Attack on Titan: Wings of Freedom - Análise
Um Musou com asas.
Olhando para trás e relembrando as propriedades intelectuais com as quais o Omega Force trabalhou, o estúdio da Koei Tecmo dedicado à série Musou, todas elas impunham um desafio mas nenhuma delas como este Attack on Titan: Wings of Freedom. Isto porque, e muito basicamente, nenhuma delas exigia que os seus personagens tivessem autenticamente asas para voar e combater no ar. Desde a primeira parceria com Dynasty Warriors: Gundam que o Omega teve que dar o seu melhor mas Fist of the North Star: Ken's Rage, One Piece: Pirate Warriors, Hyrule Warriors, Dragon Quest Heroes ou Arslan: The Warriors of Legend foram quase um combinar directo das bases da sua série com a essência de cada uma das propriedades. Adaptavam-se os visuais para ir ao encontro do estilo gráfico específico, eram colocadas inúmeras alusões aos mundos, e com grande engenho a fórmula Musou era adaptada para servir estes grandes nomes.
No entanto, por força do Omni-Directional Mobility Gear, ou Three Dimensional Maneuver Gear se preferirem, e pela premissa básica de Attack on Titan que iremos enfrentar criaturas de um tamanho incrível, os Titãs, existia desde logo algo altamente fascinante neste Attack on Titan Musou. A curiosidade para descobrir como seria adaptado para videojogo toda aquela intensa e dramática luta da humanidade contra os Titãs também é grande e o Omega Force mais uma vez mostra que sabe respeitar as propriedades com as quais trabalha. Os fãs da obra de Hajime Isayama vão ficar contentes com este jogo, que segue os eventos da primeira temporada da anime.
Eren Yeager, Mikasa Ackerman e Armin Arlert eram, aparentemente, crianças normais. Mesmo num mundo rodeado de muralhas de uma altura inacreditável, sonhavam como qualquer outra criança e viviam fascinados com o mistério e as lendas. Tudo muda de forma abrupta quando um Titã Colossal destrói parte da parede que protegia a humanidade dos Titãs. Estas criaturas gigantes que comem humanos, sem razão aparente, tornou-se num perigo bem real e quando um outro Titã de Armadura ajuda a devastar a humanidade, estas três crianças perdem tudo o que tinham e viverão com um único propósito: tornarem-se nos caçadores que vão liderar a resposta da humanidade.
"A par de Dragon Quest Heroes, é o 'Musou' mais divertido que joguei nos últimos tempos."
O Omega Force faz o seu melhor para apresentar a história destes personagens e apesar de o conseguir com respeitável efeito, se não conhecerem o material fonte, não terão o mesmo dramatismo e intensidade. Nem lá perto. Apesar das principais situações que ocorrem entre o primeiro e o último episódio da anime estarem aqui retratados, a carga emocional e a violência que nos arrepia não conseguem o imponente tom que fizeram de Attack on Titan um sucesso a nível mundial. Ainda assim, temos as principais incursões dos diferentes Regimentos transformadas em belas missões que iremos jogar.
Enquanto sonham com o regresso a Shinganshina, Eren, Mikasa e Armin vão conhecer Levi, Erwin, Jean, Conny, Sasha, Ymir, Krista, Reiner e Bertolt, entre outros. A desesperante necessidade de selar Wall Maria é o objectivo final mas nada os preparou para o que vai acontecer até lá chegar. Mas isto os fãs conhecem da anime, ou manga, e sabemos que o Omega Force consegue adaptar de forma convincente as propriedades para os seus videojogos, o que mais desperta curiosidade é como conseguiram moldar o gameplay tradicional de Musou para servir uma experiência como Attack on Titan.
Os membros do exército são treinados no combate com espadas, necessárias para cortar os Titãs na parte de trás do pescoço (a única maneira de os matar sem regenerarem) e no uso do equipamento de mobilidade multi direccional. Estes são os dois fundamentos básicos de um caçador de titãs e o jogador terá o prazer de os conhecer. Graças a um esquema altamente simples mas gratificante de controlos, o jogador consegue voar pelos cenários com o seu 3DMG, fixar a mira num dos cinco pontos de um titã (braços, pernas ou pescoço), manobrar o seu personagem de forma a investir com sucesso e cortar o titã para ele tombar. Ao contrário do que seria de esperar, isto é tudo muito fácil.
Basta um botão para lançarmos as cordas e "voarmos pelos cenários", com completa simplicidade. Quando se querem focar num Titã, colocam nele a mira e entram numa espécie de bailado com ele. Enquanto com um dedo escolhem o membro que querem atacar, com o outro estão a movimentar o personagem para obter uma linha limpa até ele. Este gameplay simples mas altamente eficaz, que dá uma incrível sensação de controlar alguém que usa o 3DMG, é do melhor que o Omega Force conseguiu em Attack on Titan. Sabiam que a natureza deste mundo os impedia de encher os níveis de inimigos para darmos soco, ou esquartejarmos com as lâminas. Foi preciso levar o desafio mais longe e estiveram à altura.
