Battlefield 1 - Análise
Épico.
Depois de toda a euforia em torno do seu anúncio, no início de Maio deste ano e acompanhado por um trailer inicial que já foi visto mais de 47 milhões de vezes, a DICE finalmente colocou o seu novo épico nas lojas. É verdade, Battlefield 1 está finalmente disponível e tudo aquilo que vimos ao longo destes meses, tudo aquilo que nos deixou de olhos arregalados, em alguns casos até boquiabertos, está ao nosso dispor. Battlefield 1 é um dos grandes lançamentos do ano e a DICE conquistou esse direito com todo o mérito. Utilizado pelos adeptos do género como uma espécie de grito de revolta contra as tendências futuristas em muitas séries que os levam ao desânimo. Desde o início que a DICE prometeu algo de tom épico, desde o início que afirmou ter algo diferente para apresentar. Desde os primeiros instantes que Battlefield 1 nos deixou a sonhar com todas as possibilidades e bem desde o início que nos assegurou que o "banal" real poderia ser novamente entusiasmante, sem deixar de ser credível.
A DICE conquistou a atenção do mundo e agora é hora de descobrir se os Suecos conseguiram entregar à Electronic Arts o título prometido. Eis chegada a hora de descobrir de que forma Battlefield 1 evolui as mecânicas da DICE, de que formas o Frostbite surpreende o jogador, e o que foi feito no multijogador para nos manter ocupados nos próximos meses. Isto sem esquecer as promessas de uma campanha ambiciosa, tal como os jogadores esperavam e queriam. Se há algo que não muda, é o desejo da indústria em ser surpreendida e cabe a estúdios como a DICE assumir a liderança nessa exigente caminhada.
Depois de ter passado largos meses em torno de Star Wars: Battlefront, estava ansioso para descobrir como a DICE aproveitaria a oportunidade para voltar a criar uma campanha. Especialmente na forma como utilizaria o Frostbite para engrandecer os seus confrontos bélicos, patrocinados por paisagens panorâmicas de cortar a respiração, dotados de uma atenção ao detalhe singulares. Claro que para muitos Battlefield 1 terá na sua componente multijogador o foco principal, tão vital numa proposta como esta que pretende traçar o ritmo de futuras experiências. Os populares modos da série Battlefield precisavam ser moldados para que as "fragilidades" da Primeira Guerra Mundial fossem adaptadas de forma a permitir um jogo divertido.
Este era o principal desafio perante a DICE. Numa era em que a maioria das companhias aposta em ambientes futuristas ou realidades alternativas para permitir todo o tipo de armas, mecânicas ou funcionalidades no seu gameplay (sejam super-poderes, saltinhos, ou armas de poder inacreditável), a DICE tinha a tarefa de tornar épico o que para muitos é já banal. O desafio de tornar novamente relevante a intensidade e suspense de utilizar armas com menor rácio de disparo ou que precisam ser recarregadas após um disparo é apenas um entre muitos exemplos de quem trabalha com contextos limitados. No entanto, na geração dos carregadores infinitos ou das munições suportadas por efeitos especiais, a elevada dificuldade da proposta é igualmente um incentivo ao engenho criativo.
Se tiveram a oportunidade de ler o nosso artigo inicial sobre Battlefield 1, sabem que a sua campanha enverga todos os contornos de um épico. A DICE arriscou ao criar uma campanha focada em diferentes protagonistas, procurando englobar diferentes zonas desse conflito global. Apesar de não ser uma aposta ganha em completo, especialmente porque praticamente nem jogamos com os Harlem Hellfighters (e eles estão na capa do jogo), e porque é curta, as histórias são intensas, dramáticas e protagonizadas por personagens com capacidade para crescer. Seria fantástico ver conteúdos adicionais para a campanha, especialmente porque os personagens merecem e as suas narrativas também.
