade intelectual de APB acabaram por ser adquiridos pela GamersFirst, um estúdio com bastante experiência em jogos free to play, e por isso apostado em reestruturar APB. Pois bem, esta é uma espécie de reencarnação do jogo, agora sob a nova designação de APB: Reloaded.
Ora é muito raro um jogo ter uma segunda oportunidade dentro desta indústria implacável, e ainda por cima num dos géneros mais cruéis de todos. O desenvolvimento de um MMO muitas vezes é uma questão de "hit or die" para um estúdio, que o diga a Realtime Worlds. Mas o conceito por detrás de APB merecia mais uma oportunidade, sinceramente até é difícil compreender como é que não vimos até hoje um dos principais estúdios a apostar em algo semelhante. Imaginem uma mistura do modo multijogador de GTA e um mundo persistente de um mmo, casados com um modelo free to play que não cai no erro clássico do "pay per win". Esta é a ideia geral de APB, o problema é que como em qualquer videojogo, o segredo está nos pormenores.
Começando pelo início, a primeira coisa que temos que fazer é escolher entra as duas fações disponíveis, Criminals ou Enforcers. Basicamente criminosos com uma ideologia anárquica, ou polícias que acreditam na justiça. O pano de fundo para a ação não podia ser mais "preto e branco", pena que em termos narrativos o jogo não se desenvolva a partir desta premissa. Praticamente não existe narrativa por detrás das fações, e assim a disputa acaba por se reduzir a batalhas da equipa verde contra a vermelha dentro de uma grande cidade. Sem grandes motivos sobre o porquê, ou pelo quê estamos a lutar.
Independentemente dos motivos que vos levarão a escolher a fação, quando criamos a nossa personagem entramos num dos melhores aspetos do jogo, a personalização. Existem imensos componentes para personalizar a personagem de raiz, e ainda temos acesso a mais elementos dentro do jogo, como peças de vestuário e viaturas. É frequente os jogadores passarem muito tempo dentro da zona social conhecida como Breakwater Marina, a única área segura do jogo, e onde os jogadores podem adicionar símbolos e outros elementos à sua personagem, ao carro, e até a criar músicas para ouvir no player incluído no jogo.
Controlamos a nossa personagem na terceira pessoa, com a câmara sobre o ombro ao estilo de Gears of War, no entanto, não existe sistema de cover e a mira comporta-se mais como num FPS do que como um jogo de ação.
Em termos de acessibilidade o jogo dividiu a minha opinião. O tutorial é bastante pobre, existe um distrito dedicado para o básico, mas não passa de janelas de texto a explicar os comandos. A interface também consegue ser confusa, demorei uma eternidade até perceber como é que se fazia algo tão simples como mudar a arma principal, felizmente a nossa versão vinha com um manual bastante completo (sim, ainda leio os manuais). Já no campo da ação o jogo é bastante acessível, aliás, saltar para a ação é tão simples como entrar num distrito e carregar na tecla K, que significa que estamos preparados para uma missão. O sistema de matchmaking do jogo coloca-nos em fila de espera para um grupo, e depois automaticamente começamos uma missão de várias etapas com outros jogadores.
"Engraçado como é perfeitamente possível que um jogo carregado de limitações e erros de design nos prenda e divirta por várias horas."
Os objetivos da missão em si não têm grande sentido e são muito repetitivos. Envolvem sempre ir do ponto A até ao ponto B da cidade para roubar algum artigo, defender ou capturar um edifício, interagir com um objeto, sempre algo deste género. A parte divertida é que existe uma equipa adversária de jogadores da fação oposta, e apenas uma das equipas pode vencer a missão. É bastante divertido participar em sessões de tiroteio e perigosas perseguições com os veículos, principalmente quando estamos em equipa, esse será o principal motivo que vos fará querer continuar nas missões. Não posso comparar a condução com o primeiro APB porque não o joguei, mas pelo que pude ver conduzir era uma missão torturante na primeira versão. A verdade é que se nota trabalho nesta área, o controlo dos veículos está bastante competente no estado atual.
