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Assassins' Creed Chronicles: India - Análise

Uma nova jornada ou as mesmas crónicas?

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Arbaaz consegue divertir mais do que Shao Jun na China. Mesmo com alguma reciclagem, melhora em todos os aspectos.

Em Abril de 2015, a Ubisoft apresentou Assassin's Creed Chronicles: China, uma jornada extra no seu universo onde conhecemos a luta entre assassinos e templários. Numa fase em que a série estava no seu pior momento de sempre, especialmente após o desolador Unity, Chronicles China não era propriamente o que os fãs mais mereciam. Um título a 2.5D, que pegava no conceito Metroidvania e lhe aplicava as regras e fundamentos da série Assassin's Creed, com um belo motor gráfico, ramificações com Ezio Auditore e num local inédito. Altamente atractivo, no mínimo. No entanto, o trabalho do Climax Studios não convenceu, especialmente por ser aborrecido e por alguns erros que lhe retiravam o brilho.

Agora, depois de vários meses sem quaisquer informações, a Ubisoft apresenta a segunda crónica, na Índia, para nos dar a conhecer Arbaaz Mir, personagem que já protagonizou uma novela escrita e aqui enfrenta a ameaça de um mestre templário. Tal como a primeira crónica chegou num momento sensível, também esta segunda surge num momento importante. Assassin's Creed: Syndicate limpou um pouco da imagem controversa da série e também Chronicles surge revitalizado após os problemas encontrados com o anterior. A proposta é basicamente a mesma mas a execução melhorou imenso. Algo que é decididamente importante.

É fácil perceber porque é que a Ubisoft decidiu esperar cerca de 9 meses para lançar esta crónica na Índia, sem revelar muito até faltar cerca de um mês para chegar. Assassin's Creed Chronicles: India recicla muito do que vimos no anterior, a aventura de Shao Jun na China, sendo muito idêntico, o que explica a distância entre lançamentos. Recordo que em Abril de 2015, a sensação que fiquei foi que o conceito tinha imenso potencial, as mecânicas de jogo estavam bem pensadas mas o design dos níveis, algumas falhas nas animações, e alguns erros, prejudicavam demasiado o título, sendo necessária maior inspiração. Esta segunda crónica é, em praticamente tudo, melhor que o primeiro jogo, desde a componente gráfica, que melhor utilizar a bela arte visual, até ao gameplay, especialmente nos quebra-cabeças e nas secções de plataformas.

No ano de 1841, em Amritsar na Índia, o assassino Arbaaz Mir vive uma história de amor com a princesa Pyara Kaur e segue os ensinamentos de Hamir, o seu mentor. No meio do confronto entre a o Império Sikh e a East India Company, este assassino fica perante uma ameaça sem igual quando Suleeman, um mestre templário, chega à cidade para tomar posse de uma peça do Legado dos Percursores. Escusado será dizer que iremos embarcar numa jornada repleta acrobática e furtiva para resgatar a peça, impedindo pelo caminho os planos dos templários. Como um assassino que se preze, Arbaaz consegue escalar edifícios, assassinar soldados inimigos, utilizar ferramentas para criar distracções, e até recorrer a duas habilidades especiais.

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Tal como no anterior, e respeitando o conceito Metroidvania mas sem permitir que o jogador recue a zonas anteriores, Chronicles India permite que o jogador percorra castelos, cidades, masmorras e fortalezas Indianas na lateral, sempre atento às movimentações e olhares dos soldados que povoam os níveis. Arbaaz consegue assassinar com a sua espada os inúmeros soldados mas frequentemente somos convidados a utilizar os cenários para passar sem sermos vistos. O próprio jogo está estruturado para premiar quem não é visto, seja evitando confrontos ou despachando os inimigos sem darem por ela. Somos premiados no final de cada secção com uma avaliação e a categoria Ouro, a superior que aumenta o multiplicador de pontuação, usado para alcançarmos as melhorias a Arbaaz, exige mesmo que não sejam vistos. Independente da postura.

Arbaaz pode recorrer a bombas de fumo, assobio e adagas que atira para objectos, que se tornam em ferramentas fulcrais na experiência pois os níveis estão pensados na sua utilização. Tudo parece mais coeso e firme, funcionando em maior sintonia e aprimorando o gameplay que, comparativamente, parece aqui o produto completo após um mero conceito de teste. Nem sempre o jogo é óbvio e indica ao jogador por onde seguir, nem sempre lhe indica quais as ferramentas que mais o vão ajudar naquele segmento específico e desafia o jogador a procurar descobrir como passar os níveis.

Os próprios desafios opcionais que cada memória apresenta, reflectem o cuidado e a aprendizagem que o Climax Studios teve nesta segunda tentativa. Somos desafiados a salvar peregrinos, a roubar documentos ou jóias, o que exige mais atenção do jogador ao que o rodeia. Terá que usar a visão de águia para descobrir quem roubar ou quem salvar, e colocam ênfase na ideia que as mecânicas de jogo devem ser respeitadas e que nos favorecem. Muitas áreas têm diferentes caminhos que, dependendo da postura e posição dos soldados, podem facilitar ou complicar a tarefa.

