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As Desilusões do Ano 2010

Para o que te havia de dar.

Quando o ano ia a meio e o Verão ia-nos dando os seus dias quentes, a indústria assistiu ao lançamento de Mafia II, um jogo que se tornou vítima de si mesmo. No meses que antecederam o seu lançamento, o então novo jogo da 2K era promovido com enorme ferocidade e ia deixando transparecer insinuações de qualidade com um piscar de olhos ao superiorizar de Grand Theft Auto IV, um dos valores máximos do género no panorama urbanístico. No entanto, ao contrário do título da Rockstar, Mafia II apostava numa orientação diferente e neste mundo aberto o jogador não tinha tanta liberdade. Para reforçar a sua história e um tom mais cinematográfico, Mafia II autenticamente "controlava" o jogador e ditava o passo a que o jogo decorria.

Nesta Nova Iorque fictícia dos anos 50, as carismáticas personagens davam vida a uma história que era contada através de sequências protagonizadas por protagonistas de alto detalhe. Por outro lado, o esquema de missões altamente repetitivo e algumas mecânicas básicas quando comparadas com outros jogos, faziam com que Mafia II fosse um jogo que não estava à altura do prometido. Chegando mesmo a apresentar limitações descabidas e problemas que já não mais faziam sentido. Por cima disto temos ainda uma longevidade limitada para o que o género nos tinha habituado e se o foco dado à história pode ter agradado muitos, a excessiva falta de liberdade não abonou nada a seu favor. Na análise de 7/10 , Loureiro disse-nos que, "O única aspecto que realmente brilha em Mafia II é a sua história, o resto é apenas razoável. Acabei o jogo em 10 horas e meia. Após concluírem não há muito para fazer...", dizendo ainda que, "Para ser sincero, adorei a experiência que Mafia II me proporcionou, o problema é que para um jogo de 2010, apresenta limitações inadmissíveis e mecânicas datadas."

Uma produção cinematográfica apresentando o Pete e o Repete.

O próximo título neste artigo é um jogo longe de ser consensual e enquanto uns aclamam a sua qualidade, como eu por exemplo, outros, como o Jorge Soares, acreditam que não ficou à altura das suas expectativas. Este título de que falamos é o mais recente jogo da Remedy, Alan Wake. Em desenvolvimento durante cerca de 5 anos, Alan Wake reuniu para si um estatuto raramente visto, foi um dos jogos mais desejados desta actual geração e um jogo que reuniu todo o tipo de atenções durante uma altura na qual as guerras argumentativas entre os donos de consolas estavam no seu expoente máximo. Na sua análise de 8/10 a Alan Wake, o escritor Jorge Soares referiu mesmo que o novo jogo da Remedy é um exemplo da forma adulta com que os videojogos podem ser tratados e com uma qualidade e visão a rivalizar com o que de melhor se vai fazendo nas famosas séries de TV.

Apesar disto, podemos ler que, "O longo tempo de produção poderá ser uma das razões mais fáceis de identificar pela falta de originalidade do jogo, isto em muitos aspectos. Existem razões que fazem de Alan Wake um jogo único, mas outras que o colocam num patamar bem abaixo do esperado. É esta mistura que torna o jogo em algo de picos, uns bons outros mesmo maus." O espantoso ambiente e a sua excelente atmosfera, dignas dos nomes e referências a que tentas vezes o personagem faz durante o decorrer do próprio jogo são dos seus expoentes máximos e sem dúvida elementos que o distinguem de qualquer um que já tenha sido lançado. Diria mesmo que são agora parte fundamental de qualquer produto que seja lançado debaixo deste nome, seja em que formato for.

Alan Wake tinha graciosidade nos dedos mas era preso de pernas.

No entanto, apesar de bom escritor, Alan Wake parecia não saber oferecer algo realmente diversificado e avançado para os padrões da altura em termos da sua jogabilidade. "O jogo é simples na sua forma, não arriscando um milímetro em nada, não importando a direcção. Julgo aliás, que a qualidade do ambiente, com o nevoeiro, os efeitos de luz, o efeito de atmosfera, principalmente na floresta, em suma, o motor de jogo no seu estado bruto, merecia uma jogabilidade a condizer." Esta combinação de jogabilidade datada e ambiente espantoso são os pontos que fazem com que Alan Wake não seja consensual em oposto a ser uma obra incontornável num admirável catálogo de videojogos. O esquema repetitivo e a fraca animação do personagem e dos seus movimentos desmotivaram Jorge Soares que mesmo assim ficou agradado com os elementos da jogabilidade que se baseiam na procura e uso da luz.

O próximo jogo partilha alguns pontos com Alan Wake na medida em que foi um dos títulos mais esperados para a sua consola e para esta geração, demorou cerca de cinco anos a ser lançado e foi um exclusivo de peso frequentemente citado nas guerras argumentativas. Falamos de Gran Turismo 5 que para muitos veio para assumir um papel de destaque no entretenimento caseiro mas que para outros tantos veio demasiadamente abaixo das expectativas que o próprio criou e com erros e parâmetros quase inadmissíveis para os dias de hoje e face à concorrência que entretanto foi sido lançada. Numa série repleta de clássicos imediatos e incontestáveis, Gran Turismo 5 é provavelmente o primeiro a desviar-se desse mesmo estatuto e a tornar-se num jogo nada consensual.

Durante o período de desenvolvimento, Gran Turismo 5 brindou os seus fãs com pouca da excelência a que a Polyphony Digital os tinha habituado. Os constantes não adiamentos porque não se pode adiar algo que nunca teve uma data definitiva iam-se sucedendo e aos poucos e poucos o jogo foi-se tornando numa espécie de piada, nas quais o seu lançamento era altamente questionado e até ridicularizado. Prova de um produto de alto gabarito que se catapultou para as bocas do mundo e para as exigências que todo um excelente legado obriga mas também consequências de uma gestão indefinida.