Normalmente a ultima etapa da missão envolve a captura de um ponto, e isso promove o chamado "camping", a equipa que chegar a zona primeiro tem uma boa vantagem para depois segurar a posição. Houve uma partida em que o inimigo tinha um beco bem protegido, já estava a ficar cansado de morrer a tentar entrar, até que decidi pegar num veículo 4x4, entrar pela parte de trás do beco e espatifar a viatura a grande velocidade, esmagando um maldito contra um muro e desbloqueando uma medalha no processo. Existem sempre bastantes possibilidades de abordagem, o adversário pode até ter a arma mais cara do jogo, mas ninguém sobrevive entre um muro de pedra, e um 4x4 a 100Km/h.
O comportamento que temos nas ruas afeta a nossa notoriedade (ou prestígio no caso dos Enforcers), coisas como atropelar pessoas, assaltar carros ou espatifar estruturas aumentam esse grau de notoriedade, aumentando as recompensas das missões. Temos ainda um sistema de threat rank que determina o perigo que a nossa personagem representa para a fação oposta, mediante os objetivos que conseguimos completar com os nossos contactos. A cada dez ranks recebemos um novo título e um novo ícone.
As vantagens de ter uma conta premium encontram-se no campo da conveniência, e por isso nem os novos jogadores, nem os que optem por jogar gratuitamente vão notar grandes desvantagens no campo do gameplay. Claro que inicialmente vão encontrar adversários que vos vão matar vezes sem conta, mas com as missões vêm créditos, e com os créditos vêm melhores armas. Os utilizadores premium têm um multiplicador às recompensas das missões e ainda um desconto nos artigos na loja por isso o seu progresso é naturalmente mais rápido.
"Praticamente não existe narrativa por detrás das fações, e assim a disputa acaba por se reduzir a batalhas da equipa verde contra a vermelha dentro de uma grande cidade."
Um dos distritos mais interessantes no jogo é conhecido como The Beacon, uma série de edifícios em construção onde se realizam batalhas estilo "deathmatch". Aqui o único objetivo é matar mais adversários do que a outra equipa, sem complicações, apenas tiroteio puro. O ponto forte desta zona é sem dúvida o ambiente, com prédios de vários andares ainda em construção, ou seja, sem grande parte da estrutura. Vão correr através de vigas a vários metros de altura enquanto disparam contra os adversários, ideal para jogar de sniper. Por falar em sniper, o jogo não faz distinção acerca da zona do corpo onde acertamos o tiro, assim, levar com uma bala na barriga terá exatamente o mesmo resultado na nossa vitalidade do que uma bala bem no centro da testa, o famoso "head-shot".
A nível visual, os mais exigentes vão ver um jogo com aspeto de geração passada. Claro que importa sempre referir que neste género de jogos a framerate é bastante mais importante do que a fidelidade gráfica, e nesse campo não tive problemas. Graficamente é sem dúvida um jogo sem grande profundidade, pouco detalhe e com texturas bastante opacas. Em termos de estilo recorre da recriação de ruas reais, com alguns traços punk e cartoon nos cenários. As personagens e veículos serão do estilo que quiserem graças ao riquíssimo sistema de personalização. Uma última nota positiva para a banda sonora que toca nos auto-rádios das viaturas, estão perfeitamente enquadradas com o estilo do jogo.
Engraçado como é perfeitamente possível que um jogo carregado de limitações e erros de design nos prenda e divirta por várias horas. Gostei imenso da experiência com APB: Reloaded para o propósito desta análise, mesmo sabendo que mais uns dias e provavelmente saturava pela tremenda falta de objetivos e propósito. A natureza imediata do jogo, com missões rápidas e mundos compactos permitem estar sempre em ação, e isso é gratificação imediata. No entanto, faltam-lhe mais do que camisas floridas e caçadeiras mortíferas para criar uma relação de compromisso com o jogador, o cerne de um MMO.