Será Giancarlo Esposito suficiente para salvar Far Cry 6?
O que há de novo nesta nova incursão.
A Ubisoft proporcionou-nos a oportunidade de experimentar em primeira mão o seu novo Far Cry 6, um dos grandes AAA que será lançado em breve. Após um intervalo de dois anos desde a anterior aposta da série com Far Cry New Dawn, que de facto foi mais uma espécie de spin-off, regressa agora com o intuito de voltar a captar seguidores que, com frequência, o denunciam pela falta de inovação e modificações substanciais num formato já cristalizado. Esta nova abordagem vem com uma bagagem de boas intenções, assente numa narrativa promissora que faz lembrar muito Cuba na atualidade. Para temperar ainda mais as coisas, a Ubisoft realizou uma importante contratação para o papel de vilão, o magnífico Giancarlo Esposito, ator conhecido por trabalhos em séries de sucesso como Breaking Bad, The Boys e, mais recentemente, The Mandalorian.
O resgate de Giancarlo Esposito verifica uma conjugação de expetativas que pessoalmente já não sentia desde o meu adorado Far Cry 3. Toda a narrativa parece mais empolgante e realizada de forma menos artificial do que nas apostas anteriores da série, dando-lhe um semblante mais condigno. Foi realmente a parte da narrativa que me cativou logo de início nesta amostra a que tive acesso, mas obviamente que mais pormenores sobre a mesma serão revelados na review final. Mas até ao momento fiquei agradado.
Foram várias horas a jogar esta sexta incursão. Tive a oportunidade de o experimentar desde o início e pude assim verificar como todo o enredo é introduzido, especialmente o que nos motiva em Far Cry 6. Mais tarde, houve um salto na linha temporal para explorar mecanismos e armamentos mais avançados, o que foi interessante. No momento, o que mais importa são as novidades que traz na sua bagagem, nomeadamente as mecânicas relacionadas com as várias hipóteses de personalização em sincronia com a forma com estas são aplicadas às várias tarefas a executar.
Tudo é muito familiar, com a mesma abordagem e formatação de como a história é contada, bem ao estilo a que a Ubisoft nos habituou ao longo dos anos. O desdobramento de toda a evolução narrativa é num modelo habitual e frequente na série, não vamos encontrar aqui coisas novas. Também temos muitas similaridades nas mecânicas da jogabilidade, desde saltos de paraquedas, o regresso do wingsuit , um gancho para escalar, e diversos meios de transporte tais como aviões, carros, cavalos e helicópteros. Nestes pontos, é tudo familiar e do que joguei não encontrei uma elaboração determinante que tenha um traço construtivo distinto que suscite evidentes modificações à fórmula da série.
Consegui terminar várias missões da história, o que me permitiu constatar a tremenda semelhança com as propostas anteriores da Ubisoft para a série Far Cry, mudando apenas o cenário em questão. A parte mais interessantes em termos de mecânicas jogáveis está relacionada com a robustez da personalização, tanto do armamento como do nosso personagem. No armamento, temos a possibilidade de adquirir modificações para moldar a arma ao nosso gosto, e são imensas as possibilidades aqui. Também é dado um forte foco na personalização da armadura, com várias alternativas que nos conferem diferentes capacidades para a criação de um combatente adaptado às circunstâncias. Por exemplo, se vamos para uma missão em que é necessária uma máscara de proteção contra químicos, temos a possibilidade de usar essa proteção.
É bastante evidente o que a Ubisoft tenta criar neste campo da personalização em sintonia com as exigências das missões, aqui é construída uma linha onde o jogador terá de escolher o arsenal adequado para cada embate e dessa forma aumentar as hipóteses de sucesso da missão. De regresso estão também os animais que nos fazem companhia. Tive a oportunidade de jogar com o crocodilo Guapo e o cão carinhosamente chamado de Chorizo. Mais uma vez, são elementos resgatados do passado que têm uma importância relativa, sempre ligada à forma como cada um joga.
Como sempre, o gunplay em Far Cry 6 continua a ser um dos pontos mais sólidos, onde a agilidade é adequada e não sentimos que somos prejudicados artificialmente. Está tudo no ponto natural para a série, se está bem não o corrijas, essa é uma boa política a seguir. Todavia, para ser honesto, estava à espera de outros desafios em termos de jogabilidade. Não fossem as novas armas, gadgets e especialmente a habilidade especial, que é gratificante, a propósito, estaríamos perante algo que apenas mudou de cenário. Não sei se será curto, mas obviamente não joguei o produto final na sua totalidade, e espero ser surpreendido como em 2012 com o fantástico Far Cry 3.
Não posso deixar de destacar a IA aqui presente, e dedicar-lhe este parágrafo. Os problemas do passado estão de regresso, com inconsistências que colocam muitos confrontos a um nível algo caricato. Temos ações sem sentido e uma falta de estratégia na sua conduta. Obviamente, este é um formato que não requer uma IA de topo, mas determinados aspetos deveriam ser aperfeiçoados. A falta de sentido de perigo por parte da IA sempre me causou desconforto, combinada com a artificialidade em combates onde sofremos demasiado dano apenas porque os inimigos são de um grau de dificuldade superior e não pela sua maior inteligência, temos uma receita estranha que torna a interação com a IA pouco satisfatória.
A sessão em far Cry 6 também permitiu jogar o modo cooperativo, proporcionando alguma diversão extra e permite jogar na companhia dos nossos amigos para momentos bem divertidos. Quando em co-op, o detentor da sessão avança na história ao completar as missões da mesma, mas o convidado apenas leva consigo as armas que desbloqueou na sessão cooperativa. Também reparei que é necessário ter cuidado com as sessões em co-op, facilmente existirão spoilers para o convidado se este estiver mais atrasado na sua playthrough. Este ponto não me agradou para um jogo com forte ênfase na narrativa e onde os acontecimentos são importantes para a nossa imersão ao desenvolvimento lento do enredo.
Far Cry 6 é mais uma grande aposta da Ubisoft, com uma narrativa de semblante apelativo onde se destaca a luta contra um regime opressivo. É uma continuidade do trabalho realizado ao longo de tantos anos, uma vez mais a fórmula de 2012 é a base de tudo numa apresentação sólida de toda a sua projeção de mecânicas. Mas estaremos novamente perante uma versão apenas atualizada duma fórmula cristalizada no tempo? A falta de enquadramento e formatação evolutiva pode simplesmente falhar em criar no jogador a sensação de algo novo com ideias arrojadas que esbocem uma nova trajetória. Saberemos no início de Outubro deste ano.