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Assassin's Creed: Odyssey - Hands On - Evoluir depois de revolucionar

Crescendo sobre os alicerces de Origins.

Depois de um ano sem um título original, a Ubisoft revitalizou a série Assassin's Creed quando a aventura de Bayek no Egipto, em Assassin's Creed: Origins, chegou às lojas em Outubro de 2017 e foi recebido com entusiasmo pelos jogadores. Depois de uma década a servir a mesma fórmula, a conturbada série transformou-se quase por completo. Actualizou-se, aderiu a um verdadeiro mundo aberto, remodelou completamente o sistema de combate e, talvez mais importante do que qualquer outra novidade em Origins, implementou elementos RPG que transformaram de forma incrivelmente importante a série Assassin's Creed.

Quando analisei Origins em 2017, disse que a sua importância na série era tanta que todos os jogos que chegassem depois não podiam de forma alguma passar ao lado da sua influência. A Ubisof confirmou agora que Origins não foi um caso único - foi, no verdadeiro sentido da palavra, a origem para uma nova etapa na série, uma nova era em que Assassin's Creed já não vive sem a face que adquiriu com a chegada desse jogo.

Isto significa que Odyssey, o inesperado novo jogo que chegará às lojas em Outubro, é o segundo filho da nova filosofia da Ubisoft para a série, um jogo que bebe da mesma fonte que refrescou a essência e o significado de Assassin's Creed. A convite da Ubisoft, tivemos a oportunidade de jogar as primeiras 6 horas de Assassin's Creed: Odyssey e foi fácil constatar que se Origins foi uma revolução, Odyssey é uma evolução - um jogo altamente similar, mas ainda assim repleto de novidades.

"Depois de uma década a servir a mesma fórmula, a conturbada série transformou-se quase por completo"

Origins deu-me a sensação de ser o jogo mais importante na cronologia de Assassin's Creed - um híbrido de acção e aventura em mundo aberto, que combinada elementos RPG com as principais mecânicas que celebrizaram a luta do Credo contra os Templários. Odyssey atesta essa ideia, especialmente porque mostra uma visão ainda mais evoluída, mais trabalhada desse conceito.

É mais um claro exemplo desta era de híbridos em que as barreiras entre géneros desvanecem e filosofias se cruzam. No entanto, Odyssey poderá surpreender alguns pois é um jogo que, apesar de à primeira vista nada mais parecer do que um pequeno passo sobre Origins, aposta nos pequenos detalhes para fazer uma grande diferença.

Agora terás de enfraquecer uma zona para depois iniciar uma guerra de maior escala - onde enfrentarás os capitães e generais dessa região.

Igualmente ambicioso, promissor e ciente que a fórmula encontrada é a mais adequada para manter Assassin's Creed relevante numa actualidade exigente, a Ubisoft implementou diversas novidades, assentes em muito do que já viste em Origins. Aliás, existe uma sensação inesperada após jogar Odyssey para quem, como eu, adorou Origins e sentiu que preparou a série para o futuro.

"Há muito que os fãs pediam um jogo na Grécia Antiga e Odyssey é a resposta a esses desejos"

Odyssey demonstrou o potencial para se afirmar como algo mais do que uma mera versão mais actualizada deste gameplay, demonstrou que é provavelmente o que a Ubisoft pretendia verdadeiramente alcançar com Origins. Na verdade, Odyssey poderá até partir com uma grande vantagem sobre Origins - o local escolhido para os seus eventos. Há muito que os fãs pediam um jogo na Grécia Antiga e Odyssey é a resposta a esses desejos.

Numa era de spoilers, a Ubisoft pediu para não revelarmos os principais detalhes da história, mas a narrativa foi uma das principais responsáveis para ficar com a sensação que a Ubisoft procurou algo mais épico. A narrativa de Origins revelou uma boa qualidade em vários pontos, especialmente com Bayek e Aya como protagonistas que enfrentavam várias figuras importantes num culto. Odyssey vai ainda mais longe.

Odyssey começa de forma épica e a demo termina de forma igualmente intensa - devido a uma das grandes novidades que é o sistema de escolhas que ajudam a definir o protagonista, mas vamos por partes. Quando o jogo começa, podes optar por jogar com Kassandra ou Alexios. Os eventos decorrem da mesma forma (pude reparar pela pessoa que jogava ao meu lado - eu escolhi Kassandra e ele Alexios). No entanto, em vários diálogos, não ficarás meramente a assistir e poderás, como já visto em alguns jogos, escolher a resposta que queres dar.

A exploração naval ininterrupta amplia imenso o mapa e os confrontos navais beneficiam de imensas melhorias no gameplay e controlos.

Isto não é apenas um endereço para te enganar e parecer bonito. Além de ajudar a definir a consequente postura do protagonista perante esses NPCs, existem momentos altamente importantes na narrativa que podem mudar de forma acentuada o decorrer dos eventos. Posso dar como exemplo o final da demo, onde uma escolha minha mudou o diálogo e o rumo dos acontecimentos, dando-me acesso a um ramo narrativo ao qual não teria acesso (ou pelo menos tão cedo) caso tivesse optado pela outra opção. Esta nova mecânica na série Assassin's Creed é uma amostra da evolução que a Ubisoft quer apresentar sobre o que construiu com Origins.

