Dreams review - Um jogo tão bom quanto a tua imaginação
Sempre sonhaste criar o teu próprio jogo?
Dreams é um jogo como nenhum outro, que desafia as expectativas convencionais do entretenimento. A Media Molecule pegou no mesmo conceito poderoso de Little Big Planet - o de colocar o poder criativo nas mãos da comunidade - e retirou-lhe todos os limites. Enquanto Little Big Planet estava muito associado aos jogos de plataformas, embora as sequelas tenham expandido as possibilidades, Dreams não te força a criar jogos de um só género. As possibilidades são infinitas, indo muito além daquilo que podes criar num Super Mario Maker, por exemplo. Por um lado, Dreams é extremamente intimidante com a sua complexidade criativa que exige dezenas de horas para aprenderes a mexer nas ferramentas, mas por outro, também é altamente entusiasmante ter ao nosso dispor um motor de fazer jogos que não requer conhecimentos em linguagens de programação.
Queres ser um criador ou um curador?
Os jogadores podem desempenhar dois importantes papéis no ecossistema de Dreams: podes ser um criador ou um curador. Estes últimos têm o papel de destacar as melhores criações de Sonhos, atribuindo gostos aos Dreams que mais experimentaram, ajudando assim a separar o trigo do joio. Durante o período de testes com Dreams passei por vários tutoriais para conhecer as ferramentas que o jogo oferece, mas confesso que desempenhei muito mais o papel de curador do que criador. Isto serve para dizer que Dreams dá-te escolhas: apesar de ser uma ferramenta de criação incrível, podes simplesmente optar por jogar as criações das outras pessoas e ajudar a destacá-las.
"Apesar de ser uma ferramenta de criação incrível, podes simplesmente optar por jogar as criações das outras pessoas"
A Media Molecule criou vários dreams (sonhos), incluindo jogos inteiros, que servem como exemplo para mostrar as possibilidades das ferramentas criativas, mas grande parte da piada e da diversão de Dreams vem de experimentar e explorar as muitas criações dos jogadores. Os jogos incompletos e experimentais são, neste momento, mais comuns do que jogos inteiros, mas é fascinante ter acesso a tantas visões criativas diferentes. Facilmente perdes umas horas apenas a navegar pelos menus, entrando em diferentes sonhos e saltando para outros. Há experiências de todos os tipos. Há sonhos que são meramente contemplativos, outros são demos de jogos inteiros que estão para vir, há aqueles que são bizarros, e os que são estupidamente divertidos, como Southpaw Cooking e Art Therapy.
À medida que vais criando coisas ou experimentando as criações dos outros sonhadores, sobes o teu nível em cada função, definindo cada vez mais o papel que desempenhas no ecossistema de Dreams, um jogo que é puramente constituído por sonhos, possibilidades, e o desejo de criar.
Podes criar em conjunto com a comunidade
Dreams é, acima de tudo, um jogo comunitário. Todos podem contribuir de alguma forma. Se tens muito jeito para criar faixas musicais, podes fazer exclusivamente isso. Podes dedicar-te à criação de faixas musicais para que outras pessoas possam usá-las nas suas criações. Se preferes modelagem, podes criar modelos de vários objectos e disponibilizá-los para a comunidade. Há vários sonhos que nos créditos têm o nome de várias pessoas, ou seja, o jogo deixa que, de certa forma, juntes a tua equipa de desenvolvimento de jogos, havendo uma ou várias pessoas dedicadas à arte, ao som, à gameplay, à interface, e por aí em diante. Nunca foi tão fácil criar um jogo como agora.
"Nunca foi tão fácil criar um jogo como agora"
Os esforços da comunidade já produziram remakes surpreendentes de jogos como Spyro The Dragon, Crash Bandicoot e Sonic The Hedgedog, uma pequena amostra da liberdade criativa de Dreams. Embora estes remakes criem imediatamente mediatismo por serem homenagens a títulos clássicos, há jogos originais fantásticos como The Pilgrim que mostram o talento que existe na comunidade de Dreams. Se a cena indie veio abrir as portas para uma variedade muito maior de jogos, permitindo que jogos que nunca iriam ser aprovados pelas editoras ficassem disponíveis para o público, Dreams vem trazer esse mesmo movimento para os consumidores. Todos podem criar jogos com Dreams.
