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Assassin's Creed 3 - A história de uma história

O credo elevado ao quadrado.

A série Assassin´s Creed representa muito bem a atual geração de videojogos, com um alargadíssimo leque de títulos que atravessaram vários momentos e diferentes plataformas desde o primeiro aparecimento de Altaïr na Playstation 3 e Xbox 360 em 2007. O maior elogio que posso dar à série é o facto de ter conseguido ir melhorando a cada entrada, mesmo durante os "spin-offs" Brotherhood e Revelations. Existe no entanto uma maior responsabilidade nos chamados títulos numerados, e se a maior evolução na série se viu na transição do primeiro para o segundo jogo, este terceiro e último título é francamente surpreendente e uma excelente forma de encerrar a trilogia.

Passado em plena Revolução Americana, um período importantíssimo na história do mundo em geral, e que mudou a forma como as pessoas percecionam o conceito de governo. O horizonte temporal da aventura é gigantesco, atravessando toda a revolução, mas começando mesmo antes desta, no período entre 1754 e 1763 quando os Franceses travaram um conflito com os índios nativos ao mesmo tempo que mantinham uma disputa com os colonizadores Ingleses. O enredo está muito bem escrito, e melhor do que isso, liga muito bem os diferentes períodos e acontecimentos durante as etapas do jogo.

Conheçam Connor, ou melhor, Ratohnhaké:ton

A aventura começa com uma espécie de prólogo, que se desenrola de forma algo confusa, pois inicialmente não conseguia discernir exatamente para onde os produtores me levavam, e ao final de duas horas (sim este primeiro ato é extenso) tinha mais perguntas do que antes de começar a aventura. Não vou adiantar nada mais sobre isto, com a exceção de dizer que termina com um momento de estupefação que nos alimenta a vontade de saber mais, exatamente o que a apresentação de um jogo deve fazer.

A forma como a Ubisoft apresenta o protagonista deste terceiro título, as suas origens, motivações, porque nos devemos importar e relacionar com ele é mais cuidadosa que nunca. Connor, ou Ratohnhaké:ton para a família, não é apenas uma personagem muito detalhada, como está muito bem caracterizado, representando aquilo que provavelmente é o mais próximo possível de um verdadeiro Norte-americano.

Meio Britânico meio nativo americano, Connor representa uma mistura entre as origens nativas índias daquele continente e as forças estrangeiras que invadiram a América do Norte. Confesso que me surpreendeu a sua exagerada impulsividade inicial, mas a forma como a sua própria personalidade evolui durante a aventura tornam-no credível. Admitido que gostei mais da forma como caracterizaram Ezio, nomeadamente no que diz respeito às motivações e carisma da personagem, mas ainda assim, é notável o detalhe do desenvolvimento de Connor num jogo apenas.

"A forma como a Ubisoft apresenta o protagonista deste terceiro título, as suas origens, motivações, porque nos devemos importar e relacionar com ele é mais cuidadosa que nunca."

Um dos protagonistas da série Assassin's Creed que mais responsabilidade carrega pelo sucesso da mesma é o próprio meio envolvente. A forma como os ambientes são retratados é sempre excelente, e neste caso não são apenas as cidades e vilas, mas uma extensa zona selvagem com florestas e zonas rochosas. Como se não bastasse, temos ainda uma respeitável extensão de mar ao longo da costa, algo que entraremos em detalhe mais à frente quando falar das batalhas marítimas.

Esteticamente o ambiente selvagem está excelente e ainda por cima goza do facto de ser jogável em diferentes estações, horas e condições climatéricas que inclusive afetam diretamente o gameplay, um exemplo disso é Connor a caminhar de forma mais lenta e esforçada quando neva, cambaleando com os pés a enterrarem à medida que avança na direção desejada.

Esta qualidade dos ambientes enquanto figura estática é acompanhada por todo um conjunto de eventos e pequenos detalhes da vida das populações que torna o ambiente credível. Isto é típico na série, mas um pouco como tudo o resto neste terceiro título, está elevado a uma dimensão superior de detalhe. Existem vários momentos no jogo em que interagimos dentro de cenários em completo movimento, dentro do bloco de celas de uma prisão, no seio de uma batalha, e até mesmo no interior de um estádio no Brasil só para dar alguns exemplos.

Conseguirá Desmond encontrar todas as respostas?

Toda esta variedade aproveita-se do facto de jogarmos com vários protagonistas, e ainda que Connor seja o elemento mais central no que ao gameplay diz respeito, Desmond tem mais destaque que nunca num jogo da série. Vamos pela primeira vez poder ver Desmond verdadeiramente em ação, e inclusive teremos a possibilidade de obter vingança contra uns certos raptores do passado. As suas missões são forçosamente diferentes por se passarem no tempo atual, mas em termos de mecânicas, navegação e combate são em muito similares ao que fazemos com as outras personagens que controlamos durante a aventura, e sim, há mais.

No que ao gameplay diz respeito existem várias novidades, mas sempre assentes na base daquilo que é Assassin's Creed. O primeiro elemento a salientar é a grande quantidade de novas animações para praticamente tudo, claro que com o combate e a navegação em primeiro plano. Além das animações específicas para a navegação na floresta e zonas rochosas, existem montes de novas execuções incluindo as chamadas execuções de contexto, que como o nome indica, permitem-nos utilizar o meio envolvente para o golpe final. É ainda possível executar múltiplas execuções, acompanhadas de grandes planos e momentos "bullet time" que são uma excelente forma de recompensar um "timing" de bloqueio perfeito.

Ainda no combate, gozamos de uma panóplia de armas novas a acompanhar as respetivas animações para o combate. Além das conhecidas lâminas escondidas temos um pequeno machado (tomahawk), várias armas de fogo, a "rope dart", uma corda com uma lâmina na ponta que permite por exemplo enforcar inimigos do topo de uma árvore, bombas, e finalmente um arco, arma que é essencial para caçar. Gostei ainda da possibilidade de utilizar os inimigos como escudo humano, porque sim, já existia pólvora, e ainda de desarmar e utilizar a arma do oponente contra ele.