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Azure Striker Gunvolt - Análise

Alta voltagem.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Bom trabalho da Inti Creates. Tem Mega Man em espírito mas é um jogo que dispara raios de acção, progredindo com identidade.

São menos frequentes os lançamentos em tempos diferentes em territórios diferentes. Porém, embora caminhemos para a regra do lançamento universal, que há uns anos era quase a excepção, contam-se quase pelos dedos das mãos as excepções. Azure Striker Gunvolt, da japonesa Inti Creates, é uma delas. O exclusivo da Nintendo 3DS foi lançado no final de Agosto do ano passado no Japão e nos Estados Unidos, tendo permanecido até há pouco tempo arredado do território europeu.

Hoje, por € 12.99, os europeus podem descarregar a versão digital do jogo (não tem suporte físico) tendo ainda acesso, sem qualquer custo, a Mighty Gunvolt (que aqui analisamos há dias), o nostálgico título 8 bit. Têm até Julho para o fazer, num sistema igualmente disponibilizado aos norte-americanos aquando o lançamento. Inspirado na clássica série Mega Man, Azure Striker Gunvolt é contudo um jogo bastante diferente, com uma imagem e direcção muito próprias. Pelas plataformas, doses de acção e apresentação em 2D vislumbram-se as equiparações, mas ao fim de algum tempo encontramos um jogo fortemente autónomo não obstante ser uma produção cuidada maioritariamente por quem desenvolveu os últimos episódios da saga Mega Man.

Estética fortemente retro e combate bem trabalhado.

É uma comparação quase inevitável, como também é necessário separar Azure Striker Gunvolt de Mighty Nr. 9, um jogo desenvolvido pelo estúdio Comcept, fundado por Keiji Inafune, o "pai" da série Mega Man. De todo o modo e possuindo um bom núcleo de programadores, o trabalho da Inti Creates tem sido cada vez mais reconhecido no Japão, tendo esta produção contribuído para a adesão de mais jogadores.

Aqui o jogador irá vestir a pele da personagem Gunvolt, protagonista e dentro da história considerado como um "adepto", isto é, um ser humano dotado de superpoderes, devendo obediência a um comando. Porém, diante de uma situação limite da qual só sairá tomando uma decisão que afectará o seu percurso (libertar uma criança refém de um grupo criminoso chamado Sumeragi ou deixá-la para trás e à mercê do inimigo no seguimento das instruções dadas), Gunvolt segue o seu instinto, tirando a criança do cativeiro. A situação deixa-o diante de um novo quadro, no qual terá mais possibilidades de agir por sua conta, levando-o a percorrer os múltiplos níveis (com liberdade de escolha) e enfrentar diversas criaturas robóticas, usurpando os seus poderes depois de as derrotar.

Numa manobra curiosa, a editora optou por localizar o jogo para português, mas do Brasil. Percebo que para os nossos amigos e leitores da América do Sul esta situação seja positiva, mas é muito pouco usual ver um jogo japonês localizado para português do Brasil. O texto, assim como as instruções dos menus, estão localizados, excepto as vozes. Confesso que preferia ter o texto em inglês, até porque os diálogos abundam. Embora isto não afecte a marcha e progressão é sempre uma situação embaraçosa.

Espada sagrada.

Quanto aos poderes de Gunvolt, tendo os disparos como ataque normal, não são estes que operam no contexto de ataque definitivo. As balas acertadas no inimigo apenas concretizam o alvo, devendo de seguida ser aplicada uma descarga eléctrica sob a forma de uma redoma que envolve a personagem, electrocutando tudo o que estiver dentro e ligado ao seu raio de acção. O processo é aparentemente simples, até porque a descarga eléctrica actua por algum tempo, de acordo com a carga disponível numa barra circular colocada no fundo do ecrã. Todavia, mais do que os disparos, é a partir deste sistema de electrocussão ou descarga de energia eléctrica que se operam diferentes contextos de ataque, pondo em movimento plataformas, recolhendo objectos, para lá da neutralização dos inimigos. A recarga automática da energia leva algum tempo, mas podemos acelerar o processo, pressionando duas vezes na posição inferior do d-pad.

Este sistema permite ainda a Gunvolt efectuar uma espécie de dash aéreo, atravessando secções com espinhos, pois ao activar a descarga eléctrica é como se tivesse pousado os pés numa plataforma. O jogo não se assemelha de todo ao sistema de combate mais simples de Mega Man, mas é como se a personagem e os seus níveis estivessem ali espiritualmente e nos acompanhassem até à batalha final, quando enfrentamos mais um boss e somos forçados a actuar da melhor forma possível com os poderes que dispomos. O jogo não é mais o típio dispara e esconde. Passa para uma mecânica totalmente diferente, embora sem perder o charme da acção rápida e por vezes frenética.

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Depois há que contar com os ataques especiais. Poderes que podemos aplicar mediante o uso específico de uma arma, recorrendo ao ecrã táctil para a activar. Depois do rebentamento e utilização em situações mais apertadas, a arma entra num processo temporário de refrescamento, um compasso de espera obrigatório até à próxima utilização.

Ao longo dos quase doze níveis e mais tarde com os desafios, mesmo os jogadores mais veteranos serão postos à prova, especialmente nas "boss fights". O desenho dos níveis é relativamente simples, mas assente num conceito futurista. Por vezes algo vazios e um pouco repetidos, dada a extensão significativa de algumas áreas, sente-se que a ideia repete-se algumas vezes, mas também isso dependerá da área seleccionada. Tal como em Mega Man, a mais valia de uma nova arma faz-se sentir numa área específica e mais concretamente diante de certos oponentes. É interessante percorrer estas zonas e descobrir o melhor ajuste para o equipamento. Apesar dos fundos estilizados, as personagens e alguns elementos estão representados com bons sprites, especialmente nas boss fights, criaturas que se apresentam com bom design e altamente personalizadas. A banda sonora não terá temas tão memoráveis como os de Mega Man, cumprindo ainda assim a sua tarefa.

Azure Striker Gunvolt é uma meritória produção da Inti Creates. Um jogo que se afasta claramente dos últimos trabalhos de Mega Man, embora este lá continue em espírito. Dentro do género plataformas e acção, a 3DS tem aqui um jogo valioso, bem concebido e dotado de conteúdos e dificuldade suficientes para convencer os fãs das produções mais clássicas. Recuperando as produções 2D, Azure Striker Gunvolt revela uma imagem e direcção autónomos e por aí ficou no bom caminho.

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