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Assassin's Creed Chronicles: China - Análise

Uma produção da Aborrecido Entertainment.

O nome Assassin's Creed é poderoso, vende por si só mas está mais perdido e aborrecido. Como é possível desperdiçar tanto potencial?

Assassin's Creed tem caminhado ao longo do abismo há vários anos. De um lado a salvação que todos os fãs pedem, que afasta a série da estagnação e da percepção de um produto repleto de falhas. A ideia de jogos mergulhados em aventuras que verdadeiramente tirem proveito desta fascinante propriedade intelectual. Do outro temos a perigosa insistência em títulos focados no impacto visual como único sustento cuja substância não acompanha todo um potencial que entretanto surgiu no imaginário dos jogadores ao longo dos anos. Assassin's Creed tem passado por algumas etapas bem atribuladas mas algo que jamais tremeu foi a insistência da Ubisoft em bombear jogos para todas as plataformas possíveis para capitalizar na visibilidade comercial da série.

De todas as decisões que a Ubisoft tomou ao longo dos anos recentes, desde que o meu interesse pela série se desmoronou por completo em Assassin's Creed 3, a revelação desta linha Chronicles foi uma que me deixou altamente motivado. Tendo encontrado em Unity uma experiência curiosa que resumia na perfeição como todos os problemas de Assassin's Creed já se tornaram em características suas, infelizmente, fiquei com esperanças para que Chronicles: China fosse aquela necessária lufada de ar fresco. Afinal de contas, quando temos todo o potencial deste enredo num novo estilo artístico em 2.5D, é difícil não encontrar espaço para um pequeno interesse que seja.

Chronicles é a nova série derivada de Assassin´s Creed que nos vai transportar para um formato exclusivamente digital, com gameplay bastante diferente dos títulos principais mas ainda assim com todos os elementos básicos para ser um AC. Há muito que os dedicados fãs pediam que mais zonas do mundo, mais personagens, mais espaços temporais fossem explorados e finalmente tiveram uma réplica positiva por parte da Ubisoft. Chronicles: China transporta-nos para a pele de Shao Jun, figura que surge em Assassin's Creed: Embers quando Ezio já era mais velho e consegue desde logo um mérito: apresentar uma interessante protagonista, pelo menos em perspectiva.

Depois da sua jornada a Itália, Shao Jun regressa à China em 1526 para descobrir que a Irmandade de Assassinos da China foi toda dizimada pelos Templários. A sua missão será saciar a sua sede de vingança e eliminar um a um todos os responsáveis pelo estado desastroso em que encontra a sua vida após regressar. Ao invés de um mundo aberto que exploramos livremente, Chronicles assenta no tal formato 2.5D com um gameplay totalmente inspirado em Metroidvania, que recentemente nos deu obras fantásticas como Strider ou Shadow Complex, dois exemplos que acredito mostrarem como inspirações em clássicos conseguiram eles próprios se tornarem clássicos para gerações mais recentes.

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Chronicles não está estruturado como um destes jogos que acabei de referir no sentido de nos permitir voltar atrás e desbloquear novos caminhos com novas habilidades. Chronicles limita o jogador a progredir em frente e introduz as mecânicas assentes na componente furtiva para criar alguma distinção dos demais. Por outro lado, recorre a um engenhoso jogo de perspectiva e separa por várias camadas os cenários. A isto, acrescentamos ainda uma certa ênfase na verticalidade e temos uma experiência que se começa a formar como apelativa. Os primeiros minutos de Chronicles servem como um tutorial, não para o género em si mas para a forma como a base de Assassin´s Creed se assenta neste tipo de gameplay.

"Na verdade, Chronicles não é nada de novo, mesmo dentro da série, basta relembrar Altair Chronicles ou Discovery para a Nintendo DS/Mobile."

Ao invés de correrem freneticamente pelos cenários a disparar ou fatiar tudo o que mexe, neste universo somos assassinos treinados na arte de atacar pela calada. Na verdade, Chronicles não é nada de novo, mesmo dentro da série, basta relembrar Altair Chronicles ou Discovery para a Nintendo DS/Mobile e facilmente percebemos o tipo de jogo que teremos pela frente. Aqui o nível de qualidade sobe muito em parte graças aos controlos mais profundos e à forma como o estúdio procurou inserir aqui toda a essência de Assassin's Creed. Shao Jun vai ter que percorrer pelos cenários sempre atenta ao campo de visão dos inimigos para de forma furtiva saltar entre esconderijos e chegar ao seu objectivo, sendo capaz de lutar com a sua espada ou usar os seus itens especiais.