Arbaaz pode ainda recorrer à barra Helix que permite aceder a duas habilidades: uma para os combates e outra para passar pelos níveis de forma furtiva. Como teria que ser, está sujeita ao equilíbrio geral desenhado para favorecer a experiência de jogo. Isto quer dizer que, são duas habilidades úteis mas que nem sempre as podem usar e na primeira vez que jogam Chronicles India, não estão facilmente ao alcance. O jogador terá que recorrer às ferramentas, decidir quem matar e quando matar, escondendo os corpos se necessário, para passar os níveis. Também devem ter cuidado com o ruído que fazem nestas acções pois podem alertar quem está por perto. Também é importante ter em conta que as ferramentas permitem distrair os guardas das suas posições e abrir novas rotas de passagem.

Graças a controlos optimizados e com melhor resposta do que no anterior, algo que senti e que me deu gosto confirmar, teremos a capacidade para responder aos quebra-cabeças que o estúdio construiu em algumas memórias. Não sendo nada elaborado, são na verdade secções de plataformas que exigem maior coordenação dos nossos movimentos. Com maior precisão e uma leitura constante dos indicadores visuais, podemos enfrentar de forma mais eficaz esses momentos. É preciso ter cuidado com os olhares dos guardas mas temos uma corrida contra o tempo para escalar uma parede ou escapar a um local. Decidir o timing para saltar de uma para outra plataforma, calibrar os movimentos e conseguir maior fluidez. Estes são dos melhores níveis de Assassin's Creed Chronicles: India

Chronicles China demonstrou mais uma vez as capacidades e versatilidade do Unreal Engine, sendo uma espécie de aguarela em movimento, um quadro que o jogador ia desenhando. Impressionava ocasionalmente mas não ao nível que Chronicles India consegue. O país de Arbaaz permite-nos conhecer paisagens com cores mais vivas, mais belas e mais envolventes do que tivemos na China. É fácil encontrar momentos que nos fazem parar de jogar para apreciar o cenário de fundo ou um elemento secundário que enriquece o nosso percurso. Chronicles India consegue surpreender ocasionalmente com o seu aspecto gráfico, especialmente pelo tal efeito de parecer um quadro, e a satisfação que encontrei aqui não esteve, nem de longe, presente quando viajei até à China.

Tirando alguns momentos em que senti que os comandos não estavam a responder como queria, ou alguns bugs raros em que as animações não activavam, ficávamos presos nos cenários ou os gatilhos de progressão no nível não foram accionados, Chronicles India foi um jogo muito divertido que me entreteve ao longo de 7 horas. Assim que terminámos o jogo, ficámos com a possibilidade de entrar em Salas de Desafio ou recomeçar numa dificuldade superior. Tendo em conta as dificuldades em passar alguns segmentos, especialmente as memórias em que corremos autenticamente contra o relógio, a vontade de jogar novamente com tudo o que conquistámos para melhorar a nossa prestação é algo que vão sentir com firmeza.

Com um multiplicador reforçado, conseguem alcançar mais melhorias para Arbaaz, podem corrigir os erros em algumas fases, descobrir o resto dos segredos, roubar os itens que não roubaram, passar secções inteiras de forma diferente, optei sempre por não ser visto e não assassinar ninguém, e a longevidade sai reforçada porque sentem gosto e prazer em repetir muitas destas sequências ou memórias. De igual forma, as Conquistas/Troféus estão bem pensadas e acrescentam à vontade de abordar o jogo com diferentes posturas ou a utilizar as ferramentas. Se quiserem, podem entrar nas referidas salas de desafio e escolher entre as que têm que completar num tempo limite, aquelas que vos pedem para ser furtivos, ou outras em que é preciso mostrar que sabem combater.

Esta segunda crónica dos Assassinos consegue simplesmente ser mais competente e mais divertida. Este era o resultado que se pedia à primeira crónica na China, um título divertido que conseguisse suavizar o impacto negativo que a série reuniu, mostrando como é possível ramificar Assassin's Creed a outro tipo de experiências.

No final da jornada, as impressões que ficaram foi de um percurso mais divertido, melhor estruturado e com segmentos que desafiam mais o jogador. Consequentemente, sentimos que o título nos respeita mais, que comete menos erros, melhora o gameplay repleto de potencial que havia sido desperdiçado no anterior e ainda consegue impressionar mais em termos visuais. Não é radicalmente diferente de Chronicles China mas faz tudo o que esse deveria ter feito: irrita menos o jogador, não o aborrece e diverte-o mais. Se aderirem a Assassin's Creed Chronicles: Inda, vão descobrir que é mais difícil, exige coordenação mais afinada por parte de quem joga, apresenta locais mais atractivos e ainda te deixa com vontade para a próxima crónica, na Rússia. Melhor efeito não poderia pedir.

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