Attack on Titan 2 - Análise
A queda do muro.
A popularidade do anime e manga japonês tem levado muitas editoras a apostarem na conversão para formato videojogo. Attack on Titan é um desses alvos apetitosos, anime que arrancou 2013 para uma primeira temporada composta por 25 episódios. Seguiu-se uma segunda temporada, quatro anos depois, composta por mais 11 episódios, estando previsto o começo da terceira temporada para este ano. A anime é uma adaptação manga com o mesmo nome criada por Hajime Isayama. A série (e o jogo) acontece num mundo onde os humanos foram encurralados por criaturas gigantescas chamadas Titãs (titans). São criaturas enormes, desafiando os arranha-céus em altura e apresentam-se num formato humano mas sem pele, exibindo a sua grande musculatura.
Para se defenderem dos ataques demolidores, os humanos criaram três barreiras defensivas, três muros que se ergueram como protecção. Mas ao cabo de 100 anos, um titan acaba por criar uma brecha, dando espaço para que outras criaturas da espécie prossigam no reduto humano, deixando um cenário de destruição e sofrimento por onde passam. Em consequência e como forma de ripostarem, numa tentativa de vingança, é criado o "scout regiment", um grupo de destemidos soldados que juraram vingar a morte dos seus semelhantes.
É aqui que entram em cena personagens como Eren Yaeger, Mikasa Ackerman, Armin Arlert e Mina. O jogo da Koei Tecmo captura na perfeição a série, pelo que quem tenha lido a manga ou visionado a anime, se sentirá em casa quando jogar AoT2. Esta é aliás a sequela do primeiro jogo alusivo à série lançado em 2016 pela Koei Tecmo e produzido pela Omega Force, a mesma produtora que recentemente nos trouxe jogos como Fire Emblem Warriors ou Hyrule Warriors.
É por isso um porto seguro este AoT, ao corresponder mais uma vez a uma adaptação para videojogo de uma série recente e de sucesso. Nesta sequela, lançada a 15 de Março no Japão, os produtores não só pretendem assegurar a transição do jogo anterior, dando mais motivos de satisfação para os fãs através de desenvolvimentos relativos à história, como aportaram certas melhorias no plano técnico e design. Releva também a transição para a Nintendo Switch, a híbrida da Nintendo que recebe pela primeira vez um título da série, perspectivando-se um encontro de sucesso particularmente no Japão, país onde a performance da série e da consola é elevada.
AoT2 apresenta-se a partir de um diário que narra os acontecimentos que deram origem à abertura de um buraco no muro. Não haverá grande problema, por isso, se só agora chegaram ao jogo. Os momentos iniciais repõem a narrativa no ponto de origem e retomam a segunda parte depois de AoT: Wings of Freedom. Segue-se uma breve passagem por um editor de personagem que nos deixa criar o membro do grupo (um editor bastante extenso), o qual permite a adoptção do nome de uma das personagens atrás elencada.
Segue-se ainda um pequeno tutorial que serve para nos adaptar às mecânicas exclusivas. Uma delas é o lançamento de uns cabos que permitem uma projecção para diante após um forte impulso. É uma técnica algo similar à usada por Spider Man ou por Bionic Commando na adaptação da série para a geração anterior de consolas. A sua utilização é simples e muito intuitiva, com efeitos úteis não só na transposição de grandes áreas, mas de grande utilidade na aproximação e ataques aos Titans, servindo quase de rampa de lançamentos para ataques directos e cirúrgicos.
Isto pode ser combinado com um pequeno salto, que oferece a particularidade de projectar a personagem para diante se pressionado o botão de salto uma segunda vez, enquanto ela permanecer no ar. De início parece um pouco complicado absorver tudo isto, mas depressa nos acomodamos e rapidamente passamos ao prato forte do jogo, aos capítulos através dos quais somos chamados a ter de lutar com os Titans. Os combates decorrem em grandes áreas, em sítios onde é fácil perdermos o rasto das grandes criaturas, mas podemos sempre apertar o botão de alvo para garantir o "lock on".
Os produtores baptizam este sistema de "omni-directional mobility", assegurando um avanço horizontal e vertical da personagem. No entanto e apesar da evolução, ainda é uma pesada herança do jogo inaugural, revestindo-se da mesma importância na luta contra os grandes titãs. Há uma carga dramática associada a estes combates, mas bastante aquém da magnitude e estrutura tipo puzzle montada num Shadow of the Colossus. No derrube de cada criatura, apesar de ser visto como um oponente, quando caía era como uma facada dada no nosso coração. Em AoT essa componente dá lugar a uma temática"gore", desde logo através do sangue que libertam, mas por outro lado é menos emocional e mais previsível.