"Onde uma escolha minha mudou o diálogo e o rumo dos acontecimentos, dando-me acesso a um ramo narrativo ao qual não teria acesso"

Esta possibilidade de escolher e ajudar a definir o protagonista é algo muito importante para a Ubisoft e para Odyssey - leva a narrativa mais além, mas não se aplica somente ao enredo. A Ubisoft parece querer combinar o tom épico e refrescante de Origins com uma maior liberdade para o jogador e ambição nos sistemas. Se as primeiras duas horas de Odyssey são muito similares a Origins, enquanto exploras uma pequena ilha na Grécia Antiga para definir quem é Kassandra/Alexios e conhecer as alterações no sistema de combate, é a narrativa que te dá sede por mais, sede para explorares o mundo.

Passadas as primeiras duas horas (se quiseres ganhar mais XP e subir de nível podes optar por passar mais tempo em tarefas opcionais), poderás descobrir a outra vertente de Odyssey na sua busca por maior envergadura - a exploração e combate naval. Implementada em Black Flag e usada em vários outros jogos, o lado naval de Assassin's Creed foi utilizado muito levemente em Origins (apenas em algumas missões com Aya), mas em Odyssey é uma parte fundamental. O melhor de tudo é que podes alternar de forma ininterrupta entre exploração em terra e no mar - tal como visto nos anteriores, mas ainda mais fluído.

Em Origins, o foco na exploração para descobrir novos locais foi um dos seus maiores valores, refrescou uma fórmula presa na automatização de processos cansativos. Odyssey leva essa liberdade para o mar e isso resulta em mais locais misteriosos para descobrir, uma tripulação para gerir, tripulantes para recrutar e ainda mais diversidade nas tarefas. Acima de tudo, o melhor que consegui sentir foi que não estás preso a nada, podes traçar a tua odisseia.

Reforçada a aposta no lado RPG - terás muitas mais armas e peças para equipar, com estatísticas ainda mais ao estilo do que encontrarias num RPG.

Provavelmente, Odyssey poderá tornar-se no jogo que Origins queria ser - ainda mais RPG, com maior personalização, melhores mecânicas e uma narrativa muito mais forte. Claro que ainda consegues ver alguns problemas, como NPCs importantes reutilizados em várias cenas, imensas funcionalidades que inicialmente podem ser confusas e alguns problemas gráficos. No entanto, o que eu vi de bom ultrapassa de longe as pequenas falhas, que ainda podem ser corrigidas, especialmente porque Assassin's Creed parece ter descartado de vez a estrutura "checklist" e dá-te mais liberdade, ainda mais.

"Odyssey poderá tornar-se no jogo que Origins queria ser - ainda mais RPG, com maior personalização, melhores mecânicas"

Quando a Ubisoft anunciou a chegada de Odyssey ainda em 2018, o risco da saturação voltou a pairar e temi pelo renovado fulgor. No entanto, após jogar estas 6 horas, compreendo perfeitamente o porquê da Ubisoft querer apresentar esta evolução tão cedo. Odyssey apresenta imensos refinamentos nas mecânicas e sistemas RPG sobre Origins. Quando digo simplificação não falo em inferiorização, falo numa maior compreensão do que é necessário para manter o sistema simples de compreender, navegar e gerir. É perceptível que as lições de Origins permitiram evoluir rapidamente.

A melhor prova disso está na árvore de skills, nos novos patamares para algumas delas e ainda a existência de novas habilidades que dinamizam o combate. Ver Kassandra a investir como um touro sobre os inimigos ou a roubar os escudos é muito divertido. No lado do equipamento, não precisarás investir tanto no craft de ferramentas - o craft parece ter sido convertido para a gestão do barco. Ao adquirir novo equipamento, podes equipá-lo logo, desde que esteja no teu nível, não sendo necessário procurar materiais para craft de versões melhoradas de itens.

Essa sensação de estar perante vários sistemas, mas a momento algum sentir que tinha forçosamente que me dedicar a algum foi um dos maiores prazeres nestas seis horas de jogo. Odyssey deixa-te seguir a narrativa se quiseres, sem te maçar com tarefas que não queres fazer, recorrendo à mesma liberdade que ajudou Origins a conquistar maior carisma.

As habilidades são um bom resumo do que é Odyssey: uma aposta reforçada nas mecânicas RPG, simplificadas para melhor compreensão e ainda mais divertidas.

O mais entusiasmante em Odyssey é que a Ubisoft se comprometeu a apoiar o jogo por vários meses, sugerindo novos conteúdos por um período superior a um ano, algo que poderá transformar ainda mais a forma como a série Assassin's Creed se encaixa nas nossas vidas. Quando Odyssey foi anunciado, não senti qualquer entusiasmo pelo jogo e temi pelo que pudesse representar para uma comunidade que acabou de fazer as pazes com a editora, mas depois de o jogar, fiquei incrivelmente entusiasmado com o potencial de ser o jogo que Origins devia ter sido e Origins já era muito divertido.

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