Ao contrário da grande maioria dos jogos do género, Chronicles é mais pausado, forçando o jogador a seguir pela via furtiva. Claro que podemos partir para o confronto directo mas aqui o jogo sobe de dificuldade e não somos tão premiados. No final de cada segmento, somos brindados com uma pontuação que difere consoante a abordagem e quanto mais furtivo melhor a pontuação. É uma forma de prolongar a longevidade desta viagem pela China e uma forma de nos forçar a utilizar os itens especiais que Shao Jun tem ao seu dispor. Caso de uma pequena bomba que atordoa por instantes os inimigos, um simples assobio, uma adaga que gera som no local onde acerta ou até uma adaga que podemos usar para abrir novos caminhos nos cenários.

Estes "pequenos" toques tentam incutir maior profundidade na experiência e trabalham em conjunto com as animações e mecânicas de jogo tradicionais de um Assassin's Creed para nestes novos moldes se assumir como algo diferente mas na mesma familiar. É um equilíbrio delicado mas que o estúdio parece ter conseguido. Os fãs da série vão sem dúvida reconhecer o mundo no qual vão entrar e vão perceber as regras de jogo a respeitar, sentindo igualmente que estão perante um produto diferente na sua série anual. No entanto, nem tudo é um mar de rosas, pelo contrário, Chronicles: China consegue ser bem enfadonho e o mais preocupante é como não consegue fazer melhor com tamanho potencial nos seus alicerces.

O estilo visual é algo que vai espantar na grande maioria dos momentos. A sensação de uma aguarela que se vai desenhando de forma interactiva pelo jogador, os cenários de fundo completamente enquadrados com a temática e as diferentes camadas nos diversos cenários, são elementos que atraem. Chronicles China funciona muito bem em termos artísticos, é provavelmente o seu maior trunfo. As diversas mecânicas de jogo resultam melhor muito em parte devido ao que os visuais conseguem fazer por ele, mas de resto poderemos estar perante uma experiência falhada. Um jogo que merecia melhor execução, tendo em conta o potencial do material do qual origina.

Isto porque Chronicles não é um jogo propriamente divertido, nem sequer tentando enfrentar os desafios propostos pelo estúdio nos Troféus/Conquistas de Jogador. Frequentemente pensava que falha imenso no seu ritmo, nas repetidas acções e segmentos que nos forçava a ultrapassar. Sentia falta de algo empolgante que tornasse aquela China memorável e que elevasse a protagonista a parâmetros da mais elevada qualidade na série. É incrível como apesar de não fazer nada de mau, AC Chronicles: China dê a sensação de ser um jogo que não diverte, se torna chato e que ainda por cima não aproveita o que lhe é dado, aquela ideia de ter a "papinha toda feita" e ainda assim adormecer na parada.

"Frequentemente pensei que não estava perante uma nova experiência da Abstergo Entertainment mas antes sim da Aborrecido Entertainment."

Assim que o terminei voltei a jogar em New Game Plus para perceber se melhorava mas apenas ficou mais banalizado e se a forma linear era uma desculpa para o jogador voltar a jogar com mais habilidades, falha completamente. Enquanto fatia da história dentro do universo, poderia facilmente estar muito acima do que consegue. Frequentemente pensei que não estava perante uma nova experiência da Abstergo Entertainment mas antes sim da Aborrecido Entertainment. Frequentes falhas nas rotinas da IA, principalmente em comportamentos estúpidos e ofensivamente despropositados para o contexto das diversas situações, apenas tornou a experiência menos divertida e recompensadora.

Assassin's Creed Chronicles: China é um daqueles casos em que mesmo com tudo de mão beijada ainda se podem cometer graves erros que nos prejudicam. Caso tivesse sido sustentado por um ritmo mais dinâmico, o jogo poderia ser a verdadeira homenagem às mecânicas que tão astutamente soube empregar mas funciona apenas como uma mera curiosidade para os adeptos do costume. Comparado com "clássicos recentes" é uma amostra de como o design de níveis, estrutura de progressão e comportamentos da IA são altamente fundamentais, tão ou mais quanto os visuais e o gameplay que o personagem possibilita.

A ideia que tudo que é Assassin's Creed vende é muito perigosa para a série e crescentemente ofensiva para os apreciadores da mesma. Ao contrário do que parece, AC deveria estar a ser gerida com incrível cuidado e delicadeza pois cada nova entrada, mesmo derivados em formato digital, podem levantar a série e torná-la mais interessante mas também podem ser mais uma forma de o empurrar para a crescente sensação de saturação. Chronicles China não é suficientemente mau para entrarmos em cenários catastróficos mas infelizmente não tem a qualidade que desejaria.

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