Passar para o conteúdo principal

Assassin's Creed: Odyssey - Análise - Ambicioso

Origins estabeleceu a base para algo que o superioriza.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Aposta ainda mais nas mecânicas RPG, usa astutamente a Grécia Antiga. Revela-se melhor e mais ambicioso, sendo dos melhores jogos da série.

Depois de dez anos a servir a mesma fórmula, desgastando-se e testando a paciência dos fãs, a série Assassin's Creed passou por uma incrível remodelação que lhe garantiu uma personalidade fresca. Essa mudança bem-vinda aconteceu com Origins, lançado em Outubro de 2017, que se apresentou como um característico filho da era moderna - um híbrido influenciado por diversas referências com as quais combinou mecânicas suas.

O resultado foi uma brilhante experiência que fez da sensação de liberdade um dos seus maiores trunfos e que te incentivou a explorar o Antigo Egito para descobrir momentos inesperados, obter melhor equipamento, e descobrir mais detalhes do Culto que dominava a cena política nos bastidores. Assassin's Creed: Odyssey chega menos de um ano depois, o que te poderá deixar confuso, como me deixou a mim. Mas posso garantir-te que se gostaste de Origins, Odyssey faz tudo o que esse jogo fez... mas melhor.

Há muito que era esperado este encontro entre a série Assassin's Creed e a Grécia Antiga. Depois de viver esta odisseia e ter percorrido os locais que percorri, é fácil entender o porquê de ser um palco tão desejado pelos fãs. Combinam na perfeição, mas há mais do que isso, há uma ambição da Ubisoft em aprimorar a fórmula renovada de Origins - a sensação de liberdade, a exploração que gera gratificação na descoberta, foi afinada com melhorias que tornam Odyssey no jogo que Origins provavelmente queria ser.

Enquanto fã de longa data, posso dizer que Assassin's Creed: Odyssey conseguiu ultrapassar Origins e parte disso está no cenário usado, mas também nas melhorias feitas às mecânicas RPG, na qualidade das missões secundárias com diversas etapas e como exploram cada um dos locais através dos seus habitantes (relembrando referências como The Witcher 3), sem esquecer os diálogos interactivos, os diferentes protagonistas e as três principais linhas narrativas que vão deliciar qualquer veterano desta série.

A Grécia Antiga está repleta de locais lindos e Odyssey é graficamente deslumbrante, mas o motor não consegue esconder as exigências que lhe são pedidas.

Assassin's Creed: Odyssey decorre 400 anos antes de Origins, o que desde logo cria um panorama totalmente único para o jogo - a Irmandade dos Assassinos nasceu nos eventos vistos em Origins, o que significa que essa organização lendária ainda não existia aqui. Em Odyssey, és catapultado para a guerra entre Esparta e o governo de Atenas em Ática, assumindo o papel de um Mercenário - Alexios ou Kassandra, que poderá ajudar qualquer um dos lados conforme lhe apetece. Existem benefícios em ajudar cada um em diferentes regiões e a própria história força-te a ajudar uns e outros.

"Em Odyssey, és catapultado para a guerra entre Esparta e e o governo de Atenas, assumindo o papel de um Mercenário - Alexios ou Kassandra"

Não quero falar sobre detalhes específicos para não te estragar a surpresa, mas posso dizer-te que Assassin's Creed: Odyssey apresenta uma das mais satisfatórias e envolventes tramas da série. Se a jornada de Bayek e Aya já demonstrou gloriosos momentos, a parada em Odyssey sobe graças a momentos épicos, intensos e repletos de personalidade desde os primeiros segundos do jogo.

A Ubisoft focou-se em três narrativas principais. Uma delas será importantíssima para os fãs de longa data e através destes personagens explica vários dos mistérios em torno da série. Se Origins te mostra como nasceu a Irmandade dos Assassinos, Odyssey vai-te explicar outros mistérios relacionados com a série. Como não podia deixar de ser, a mitologia da Grécia Antiga também é explorada, de bela forma, sendo ainda possível mudar o rumo dos acontecimentos através do novo sistema de diálogos.

Como referi, Odyssey é um título altamente similar a Origins, mas as novidades fazem uma grande diferença. Acima de tudo, é uma versão melhorada de tudo o que viste nesse jogo. A história é apenas um desses elementos superiores, mais intensa, mais envolvente, mais apelativa. O charme de Kassandra e a forma como a narrativa te poderá surpreender são pontos altamente positivos. O Culto do Kosmos, os principais antagonistas de Odyssey, também é utilizado de uma forma inesperada na narrativa e no gameplay.