Os combates oferecem uma estrutura quase dinâmica, mas que não deixa de ser bem expectável, sem grande espaço para notáveis arranjos estilisticos. Visualmente é um jogo com bons detalhes, mas pouco há de superlativo ao nível artístico a não ser os titans com o seu desenho particular que acaba por emoldurar o jogo. Para derrotar estas criaturas terão que encontrar o ponto fraco, abrindo caminho a uma conjugação de golpes que depressa os deixará às portas da morte. A cabeça é sempre o ponto a ter em conta - a nuca -, mas há outros pontos do corpo que os desgastam, ao ponto de ficarem vulneráveis ou presos, numa posição privilegiada para a estocada final.
O tipo de combate difere imenso dos tradicionais "musou" por que é conhecida a Omega Force. Enquanto que nesses jogos estamos quase sempre em posição de ataque ou contra-ataque, em AoT 2 é fundamental resguardarem-se e evitarem os contra-ataques dos gigantes. As habilidades para atacar servem para defender e muitas vezes devemos seguir o sentido de oportunidade. Terão que evoluir as habilidades ao longo do tempo e obter os itens necessários.
São bastante regulares as sequências cinematográficas entre capítulos, através das quais conhecemos um pouco mais as personagens e o desenrolar da história, sempre em estreita conexão com a primeira e segunda temporadas. Há momentos em que serão chamados a decidir, sobretudo no quadro da ligação com as outras personagens, aproximando-as, um pouco como num jogo de role play, mas diga-se que as consequências ficam bastante aquém do esperado, não sendo por aqui que AoT 2 pega destaque. O jogo contempla segmentos de exploração e alguma tranquilidade quando entramos numa cidade e gastamos algum do nosso tempo em conversa com outras personagens. É neste ponto que o jogo dá alguns sinais de desenvolvimento no que respeita à história, ao aproximar-se mais dos capítulos para a manga do que propriamente a anime. Outra consequência do fortalecimento das relações entre as personagens é o acesso a mais técnicas de combate e possibilidades de personalização da personagem.
Entre as novidades no sistema de combate, destaque para as construções onde podemos colocar metralhadoras e atrair para lá os Titans, criando uma vantagem temporária. A isto acrescem os ataques surpresa, a partir de uma mira à distância por via telescópica. Desencadeado no momento certo - o que não é difícil -, resulta num ataque devastador. É importante manterem-se à margem do campo de vista dos Titans. Há um indicador que revela o grau de exposição. Uma vez no máximo deixam de poder encontrar refúgio com sucesso. Por fim, podem utilizar algumas armas de neutralização como a rede, útil para prender os Titans por um espaço de tempo. O reabastecimento de alguns itens pode ser um pouco demorado e complexo de gerir. Por força da utilização intensiva, não raras vezes acabamos a padecer pela dificuldade em obter lâminas e o combustível necessário para nos deixar executar os movimentos necessários. Contudo, as alterações face à obra original não são de grande monta e no essencial é uma experiência ainda muito próxima.
Para lá da componente individual, AoT 2 pode ser desfrutado através de um modo cooperativo (toda a história com um outro jogador ao nosso lado). Outras opções permitem jogar até quatro jogadores, ou então em combates vs de duas equipas compostas por quatro membros (Annihilation) sagrando-se como vencedora a que derrubar mais titãs e conseguir melhor pontuação.
Quem não tenha jogado o original vai sentir esta experiência sobretudo como um trabalho bastante diferente da Omega Force. A estrutura algo original dos combates, alicerçada numa directa correspondência com a anime e a manga, ainda serve como ponto de destaque desta sequela. No entanto, muitos dos sistemas em vigor permanecem como herança do original e as novidades são introduzidas de forma progressiva. Poderia também ter-se acrescentado mais alguma profundidade no sistema de escolhas e criadas novas áreas com mais produção e elementos, já que grande parte delas foram recuperadas do jogo anterior. No entanto e apesar de algumas fragilidades, AoT 2 é uma opção a ter em conta pelos fãs da série e a considerar por quem não conheça, já que não é um quesito obrigatório (embora seja importante) para desfrutar desta obra.