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MXGP 2021 - Review - O espectáculo nas alturas

Saltos para rever em câmara lenta.

Uma edição algo parca em novidades e mudanças de fundo. Serve de actualização e acomoda múltiplos desafios a solo ou em rede.

Desde há muitos anos, senão mesmo décadas, que o estúdio e editora italiana Milestone tem por escopo as experiências de duas e quatro rodas. É a lei mais forte da cilindrada, dos campeonatos e provas oficiais, dos campeões do mundo e do champanhe da consagração. Dos jogos do Moto GP ao Sébastian Loeb Rally, passando pela renovada aventura em Ride e as corridas micro em Hot Wheels Unleashed, a oferta é vasta e diversificada, ainda assim, dirigida à audiência que elege o desporto motorizado como preferencial.

Num ano marcado pela chegada de alguns jogos com o carimbo deste estúdio com sede em Milão, o jogo oficial do MXGP com o campeonato do mundo de motocrosse é a mais recente incursão nos domínios da condução em duas rodas sobre terrenos altamente irregulares e lamacentos, trilhando sulcos e efectuando derrapagens e saltos com o maior domínio. O motocrosse prima pela condução do tipo rali. Aqui, mais do que o pneu largo e slick em asfalto, prevalecem os sulcos para uma maior tracção e aderência em terra. É o rali das motas altas, da terra e lama levantadas a cada passagem em curva.

Cumpre lembrar que MXGP 2021 vem juntar-se a Monster Energy Supercross 4, a licença oficial do supercrosse, recheando as fileiras da Milestone. Pessoalmente prefiro as corridas de MXGP, embora tenhamos que contar que estes jogos sendo anuais estão muito mais sujeitos a um escrutínio permanente, o que não impede muitas produtoras de efectuarem meros ajustes e updates de plantéis, motas, circuitos, relegando para momentos ulteriores uma solidez maior em termos físicos e de desempenho. Precisamente o que acontece com MXGP 2021, que tal como os outros jogos lançados anualmente, ainda que assentes em outras disciplinas, tornam difícil a constatação de melhorias assinaláveis.

O peso da licença vale pilotos, motas e campeonatos oficiais.

Até podemos estar dois a três anos sem jogar, que nas mãos de uma mesma produtora, quase adivinhamos o jogo ainda que às cegas. MXGP 2021 não inscreve grandes mudanças, nem realinha a forma de jogar. Algo que a Milestone tem vindo a sedimentar nestas experiências de duas rodas é um maior tributo do lado da simulação, sem no entanto nunca renunciar a um pressuposto arcade, abrindo o jogo a todos aqueles que não pretendem passar por grandes dificuldades e querem acima de tudo divertir-se nestes circuitos recheados de curvas.

Qualquer fã de motocrosse sabe que o domínio da mota, em curva e em rampa é crucial para se atingir uma acrobacia. A velocidade não é tudo e mais do que andar rápido é fundamental andar bem, bem desenvolto. E muitas vezes, quase sempre, o que conta é a saída e entrada em curva. As rectas tendem a ser escassas, poucas vezes se atinge a velocidade máxima, e quando efectuamos um salto o importante é efectuar uma acrobacia, sem que a mota deixe de atingir o ponto de contacto o mais adiante possível. São também corridas de uma grande dureza física. A concentração na abordagem à curva dita muito do sucesso para uma volta rápida.

Em termos de condução, MXGP 2021 cumpre o meio termo, algures entre a simulação e o registo arcade. É possível mexer nas configurações e alterar os danos e o tipo de condução, explorando opções que tornam mais realista a condução da mota. A exigência é maior ao segurarmos o analógico esquerdo e o direito para moldar o corpo à curva e no decurso do salto. A dificuldade realista não é para todos e requer um bom domínio e compreensão do jogo, pois de outro modo pode tornar-se frustrante. Ainda assim, não noto grandes diferenças face aos últimos jogos. É uma aposta clara de continuidade, para o bem e para o mal, o que significa que se jogaram alguma das últimas edições de MXGP, não será esta edição 2021 que irá mudar a vossa apreciação em termos de condução.

O modo Playgrounds abre caminho à partida para desafios online.

Para agravar, há animações que ainda não estão no ponto. Momentos de queda em que o nosso piloto parece uma peça de roupa a voar debaixo das outras motas, em andamento, ainda provocam alguns risos. Por outro lado, a física nem sempre permite acomodar da melhor forma a dureza de um embate ou de uma queda, com alguns comportamentos um pouco, diríamos, irrealistas. E isto acontece quer estejamos numa toada arcade ou realista.

No que respeita aos tão desejados conteúdos, a matéria renovada ganha forma através do modo carreira. Com todos os nomes oficiais, pilotos, motas e marcas, o objectivo passa por subir nos rankings. Começamos a partir de um editor simples do nosso piloto, onde podemos personalizar alguns aspectos, incluindo o equipamento. Depois há que assinar contrato por uma equipa e começar a produzir resultados. A forma de progresso não é dotada de muitas condicionantes e assenta sobretudo nas classificações. Não há aquela rivalidade entre pilotos, mas podemos fazer cessar um contrato e passar para outra equipa. Para os entusiastas da pista de Águeda, não ficamos desiludidos, já que ela se apresenta na forma de circuito lendário onde se inscrevem alguns dos maiores desafios. Outras provas passam por Itália, México e França, o que demonstra bem o apreço que os produtores nutrem por algumas das provas mais reconhecidas na cena internacional.

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Para lá da carreira e depois das opções habituais que contemplam as voltas rápidas, a realização de um grande prémio de forma autónoma e um campeonato, existe o Playground, que se reduz ao conceito de condução livre, quase sem condicionantes, em três diferentes ambientes. Aqui é o terreno que estabelece as agruras e conhecer os seus limites é uma boa forma de aprender a tirar proveito da mota, através de corridas criadas por marcadores ou por uma exploração livre. A isto acresce um conjunto de opções para o multiplayer, em forma de partilha da competição com mais jogadores ligados à rede, assim como o editor de pistas que nos deixa fabricar novos desenhos e alterar as pistas ao nosso gosto.

MXGP 2021 não é um jogo com grandes rasgos e mudanças face às recentes entradas da série. A Milestone parece interessada em reavivar o impacto da modalidade, através das licenças e do seu mediatismo internacional, renovando alguns sistemas, entre os quais o modo carreira e o Playground, ainda que com mudanças pouco profundas. Na condução as alterações são igualmente comedidas, ainda que haja um manancial de assistências para os menos preparados para as agruras do terreno, que não ocultam no entanto algumas dificuldades nas animações. Com tantos elementos oficiais é normal que um fã da modalidade recupere as corridas online na partilha com os amigos, mas terá dificuldade em encontrar novos conteúdos e razões adicionais que justifiquem a aquisição. A Milestone pode ter lavado a licença, mas ainda está em grande parte assente no bloco de desenvolvimento do passado mais recente.

Prós: Contras:
  • Aproveitamento da licença
  • Liberdade do modo Playground
  • Crossódromo de Águeda
  • Ajustes na simulação
  • Realismo
  • Modo carreira ainda demasiado previsível
  • Falhas em animações
  • Física nem sempre realista
  • Demasiados loadings

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