Uma das novidades na série - diálogos interactivos. A própria história poderá terminar de formas totalmente diferentes devido às tuas escolhas em momentos chave.

Sendo um RPG no qual te podes perder horas a fio em tarefas tão banais como simplesmente vaguear pelo inexplorado, Odyssey está repleto de belos locais cheios de pontos para atacar, com tesouros para roubar e existe agora a tarefa adicional de encontrar pistas para desvendar a identidade dos membros do Culto. Uma das maiores novidades é a forma como a exploração naval foi introduzida como parte integrante do gameplay e não restrita a certas missões como em Origins.

"Uma das maiores novidades é a forma como a exploração naval foi introduzida como parte integrante do gameplay"

Na sua missão de tornar a experiência Origins mais ambiciosa, a Ubisoft fez mais do que inserir diálogos interactivos que interferem com a narrativa ou dois personagens. Há um culto antagonista interligado com a narrativa principal de formas inesperadas e um sistema de Mercenários mais dinâmico e expansivo. A Ubisoft também introduziu a exploração naval ininterrupta.

Depois da primeira hora de jogo, uma espécie de tutorial numa pequena ilha, tens acesso ao Adrasteia e poderás navegar por mares nunca antes navegados na série. Como não podia deixar de ser, tens de recolher quatro tipos diferentes de materiais para melhorar diferentes parâmetros do barco e podes recrutar soldados para benefícios adicionais, mas o que a presença do barco faz é ampliar o espaço de jogo e oferecer mais opções de gameplay.

De forma ininterrupta, podes entrar num barco e explorar os mares da Grécia Antiga. Existem vários parâmetros do barco que podes melhorar com a ajuda de 5 materiais diferentes e até podes nocautear inimigos para os recrutar - não é um elemento intrusivo na experiência e não exigirá muito da tua atenção.

O melhor é que tudo o que está relacionado com o Adrasteia não é intrusivo na experiência de jogo. Para alguns, será uma presença simplificada da faceta gameplay que se celebrizou em Black Flag, mas para outros será uma presença equilibrada para quem não quer perder tempo com isso. Existem missões de exploração e combate naval, mas a Ubisoft não te forçará a nada, tu tens controlo da experiência. É simplesmente mais uma forma de expandir o gameplay e usar uma popular faceta de anteriores jogos.

Quando não estás no barco, estás à procura de pontos de sincronização para aumentar a percepção de Ikarus, a tua águia, a perseguir pontos de interrogação para descobrir novos locais, a cavalgar até fortalezas para roubar melhor equipamento ou a participar em missões secundárias divididas em várias partes que exploram de forma mais profunda os diferentes locais e os seus problemas específicos.

A Ubisoft introduziu diversas habilidades que tornam o gameplay mais interessante e esta mecânica demonstra como Odyssey aprendeu com Origins e simplifica onde pode para tornar mais gratificante a experiência sem comprometer profundidade.

Assassin's Creed: Odyssey é muito similar a Origins e aposta no reforço dos seus aclamados valores com algumas novidades - é melhor em tudo o que faz, mas altamente idêntico. Isto significa que terás uma experiência Action RPG com um sistema de combates dinâmico. Se Origins revolucionou por completo o sistema da série, Odyssey vai ainda mais longe e introduz algumas alterações (para favorecer as habilidades que podes usar em combate) que o tornam ainda melhor. Kassanda e Alexios não usam escudos, colocam as armas em posição de ataque e para contra-atacar tens de pressionar o botão no momento oportuno.

Além disso, estes dois personagens podem também desviar-se e se o fizeres no momento certo, o tempo abranda (não sendo uma habilidade a adquirir como em Origins). No entanto, apenas se podem desviar quando não estão em posição de ataque, o que cria uma dinâmica interessante para o sistema de combates. Acima de tudo, sentirás que é altamente similar, mas melhorado. Uma evolução sobre a revolução que viste em Origins.

Essa é mesmo a maior sensação que terás em Odyssey - se Origins foi uma espantosa revolução na série, Odyssey é a evolução de todas as ideias que a Ubisoft arriscou em 2017. O sistema de equipamento também o demonstra e a simplificação dos sistemas não significa menor profundidade - significa que a Ubisoft aprendeu em Origins como optimizar estas mecânicas, para melhor interface e uso, sem comprometer a profundidade.