Procurando homenagear o melhor possível todos os que combateram na Primeira Guerra Mundial, da forma que é possível sem perder a noção que um videojogo precisa ser divertido e estão a criar diversão com algo dramático e real, as diferentes "Histórias de Guerra" são traçadas a sangue, suor e lágrimas, com todos os condimentos de um épico. Mesmo que não consiga aquele desejado efeito de controlarmos apenas mais um homem entre muitos outros, mantém-se a sensação ocasional de um super-herói pré-destinado à grandeza, a DICE consegue criar uma campanha com muito para dar. As missões conseguem ser intensas, existem confrontos de grande escala e alguns confrontos vão forçar o jogador a repeti-los diversas vezes. Enquanto alguns momentos são mais intensos, outros são mais simples e isso é o que desequilibra o seu ritmo geral. Além disso, após deixarem os personagens, fica o sabor a pouco.
"A campanha é épica e apresenta personagens marcantes, mas relativamente curta e os Harlem Hellfighters são uma miragem."
A campanha de Battlefield 1 peca por curta, mas ao mesmo tempo lembra-nos que a DICE conseguiu fazer um bom trabalho com as personagens que escolheu para nos apresentar. Todas as Histórias de Guerra são variadas e assentam em funcionalidades diferentes do gameplay que Battlefield 1 permite no modo multijogador. Se num momento estamos em França a viver o drama de um grupo de homens que tenta sobreviver contra todas as probabilidades dentro de um tanque, no outro estamos na Arábia a utilizar abordagens furtivas para conseguir destruir um comboio super-artilhado. Em mapas abertos com total liberdade para escolhermos por onde ir, ou dentro de missões mais restritas, Battlefield 1 faz de tudo para demonstrar as diferentes facetas da Primeira Guerra Mundial.
Isto é algo bem aparente na componente multijogador, em que a DICE combinou tudo o que é representante da série Battlefield e o moldou para a Primeira Guerra Mundial. Desde o início que a DICE afirmou que iria humanizar a guerra, homenagear sempre que possível todos os que combaterem naquele período dramático, e se a campanha o consegue, a verdade é que o multijogador também desfruta dessa mesma postura. Claro que temos na mesma confrontos de larga escala em que morremos mais vezes do que seria de desejar e existem demasiadas pessoas acampadas do que seria desejável, mas o tom de Battlefield 1 é o de um jogo que revela imenso cuidado na preparação de todos os seus modos. Especialmente com belos toques como as introduções antes dos confrontos.
A estrela de Battlefield 1 é mesmo o modo Operations, que poderá tornar-se no expoente máximo do jogo. Conquest, Domination, Rush, e Team Deathmatch são sobejamente conhecidos pelos fãs de Battlefield. O gameplay foi moldado para tornar as armas da Primeira Guerra Mundial mais relevantes, as classes foram ajustadas, as suas habilidades contextualizadas, mas ainda assim sentimos que estamos num Battlefield. Assim que o começamos a jogar já sabemos o que nos espera. É imediato. Estes modos de jogo variam entre o abate de inimigos, puro e duro, e a captura de zonas para acumulação de pontos e consequente vitória. É o tradicional em Battlefield, que neste jogo introduz a possibilidade de entrar em tanques ou num Zepelim de guerra para disparar ou conduzir, além dos habituais aviões.
No entanto, são os modos Operations e War Pigeons que prometem dar que falar e conquistar os jogadores. Se o ritmo frenético encontrado pelo afinamento cuidadoso da DICE permite que Conquest continue a brilhar, forçando o jogador a manter-se dinâmico, a estudar os ambientes e constantemente ler o mapa para saber por onde ir (aquela sensação de não existirem tempos mortos), Operations leva as coisas ainda mais longe. Neste modo, acompanhado por uma brilhante introdução em cada mapa, temos o verdadeiro expoente da filosofia da DICE em humanizar este confronto bélico virtual.