Não sou produtor de videojogos e não tenho os conhecimentos técnicos para isso, portanto, não sei especificamente que limitações Dreams tem em relação a motores de desenvolvimento convencionais de videojogos como o Unreal Engine ou Unity, mas não me parece que a Media Molecule queira competir sequer com essas ferramentas. Dreams foi criado para poder ser usado por qualquer pessoa. Podes criar um jogo apenas com um Dualshock 4. Se me dissessem há uns anos que seria possível criar jogos com um comando não mão, diria àquela pessoa que estava maluca. Mas a ambição da Media Molecule não teve limites. É um sonho convertido numa ferramenta que dá vida aos sonhos das outras pessoas.
Quão difícil é criar um jogo?
Depende. Há factores como o género, conceito, escala, duração e complexidade que ditam o quão desafiante criar um jogo em Dreams. Ao teu dispor encontras vários tutoriais - e são mesmo muito bons, com explicações e vários passos detalhados - que te ensinam a mexer nas muitas ferramentas de Dreams. As ferramentas são mesmo muitas e demora algum tempo - eu diria pelo menos 10 horas - para aprenderes a mexer minimamente bem em cada uma delas. Se queres ser criativo, Dreams exige dedicação, aprendizagem e estudo. Não esperes criar logo algo fantástico nas primeiras horas (não estou dizer que isso não vai acontecer, mas é improvável porque primeiro tens que aprender a usar as ferramentas).
Há certas que coisas que provavelmente seriam mais fáceis de fazer com rato (aparentemente a PS4 não tem mesmo compatibilidade) e teclado (podes usar um teclado para introduzir texto), mas há que dar o devido mérito à Media Molecule por conseguir converter todos os controlos necessários à criação de um jogo ao Dualshock 4 - também podes usar os controladores por movimento PlayStation Move, que dão mais jeito para algumas coisas. Não há como esconder que os controlos requerem algum tempo de habituação, mas assim que começas a adquirir memória muscular, tudo se torna mais acessível e fácil. Como tudo o resto na vida, quanto mais tempo dedicares à criação em Dreams, mais competências terás.
"Não há como esconder que os controlos requerem algum tempo de habituação"
Falta mencionar que há ajudas valiosas como a utilização de uma grid para colocares as coisas perfeitas e em linha recta - é surpreendentemente difícil colocar as coisas alinhadas com os analógicos e precisas mesmo de activar estas ajudas no menu das ferramentas. Ou seja, apesar de não existir suporte para rato, a Media Molecule colocou ajudas e opções em Dreams que ajudam a mitigar isso.
Vale a pena jogar Dreams?
Dreams é um jogo radicalmente diferente daquilo que encontramos habitualmente no catálogo de exclusivos da PlayStation. Se esperas encontrar aqui uma experiência igual ou semelhante a God of War, Uncharted, Bloodborne, entre outros, vais sair defraudado. Não tem menos valor do que esses jogos, mas por ser tão diferente do convencional, convém perceber bem em que consiste Dreams. Se tivesse que descrever Dreams, diria que é mais uma plataforma e uma ferramenta criativa do que um jogo. É nesta plataforma, chamada Dreams, que encontras os sonhos da Media Molecule e de todos os utilizadores que estão a ter um papel activo na criação de conteúdo.
Mas para responder mais directamente à questão que eu próprio coloquei, sim, vale muito a pena! Dreams é uma das coisas mais fascinantes e poderosas que surgiu no mundo dos videojogos. A Media Molecule conseguiu simultaneamente criar uma plataforma que é a casa de um número crescente de jogos e ferramentas criativas que são acessíveis aos utilizadores comuns. É um produto sem igual e que continuará a ficar cada vez melhor com o passar do tempo, à medida que mais e mais pessoas se envolverem neste ecossistema de criação partilhada.
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