A forma como funciona o equipamento foi simplificada para se tornar melhor. Ganhas equipamento e estás constantemente à procura de melhor, mas podes usar materiais e dinheiro para aumentar o nível. Agora até podes adicionar uma habilidade extra em alguns deles.

Assassin's Creed: Odyssey é um jogo ambicioso, construído em cima das filosofias de Origins e partilha muito mais do que mecânicas ou estrutura. A ambição demonstrada pela Ubisodt estende-se ao tamanho do mundo de jogo e isso poderá representar algumas dificuldades acrescidas para o motor de jogo. É algo que se torna facilmente perceptível e com uma maior frequência.

A inclusão de gameplay naval (podes percorrer no teu Adrasteia os mares da Grécia para enfrentar outros navios, para procurar por tesouros em naufrágios ou simplesmente chegar às belas ilhas Gregas) de forma ininterrupta, exigiu um mundo aberto e, apesar dos locais maravilhosos que visitarás, alguns deles imponentes em tamanho, ricos em detalhe e capazes de surpreender, existem diversos elementos que revelam o quanto isto puxa pelo motor.

É realmente épico entrar no barco, percorrer o mar e chegar a uma nova ilha e ver de tão perto um local que há minutos estava tão distante. No entanto, isto resulta em problemas de streaming de texturas frequentes (vários elementos do cenário cujas texturas demoram a carregar, carregam à tua frente ou nem carregam), quebrando um pouco a imersão. Quando estás perante um mundo desta imponente escala, continuam a ser os pequenos detalhes que fazem a diferença e terás de lidar com alguns problemas gráficos em Odyssey para desfrutar da visão ambiciosa.

O conceito Phylakes foi muito melhorado e agora tens de lidar com Mercenários que te perseguem constantemente. Se fores apanhado a roubar ou matar, o prémio pela tua cabeça sobe e terás de enfrentar um maior número deles - mata ou paga à pessoa que fez o pedido.

Uma das melhores amostras da ambição e qualidade de Assassin's Creed: Odyssey é verificar que após 42 horas com o jogo, em nível 40, apenas havia terminado uma das linhas narrativas principais, a que está relacionada com o conflito e uma parte da Kassandra. Pela frente, ainda tens a linha narrativa focada no Culto do Cosmos e na Primeira Civilização. Para conseguir terminar estas duas narrativas terás de cumprir diversas missões secundárias e subir até nível 50, o que poderá levar entre 50 a 60 horas para terminar.

Odyssey não te obriga a cumprir uma lista de tarefas. Isso foi resolvido no ano passado quando Bayek desfrutou de total liberdade para explorar o Antigo Egito. A Ubisoft estruturou a experiência para decidires como queres passar o tempo, mas diz-te que existem formas para ganhar mais XP e subir mais rapidamente de nível. Essa liberdade está presente em Odyssey e facilmente podes ver o tempo a voar enquanto exploras os diversos locais. Terminar a principal campanha deixará ainda cerca de 35% do mapa por explorar e tudo isto em tarefas que a momento algum senti me cansarem.

"Terminar a principal campanha deixará ainda cerca de 35% do mapa por explorar"

A Ubisoft fez questão de explorar os mitos da Grécia Antiga e isto dá espaço para uma incrível quantidade de interessantes personagens ou figuras mitológicas que tornam o jogo ainda mais divertido. Numa missão de aproximar Assassin's Creed de um estilo RPG à semelhança de The Witcher 3, a Ubisoft entendo que teria de aprofundar ainda mais algumas mecânicas da sua estrutura e isso foi conseguido.

As missões secundárias deixam-te descobrir mais de cada região e dividem-se em várias partes, algumas delas acabam com decisões tuas que interferem com a vida dessas pessoas.

Assassin's Creed: Odyssey apresenta-se como uma evolução sobre tudo o que adoraste em Origins. Ao transformar a sua série num híbrido entre jogo de acção e aventura com um Action RPG, a Ubisoft fez de Origin um marco na série - que ao fim de dez anos encontrou uma nova face. Se olharmos para o título do ano passado como o primeiro numa nova era da série, uma identidade renovada, podemos dizer que Odyssey é o segundo jogo deste "novo" Assassin's Creed e assim sendo, está para Origins como Assassin's Creed 2 esteve para o primeiro - melhor, maior e mais ambicioso.

A aposta reforçada nas mecânicas RPG tornam-no ainda mais divertido e conciliar isso com o maior carisma da Kassandra num ambiente tão rico como a Grécia Antiga fazem de Assassin's Creed: Odyssey num dos melhores jogos da série.

Lê também