Blood & Truth é um jogo AAA para o PS VR, afirma produtor
"Ter o apoio da Sony é muito importante, estão mesmo a apoiar muito o VR."
Anunciado na Paris Games Week de 2017, Blood and Truth é um dos títulos mais aguardados e promissores para o PlayStation VR. O jogo está a ser desenvolvido pela London Studio, uma equipa interna da Sony, e está agendado para 2019.
Blood and Truth é descrito como um jogo em que te tornas um herói de acção, funcionando na pratica como um jogo de tiros na primeira pessoa em que podes, simplesmente pelo estilo e espectáculo, realizar vários truques com as armas.
Recentemente tivemos a oportunidade de entrevistar Iain Wright, o design director de Blood and Truth, e de colocar-lhe as nossas questões sobre o jogo, desde as opções de acessibilidade, a importância da história, a longevidade e o valor da repetição, e também sobre o futuro da realidade virtual.
Entrevista com Iain Wright, design director de Blood and Truth
EG: O que se passa com Blood and Truth? Já joguei várias vezes a demo em eventos como este, mas até agora não há uma data de lançamento sólida.
IW: Será lançado em 2019.
EG: Mas não está definido nenhum mês ou dia?
IW: Não, ainda não.
É muito importante fazermos isto direito. A equipa em Londres está a trabalhar duramente. A demo que temos aqui já é a terceira, tem imensas melhorias. Estamos muito orgulhosos e queremos que seja tal como nós queremos.
EG: Então têm estado a adiar o lançamento para que possam incorporar o feedback das pessoas que jogaram a demo?
IW: Bem... sem dúvida que é um pouco isso. É um jogo muito ambicioso e desde o início que quisemos fazer algo especial para VR. O facto de termos a Sony a apoiar-nos é uma oportunidade real para fazer algo especial. Portanto queremos assegurar-nos que fazemos isto direito e estamos bem encaminhados nesse sentido.
EG: Os jogos para VR têm algumas limitações comparativamente a outros jogos. No vosso caso, é um jogo on-rails. Como é que explicam a transição de um jogador de outros FPS, como Call of Duty, Destiny e Battlefield, em que consegues controlar a personagem, para um jogo como Blood and Truth, que é mais imersivo, mas limitado em termos de movimentos?
IW: É uma boa questão. No início de Blood and Truth tínhamos muitos protótipos de sistemas de locomoção livre, mas o que era realmente importante para nós era a sensação de seres um herói de acção.
"Não é on-rails, é um sistema de locomoção que funciona por bases"
No jogo és uma personagem com um historial militar e queríamos que pudesses usar ambas as tuas mãos e deslocares-te livremente. Não é on-rails, é um sistema de locomoção que funciona por bases e que aproveita o historial militar.
A tua personagem vai estar sempre à procura de cobertura e de ficar num sítio vantajoso. Podes fazer "strafe" no jogo, escolher para onde vais e neste momento não mudaria no nosso sistema de locomoção por movimento livre porque funciona muito bem para o nosso jogo. Portanto, nós investigamos isso e acho que acertamos com o nosso sistema de locomoção.
EG: O jogo terá suporte para o Aim Controller?
IW: Sim. Adoramos o Aim Controller. Existem alguns desafios, até porque a melhor forma de jogar é com dois PlayStation Move...
EG: Porque podes ter uma arma em cada mão?
IW: Sim, podes ter duas armas, podes subir escadas e coisas assim. Estamos definitivamente à procura de formas de suportar o Aim Controller.
EG: Apenas usei o Aim Controller com o Farpoint, o jogo que foi lançado com este acessório, mas uma das coisas que adorei foi o realismo de apontar a arma, de ter que olhar para a mira. É uma grande diferença para um FPS, porque normalmente apenas tens que carregar num botão para apontar, mas com o Aim Controller tens que fazer um movimento natural de espreitar para a mira da arma.
IW: Concordo completamente. Mas acho que o Blood and Truth é mais do que um FPS, temos uma história envolvente, muitas cenas com drama. Também temos armas para duas mãos no jogo e estás absolutamente correto, podes pegar nelas e olhar pela mira. Adoramos o Aim Controller e estou de acordo contigo, funciona muito bem. Estamos a procurar formas de suportá-lo de alguma maneira.
EG: Com os jogos do PlayStation VR normalmente existe uma diferença entre jogar no modelo PS4 normal e na PS4 Pro. Os jogos do PlayStation VR são daquele tipo em que sentes que precisas mesmo de muito poder cru para que o jogo corra bem. No caso do vosso jogo, vão existir diferenças mediante o modelo da PS4?
IW: Não existe uma grande diferença. Obviamente que a PS4 Pro é ligeiramente mais poderosa e podemos aumentar um pouco mais a resolução, mas Blood and Truth funciona bem na consola padrão e foi esse o modelo para o qual desenvolvemos.
Em termos de melhorias, será como outros jogos. Melhorias gráficas, mais resolução... mas desenvolvemos para a consola padrão e eu costumo jogar aí. Funciona bem em ambos os modelos.
