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Fe - Análise

O belo, o artístico, e o frustrante.

Fe é uma experiência artística interactiva que tanto te pode surpreender e encantar, como no momento seguinte te deixará frustrado.

Depois de alguns indies irreverentes, mais focados na comédia, a Zoink Games decidiu finalmente subir a parada e procurar alcançar um patamar de excelência superior. À semelhança do que a Giant Squid em ABZÛ ou a Tequila Works em RiME tentaram fazer, inspirando-se na pioneira thatgamecompany quando demonstrou que poderia existir todo um novo conceito em formato videojogável com Journey, a Zoink decidiu criar a sua própria poesia interactiva de deslumbrante tom artístico com Fe. Descrito como uma jornada narrativa focada no sentimento de querer pertencer a um lugar, de nos sentirmos como parte do mundo, Fe recorre a lendas nórdicas para te apresentar uma floresta repleta de criaturas mágicas e máquinas maléficas. É uma forma altamente artística e abstracta de abordar a eternamente pertinente questão de como o ser humano trata este planeta.

Ao criar um título que pode ser descrito como uma experiência artística interactiva, os responsáveis tiveram de pensar cuidadosamente na gestão entre experiência e videojogo, e no nível de controlo e mecânicas que são apresentados. Poucas mecânicas podem tornar o gameplay muito ligeiro e desprovido de desafio, mas muitas mecânicas ou funcionalidades podem complicar desnecessariamente o jogo. Fe tenta um melhor equilíbrio do que outros jogos com uma proposta comparável, o que lhe permite destacar-se tanto pelo bem como pelo mal. Essa foi a maior surpresa que senti ao jogar Fe. Não é aquela vitória de caras que acreditei que seria após o que vi do jogo. Algumas falhas na execução macham o potencial que tinha para ser mais um apaixonante e doce título. Especialmente porque a narrativa visual que te é contada é feita através de uma tela fascinante, capaz de te deixar totalmente rendido.

Fe poderia ser descrito como um jogo de plataformas que transforma a simplicidade na sua melhor arma. Um jogo onde controlas uma pequena criatura cujo único propósito é sentir que pertence uma enorme floresta que está a ser atacada por máquinas. O pequeno personagem saltará pelos cenários à procura dos segredos da floresta, interagindo com os animais através do seu canto. Ele canta para pedir a ajuda dos animais da floresta, que de várias formas prestam a sua assistência para permitir progredir. Cada animal exige um tipo de canto específico e esta é a base do gameplay de Fe, a fonte do seu dinamismo que tenta complementar a veia poética visual.

Existem duas acções básicas em Fe: saltar e cantar. É isto que passarás o teu tempo a fazer e, no geral, Fe é um jogo relativamente simples e sem grande desafio para o jogador. Isso não é propriamente um problema neste caso, existem valores superiores que recebem o destaque. A narrativa visual, o fluir da experiência, a sintonia com o mundo, a interacção com os animais, o desfrutar da música, o incutir da sensação de pertencermos aquele mundo. Uma viagem por ambientes mágicos, capazes de tocar a tua alma. Pelo menos é o que a Zoink pretendia e consegue em certa medida, mas não sem alguns erros graves que comprometem o pacote completo.

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"Fe tenta combinar arte interactiva com um gameplay mais variado, o que lhe permite destacar-se, mas também cometer mais falhas".

Fe pede-te para escutar a floresta e tentar descobrir os propósitos das misteriosas máquinas que atacam os animais. Terás de saltar pelos cenários para chegar ao local desejado, de interpretar o cenário para entender por onde ir e, ocasionalmente, de te esconder nas relvas pretas das máquinas. Fe apresenta algumas secções mais fechadas e outras mais abertas para momentos mais épicos, mas no geral a experiência foca-se nestas duas mecânicas, saltar para chegar ao local desejado e cantar para interagir com a floresta. Diferentes animais exigem cantos diferentes e terás de os descobrir para pedir a ajuda desse animal específico. Enquanto estás imerso naquele mundo a descobrir estas mecânicas e a forma como Fe funciona, estás entretido, rendido e encantado. No entanto, sentirás que Fe apresenta-te as suas melhorias ideias, o seu melhor design, nas suas primeiras horas e que depois apenas se repete, ou desnecessariamente se complica.

Há momentos maravilhosos, mas terás de iniciar a jornada sabendo que sentirás muita frustração para lá chegar. Exigirá alguma paciência de ti pois a Zoink falhou em elementos básicos. Se Fe te tenta apaixonar com os seus visuais e com a narrativa sem palavras, algo que consegue e muito bem, também te deixará à beira de um ataque de nervos com a sua câmara e com alguns elementos básicos do gameplay. Mais do que sentir que os controlos não são tão precisos quanto deveriam, sentirás que algumas mecânicas falham inexplicavelmente (muitos dos melhores momentos serão arruinados porque os controlos falharam ou as mecânicas não funcionaram como deviam), quebrando totalmente a imersão e forçando-te a voltar a jogar segmentos que perdem o encanto quando são repetidos. Pior ainda quando sentes que a culpa é do jogo. Combinado com uma câmara fraca, Fe é um jogo que falha em vários aspectos básicos que o comprometem.

"Fe facilmente dividirá as opiniões e a sua magia não convencerá todos a suportar as suas falhas".

A Zoink merece respeito por tentar criar um jogo como Fe. Em muita coisa consegue algo que te deixará facilmente rendido. Não mencionarei momentos específicos para não estragar surpresas a quem quer jogar, mas Fe tem momentos de grande classe, sempre patrocinados pela sua estética singular. Estes momentos conseguem mostrar bem a ambição desta equipa indie, no entanto, o encanto pelos visuais e pelo conceito de uma narrativa sem palavras é afectado por uma falha em comunicar melhor com o jogador, com os problemas de câmara, com as falhas nos controlos ou quando o personagem parece ficar preso no cenário, sem esquecer os constantes castigos que sofres sem culpa nenhuma. Muitas secções mágicas tornaram-se em momentos de frustração quando fui forçado a repeti-las sem culpa nenhuma.

Fe é um jogo belo e que procura seguir exemplos como Journey, Abzû ou RiME, que caminharam naquela fina linha que separa experiência interactiva de videojogo. Fe consegue ser mais videojogo do que os outros, mas também abre a porta a mais falhas e será fácil sentir que encontras uma experiência desequilibrada. Fe é adorável, está repleto de momentos mágicos que te deixam apaixonado pelo jogo, mas também exigirá muito de ti, alguma paciência, para ultrapassar a frustração e irritação. Não é um preço que imaginasse pagar pela magia de Fe e nem qualquer jogador se sentirá pronto para pagar. No entanto, Fe permanecerá como um fantástico esforço de um estúdio indie que tentou incutir alguma magia a uma indústria que bem precisa dela. É pena que não tenha sido mais competente.

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