Assassin's Creed: Liberation HD - Análise
Uma chicotada na banalidade.
Pouco mais de um ano depois, Assassin's Creed: Liberation deixa de ser um exclusivo PlayStation Vita e chega numa versão refinada para a alta definição na PlayStation 3, Xbox 360 e PC. Um dos melhores exclusivos para a mais recente portátil da Sony, deu em Novembro de 2012 o equivalente a um blockbuster AAA de uma consola caseira a uma plataforma móvel. A gameplay foi cuidadosamente moldada para enquadrar o universo Assassin's Creed em todo o seu pleno para um formato que podemos transportar para qualquer lado, foram feitos ajustes e foram feitos cortes onde necessário. Eis então o principal ponto de interesse para quem jogou o original e agora fica perante a questão sobre quais os principais condimentos que lhe podem valer uma segunda compra.
Liberation na Vita foi Assassin's Creed tal como o conhecemos, mas e quanto a Liberaton HD? Será meramente uma conversão com gráficos melhorados para capitalizar sobre um nome bem popular, ou temos aqui um produto que finalmente liberta todo o seu esplendor? Para começar temos que compreender que a aventura de Aveline é demasiado interessante para ficar restrita a um pequeno grupo de jogadores, enquanto a grande massa dos dedicados fãs da série ficou privada deste capítulo. Assim sendo, é de prever que qualquer fã fique entusiasmado por poder aumentar o seu leque de jogos e o seu conhecimento da série.
Aveline de Grandpré vive uma situação bem peculiar. Numa altura em que a América do Norte ainda não o era e estava à beira da libertação, esta jovem negra foi adoptada por uma família rica enquanto a grande população da sua cor é submetida à escravidão. Em Nova Orleães no ano de 1765, temos uma luta territorial travada entre Ingleses, Franceses e Espanhóis que tentam roubar as terras aos nativos. No meio de todo o protocolo social e preconceitos, temos um novo e maior conflito que se está a formar tendo no seu centro os Templários. Do outro lado está uma organização secreta que luta pela justiça e pelo bem do povo, onde se encontra Aveline (Aveline já era assassina há 6 anos), que tenta colocar tudo o que aprendeu para subverter os planos tiranos de uns poucos sobre as necessidades dos muitos.
Neste tratamento para alta definição, o aumento na resolução de 720x384 para 1280x720 é um dos principais destaques no que diz respeito à qualidade de imagem, e o uso do motor AnvilNEXT no original parece ter sido fulcral para permitir que os bens utilizados no jogo recebessem o salto sem grandes problemas. Além de cores com mais brilho e mais vivas, Liberation HD consegue apresentar mais detalhe e mesmo que tal não seja propriamente verdade, o que é certo é que no salto para o ecrã maior esses detalhes conseguem captar com maior facilidade a atenção do jogador.
Além dos cenários e personagens mais detalhadas (desde edifícios às roupas e decorações usadas pelos intervenientes nesta história), esta versão de Liberation tem o que considero ser o seu maior trunfo, a fluidez a que o jogo decorre. Com um rácio de fotogramas consistente e firme, o jogo brilha com todo o desejado esplendor e aquela experiência menos consistente da portátil, com frequente gaguejar nos combates e áreas mais povoadas, fica de fora desta nova versão e tudo fica muito melhor. É suave ao correr e o jogador desfruta ainda mais de toda esta aventura. Quem jogou o original irá facilmente perceber a diferença e o impacto que esta versão oferece para tirar melhor proveito desta Nova Orleães.
Em termos visuais e técnicos é um jogo mais consistente de longe e isso acaba por tornar Liberation num produto mais firme e seguro de si. Alguns dos momentos mais clássicos na série (como subir a um ponto alto para sincronização) ganham ainda mais força pois as distâncias de visão são geridas de melhor forma e conseguem impressionar o jogador. Nada de mais para quem jogou os outros jogos, mas para quem jogou o original a sensação será mesmo de espanto. O original impressionava por conseguir aquele efeito numa portátil, este consegue espantar por mostrar o quão acima está desse produto do qual resulta.