EG: Para o futuro, qual é a principal melhoria que gostarias de ver num kit de realidade virtual? Pessoalmente, sinto que a realidade virtual precisa de ser wireless. Com jogos com bastante movimento, como um FPS, em que precisas de olhar à tua volta e mexer-te, podes ficar enrolado nos fios e quebrar a imersão.
IW: Penso que, como todas as tecnologias, vai melhorar e ficar cada vez melhor. Penso que há outros kits de realidade virtual que já são wireless... e a Sony tem um excelente registo com o desenvolvimento de hardware.
Não tenho nada oficial para anunciar, mas penso que vais ver a tecnologia a crescer e quando tens a Sony a apoiar-te o futuro será muito risonho.
"Vais ver a tecnologia a crescer e quando tens a Sony a apoiar-te o futuro será muito risonho"
EG: Não estava à procura de algo oficial, tipo "a PS5 vai ter VR wireless!". Só queria saber a tua perspectiva de produtor sobre os aspectos da realidade virtual que precisam de ser melhorados.
Para mim os jogos precisam de ficar confortáveis. Quando chego a casa, e penso em jogar, olho para o VR e sei que se estiver cansado, ficarei ainda mais cansado. Acho que no futuro os jogos da realidade virtual precisam de ser tão confortáveis como jogar numa televisão.
IW: É uma excelente questão. O VR é muito diferente, é tão mais imersivo!
Uma das coisas que fizemos em Blood and Truth foi tentar implementar pausas naturais em que se quiseres podes parar de jogar e não perdes progresso na história. Mas, se fores um veterano do VR, podes continuar.
Penso que vais ver melhorias gráficas e no nosso caso estamos bloqueados a 60 fotogramas por segundos sem quedas, mesmo numa PS4 normal. O conforto é muito importante para nós.
No futuro também vais ver as resoluções a ficarem melhor, o hardware vai continuar a crescer e a melhorar. É muito entusiasmante ser um produtor para realidade virtual, vou estar a fazer jogos durante 20 anos! Esta é a época mais entusiasmante para mim.
É como começar de novo. Temos visto muita inovação e podes uma grande quantidade de experiências diferentes. É realmente uma época entusiasmante.
EG: Achas que o investimento de editoras como a Sony ou outras companhias vai aumentar nos jogos VR? Por agora, o VR é uma coisa muito recente e o PS VR só chegou em 2016. Em dois anos vimos alguns jogos excelentes como Moss...
IW: O Moss é fantástico!
EG: As pessoas adoraram-no. Mas a minha pergunta é: será que eventualmente teremos um jogo AAA para a realidade virtual?
IW: Sim, existe um caminho, chama-se Blood and Truth! É exactamente para isso que estamos a apontar, uma experiência AAA em VR. Ter o apoio da Sony é muito importante, eles estão mesmo a apoiar muito o VR e acredito que vai crescer.
O PS VR está a vender muito bem, existe um attach rate muito bom, há muitas pessoas a usar e é excelente para a realidade virtual. Vai continuar a crescer e penso que vais começar a ver os maiores estúdios a apoiá-lo. Está a crescer, constantemente a crescer.
"É exactamente para isso que estamos a apontar, uma experiência AAA em VR"
EG: Para as pessoas que são novatas na realidade virtual, Blood and Truth terá opções de acessibilidade?
IW: Sim. Tu falaste do nosso sistema de locomoção e parte disso foi para tornar o jogo o mais acessível possível, para não teres que decorar botões.
Algumas pessoas, se puseres um comando nas suas mãos, especialmente se forem novas nos videojogos pode ser... com o London Heist e o VR Worlds, que desenvolvemos antes, tivemos casos em que era uma experiência chocante.
A acessibilidade é realmente importante. Coisas como opções de conforto vamos perguntar no início do jogo se és novo na realidade virtual ou se és veterano. Temos várias opções de acessibilidade para torna-lo acessível a toda a gente.
EG: Como é que é a jogabilidade de Blood and Truth com o Dualshock 4? Eu jogo sempre com os PlayStation Move, mas com o custo da realidade virtual, acho que nem todas as pessoas têm esses comandos.
IW: Blood and Truth suporte o Dualshock 4 e podes jogar do princípio ao fim com esse comando. A experiência premium é com dois controladores PlayStation Move porque dá-te duas mãos, mas podes jogar tudo com o Dualshock.
EG: No que toca à longevidade, disseste que o vosso jogo é um AAA e que é como ser um herói num filme de acção. Será mais longo do que um filme destes?
"O jogo principal terá entre seis a oito horas, mas tens várias razões para voltar a jogar"
IW: Estamos algures entre seis a outo horas da primeira vez que jogas. Existem pontuações nas missões portanto existem razões para regressar. Há coisas para colecionar, podes jogar com armas diferentes.
Portanto, o jogo principal terá entre seis a oito horas, mas tens várias razões para voltar a jogar. Tens tantas coisas para dominar no jogo, podes ser muito bom com as armas, atirar um carregador ao ar e apanhá-lo, girar as armas e todo este tipo de coisas.