Tal como já vimos em jogos como Arslan: Warriors of Legend, o Omega Force soube não só adaptar as especificidades de cada experiência para o seu gameplay, como também soube introduzir mecânicas ou um ritmo à altura. Attack on Titan não tem tantos inimigos no ecrã mas tem uma sensação de urgência, de desafio, totalmente diferente. Em diversos momentos vemos flares lançados para o ar e apesar de podermos cumprir as missões sem lhes prestar atenção, quando ajudamos quem precisa, somos recompensados. Por outro lado, o auxílio a alguns é mesmo obrigatório e isto imprime a certos níveis uma incrível sensação de desafio, que agrada imenso.
Recriando os perigos dos caçadores no material fonte, o jogador terá que gerir os seus recursos e ao ajudar estas pessoas receberá mais lâminas e gás. Altamente importante se não quiser ficar sem recursos a meio de um confronto.
Ao esquartejar membros assinalados, recebemos materiais que se tornam preciosos. Quando estamos num acampamento ou numa base, podemos passear por ela e conversar com os NPCs, mas mais importante, podemos comprar novo equipamento ou melhorar o que temos. Seja o número ou resistência das lâminas que é reforçado ao comprar um novo conjunto, seja uma cisterna de gás mais duradoura ou um 3DMG mais ágil e veloz, existem vários incentivos para passarmos mais tempo a derrubar titãs nos níveis. Mais incentivos são acrescentados quando terminam a campanha principal.
A forma como o Omega Force adaptou o conceito Musou na perfeição a Attack on Titan é algo a respeitar e louvar, torna-se incrivelmente divertido. Alguns níveis causam mesmo uma sensação de urgência quando ficam totalmente mergulhados na experiência. Os níveis foram adaptados para relembrar os momentos intensos em que os personagens principais precisavam de ajuda, e até é possível combater na forma titã de Eren.
Apesar do gameplay altamente gratificante, que pela sua simplicidade se torna mais apelativo pois patrocina fluidez e diversão, apesar de seguir os eventos da anime com dramatismo e choque contidos, apesar dos visuais fiéis à anime, e apesar da fidelidade impressa com o uso das vozes dos actores que ouvimos na anime, Attack on Titan: Wings of Freedom sofre com alguns problemas. São três elementos que se podem tornar horríveis até para alguns jogadores: a instabilidade do rácio de fotogramas, a câmara e o tempo de jogo. São as principais contra-partidas que devem ter em conta ao olhar para este jogo.
"Attack on Titan: Wings of Freedom capta na perfeição a essência da anime mas peca com falhas técnicas."
Apesar do motor gráfico ser mais uma vez usado de forma a permitir espaços amplos e vastos, com personagens de belo detalhe que parecem autenticamente saídas da anime, a qualidade geral das suas texturas é fraca e existem muitos bens repetidos. O pop-in de elementos do cenário é frequente, o número de titãs diferentes parece menor do que na verdade é, devido ao uso repetido de alguns deles em momentos chave, e em alguns cenários sentimos que este não é um jogo de actual geração. Existem contrastes, já que outros até conseguem agradar. No entanto, toda a sua qualidade visual seria facilmente aceitável, não fossem as quedas abruptas no rácio de fotogramas em momentos mais delicados.
É pena num jogo com um gameplay e uma acção destas que em momentos fulcrais da acção a suavidade vá pelo cano. Quando queremos despachar rapidamente vários titãs com a mestria de um Levi, como se dançasse no ar, sentimos que o jogo fica mais lento e não é uma sensação bonita. Para piorar, em vários momentos destes têm ainda de suportar uma câmara que parece ficar louca e não nos deixa ter noção do que se está a passar. Por diversas vezes, a câmara foi o meu maior inimigo e juntamente com as quedas no rácio de fotogramas, baixa a qualidade da experiência que pedia melhor refinamento.
Além destes dois aspectos, devem ter também em conta que a campanha principal, o Attack Mode, dura menos de dez horas e isto poderá não corresponder às expectativas de muitos. O Omega Force segue os principais momentos da anime e isso restringe o tempo de jogo, apresentando como alternativa o Expedition Mode. Aqui podem entrar em expedições com um amigo online, uma série de missões que devem completar sem morrer, e que também podem cumprir offline, ou então realizar missões secundárias para o Survey Corps. Inevitavelmente variações de missões da história, nos mesmos locais, mas com objectivos secundários e a possibilidade de adquirir mais materiais.
A par de Dragon Quest Heroes, Attack on Titan: Wings of Freedom é o "Musou" mais divertido que tive a oportunidade de jogar. Se Arslan: Warriors of Legend já revelou bem a forma digna com que a Omega Force adapta a sua fórmula para servir e glorificar as propriedades com as quais trabalha, este Attack on Titan é o seu expoente até à data. A sensação que temos ao explorar os diferentes locais com o 3DMG e como isso molda o gameplay, os adversários e a forma como os eliminamos, sem esquecer a possibilidade de voltar a este mundo, fazem com que este seja um dos mais divertidos jogos do Omega Force. Pena mesmo que na vertente técnica ainda não tenham subido a parada.