Liberation é um AC ligeiramente diferente. Por um lado devido a ter sido estruturado e desenhado a pensar numa portátil, com missões mais pequenas e uma dificuldade menor para permitir que as sessões curtas de jogo sejam igualmente recompensadoras. Por outro porque o ecossistema tradicional na série não é tão gigantesco quanto poderiam esperar vindos de AC3 ou Black Flag. No entanto, compensa com locais diferentes além da cidade, como o Bayou no pântano do Louisiana, e mecânicas de combate refinadas que tornam o jogo intuitivo mas também mais fácil.
Aveline tem tanta habilidade quanto Edaward, Connor, Ezio ou Altair, no entanto ser uma mulher apresenta-lhe certas limitações mas também lhe abre novas portas. Enquadrado com o cenário aqui apresentado e com a situação peculiar da própria protagonista, Aveline pode não ter tantas armas ao seu dispor mas tem o engenho feminino do seu lado. O estúdio Ubisoft Sofia soube utilizar isso na concepção do jogo e tal surge na forma das personalidades (personas) que a jovem pode assumir. Seja enquanto nobre da alta sociedade envergando um característico fato, seja enquanto escrava para acartar caixas e se infiltrar entre multidões ou enquanto assassina para no meio da noite aceder a todas as suas habilidades, Aveline sabe como se comportar.
Para algumas missões, será necessário evitar os olhares dos guardas que patrulham pela cidade e enquanto membro da alta sociedade, Aveline pode passar despercebida. Pode até seduzir os guardas para que travem os seus combates e afastá-los de locais onde quer aceder. No entanto, assim não pode trepar e correr pelos telhados pois tal não se enquadra com esta imagem. Para tal precisa de vestir-se como escrava para quando necessário infiltrar-se como trabalhadora. Consegue mais mobilidade mas no entanto não consegue acesso a todas as armas que estão ao seu dispor quando se veste como assassina.
Apesar de ser possível usar diferentes personalidades nas missões, existe uma mais adequada e mais recompensadora. De igual forma, será necessário estar atento ao nível de procurado que cada personalidade alcança. São pequenos elementos da gameplay que quando combinados tornam a experiência mais coesa e dá uma sensação de que tudo foi pensado para ser diferente mas respeitando as mesmas regras. O combate é altamente fácil de aprender e além das one-hit kills, o encadeamento de ataques é um dos maiores facilitadores.
O sistema de contra-ataque, de defesa e ataque é muito simples de aprender e ainda mais simples de dominar. Liberation está longe de ser um jogo difícil mas contra-balança isso com a diversão que oferece. Um sistema de combate altamente simplificado e linear é o que podem contar encontrar aqui, o que não é propriamente do agrado de todos, mas é uma herança do pensamento inicial moldado para uma portátil. Um dos destaques é mesmo o chicote de Aveline pois é um item inédito neste universo, tanto para progredir pelos níveis como para combater (útil para desarmar os inimigos), e fica-lhe muito bem.
Confesso que foi bastante agradável analisar esta versão em alta definição e voltar ao mundo de Aveline. É um dos mais peculiares que encontrei na série e é um jogo que recupero com algum carinho. É melhor do que me lembrava mas não é tão bom quanto poderia ser, quanto um Assassin's Creed desenhado de raiz para as plataformas caseiras, no entanto podem contar com imensa diversão e a certeza que entrar no Animus é algo único sem igual na indústria.
Liberation HD não tem de forma alguma o selo de obrigatório nas suas plataformas como o original teve na Vita. Afinal de contas estávamos perante um AAA de escala portátil para um sistema que precisava urgentemente de algo como tal. Aqui, em formato digital, consegue por um preço reduzido oferecer algo que poderia muito bem ser vendido em retalho a preço superior. Seja de que forma for, é obrigatório para todos os fãs da série que não o jogaram e é um atestado à versatilidade da série e como Assassin's Creed consegue ser verdadeiramente único se a editora não estiver preocupada em o banalizar para capitalizar.