Existem muitos conteúdos para jogador hardcore. E sabes que mais? Estamos a desenvolver desde que acabámos o VR Worlds e ainda adoro jogar Blood and Truth... podes aprender a jogar muito bem. Algumas das coisas que os nossos tipos de QA (quality assurance) fazem são espectaculares. Estamos à espera de ver algumas pessoas a tornarem-se mestres no jogo.
EG: Já que falaste com os truques das armas, cada uma terá truques diferentes?
IW: Sim, existem formas diferentes de recarregar, temos armas para duas mãos como caçadeiras, SMGs, espingardas, diferentes tipos de pistolas e podes segurar em duas ao mesmo tempo, vamos ter diferentes formas de recarregar armas que serão genuínas à arma em questão. As caçadeiras serão recarregadas na parte superior e poderás virá-las para cima para recarregar os cartuchos mais rapidamente. Quando estás em câmera lenta podes atirar dois carregadores para cima e apanhá-los com as armas. Portanto, sim, cada arma tem as suas características e um uso próprio dentro do jogo.
Também queremos deixar liberdade para os jogadores. Se és aquele tipo de jogador que gosta de demorar o seu tempo e usar uma arma silenciosa para derrubar os inimigos sem que estes se apercebam que estás lá, podes fazer isso. Mas também podes usar duas metrelhadoras e rebentar com tudo.
EG: Ainda sobre as armas. Podes escolher as armas antes do nível ou podes apanhar novas enquanto estás a jogar aquele nível?
IW: Ambas. Começas cada missão com um loadout que escolheste. Podes ter duas armas nas costas e duas armas nos lados, e vais aumentar o teu arsenal ao longo do jogo. Mas nas missões vais encontrar armas que foram modificadas com silenciadores, novas miras, lasers. E também podes personalizar as tuas armas com pinturas.
EG: Não existe qualquer tipo de multijogador ou cooperativo?
IW: Não, desta vez não. Acho que vai ser uma parte do futuro, vais ver cada vez mais jogos com multijogador e cooperativo, mas este jogo é sobre imergir o jogador numa narrativa e no mundo. Temos o adorável cenário de Londres, que é mesmo fora da nossa porta.
Jogos como Farpoint provaram que isso pode funcionar muito bem, com o multijogador e o Aim Controller. Funciona definitivamente na VR, mas Blood and Truth quisemos que imergir-te no teu filme de acção.
&EG: O quão importante é a história para Blood and Truth? Às vezes há jogos com uma excelente jogabilidade, mas que depois a história parece que foi apressada ou não recebeu a devida atenção.
IW: É super importante. Quando começamos a fazer Blood and Truth, o drama interactivo e a história foram um dos nossos pilares. É uma grande parte do jogo, trabalhamos com consultores de história de Hollywood, nomeadamente com Rick Porras, que esteve envolvido em Lord of the Rings e muitos outros shows de televisão e filmes.
"Tralhamos com consultores de história de Hollywood, nomeadamente com Rick Porras, que esteve envolvido em Lord of the Rings"
Temos um cast fantástico, óptimos desempenhos, muitas reviravoltas, muitas surpresas. Para mim é uma das coisas mais importantes. Penso que a VR faz isto de uma forma bem única, estás mesmo lá com estas personagens, naquele mundo.
EG: O jogo todo passa-se em Londres?
IW: Sim, passa-se em Londres. Uma das coisas notáveis de Londres é que tens o cascalho e o glamour, os becos decadentes, e as casas abandonadas... mas também tens hotéis de luxo, galerias de arte e casinos. É um excelente local para um jogo, em particular um jogo para VR. E Londres está mesmo fora da nossa porta e é muito convincente.
EG: Visto que é um jogo de acção, vamos ver alguns monumentos a explodir?
IW: Fica atento a este espaço!
(risos)
Existem certamente partes de Londres, se alguma vez estivestes lá, que serão reconhecíveis. É uma versão de Londres definitivamente reconhecível. E também existem muitas explosões.
EG: Pois... se quisesses explodir com o Big Ben num jogo precisas de uma licença, certo?
IW: Sim, precisas de permissão para fazer isso. Vês isso a acontecer em filmes, mas estás certo, é preciso uma permissão. Em partes icónicas de Londres como o metro, os autocarros, os táxis... precisas de permissão para isso.
Tivemos permissão para filmar certas linhas do horizonte e coisas assim. Novamente, é um excelente local para um videojogo. Talvez o próximo seja em Lisboa.
EG: Por acaso, acho que Portugal é um sítio excelente para filmes e videojogos, mas acho que não somos bons a vender o que é o nosso. Os americanos são excelentes nisso. O sinal de Hollywood é apenas umas letras numa colina e há pessoas de todo o mundo a ir lá.
IW: Um dos nossos produtores, que está no escritório em Londres, é de Lisboa e ele vende a cidade muito bem. Tem mesmo orgulho de ser de Lisboa.
EG: Por agora é tudo. Obrigado por responderes às nossas questões.