Recriando as batalhas da Primeira Guerra Mundial, Operations coloca o jogador a lutar em diferentes mapas. Enquanto uma equipa defende os pontos, a outra ataca, e se conseguir penetrar nas defesas, conquistar o direito a invadir o próximo mapa. Se a equipa conseguir defender, o confronto termina. É uma ramificação do que a DICE tem feito e que conquista o seu próprio ritmo, e que joga com as regras da série Battlefield para imprimir ainda mais ritmo. É o maior prazer em Battlefield 1 e onde prevemos passar a maior parte do tempo com o jogo. Isto sem esquecer War Pigeons, onde temos de capturar pombos para escrever uma mensagem e causar um devastador ataque na equipa adversária. É uma espécie de capture the flag dinâmico e repleto de adrenalina.
Resta ainda falar sobre o sistema de classes e progressão, que foi ligeiramente alterado. Em Battlefield 1, o jogador ganha Bounds, moeda in-game, ao subir de nível e as armas estão associadas a um nível e não são desbloqueadas automaticamente, precisam ser compradas. Sempre que sobem de nível, desbloqueiam o acesso a essa arma mas precisam de Bounds suficientes para as comprar. Para tornar a experiência ainda mais profunda e até exigente, a DICE determina que o acesso a cada arma é independente entre as classes. Se apostarem em Medic, vão conseguir várias armas, mas quando forem jogar com um Scout, por exemplo, não terão acesso a esses desbloqueios. Serve para incentivar o jogador a investir nas diferentes classes, se quiserem estar apto a ampliar o seu comportamento nos confrontos e pronto para diferentes situações.
"O multijogador de Battlefield 1 é tão caótico quanto divertido. Será preciso algum tempo mas os diferentes modos de jogo agradam a diferentes gostos."
Battlefield 1 é daqueles jogos capazes de sugar o vosso tempo e nem se aperceberem. É um título que despertará em cada jogador a vontade de querer jogar melhor, de deixar de ser o pato no multijogador, e procurar trabalhar em equipa para ajudar os outros. Despertará a vontade de ganhar e para isso terá de subir de nível, comprar novas armas, e aprender como actuar melhor nos mapas. Battefield 1 é um daqueles jogos que quanto mais jogamos, mais vamos aprendendo. Os diferentes modos e classes asseguram que qualquer jogador tem algo com o qual se enquadra, e a DICE criou um esquema capaz de nos agarrar durante meses. Após a breve passagem pela campanha, será aqui que vão passar o vosso tempo e Battlefield 1 não desilude.
A respeito da campanha, tal como referido, é relativamente curta e apesar de cada história usufruir de um tom épico e dramático variável, as diferentes facetas do gameplay e do Frostbite que exploram, fazem deste modo uma delícia. Mesmo que em termos de design e conceito não se erguem acima do que já conhecemos, consegue desafiar e divertir. Sem esquecer as impressionantes cinemáticas de algumas delas. Assim que acabarem, fica o desafio de regressar para descobrir todos os segredos e de apanhar todos os itens escondidos. Mais do que a sua qualidade em si, fica como um atestado do potencial da DICE para criar campanhas envolventes, e estabelece um ponto a partir do qual as exigências vão crescer.
Tal como, naturalmente, Battlefield 1 está assente em todo o ADN da série Battlefield, a clara ideia que fica é que este é um ponto marcante para a DICE. De agora em diante, os jogos que desenvolver terão de respeitar e seguir um largo número de regras e requisitos que foi estabelecido nesta épica viagem no tempo. Da mesma forma que fica a sensação que o estúdio Sueco tem capacidade para fazer tudo o que quiser, também fica a ideia que de agora em diante, Battlefield 1 será uma referência. Seja pela campanha, que precisará ser melhorada em alguns pontos mas cujas bases são exemplares, seja nas evoluções no multijogador e dos seus modos, o brilhante Operations é um exemplo, no futuro, Battlefield 1 terá de ser usado como o exemplo para a DICE. Talvez até para outros à procura de aprender a construir épicos brutais e divertidos.