Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon review - Um spinoff surpreendente
Quem quer um demónio de estimação?
Ao longo de três jogos excecionais, vimos Bayonetta a espancar demónios com facilidade, a brincar com eles enquanto se desviava graciosamente dos seus ataques. Com tanta confiança e extravagância, é normal pensar que esta bruxa é sobredotada e já nasceu assim. Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon vem mostrar que, na realidade, não é assim.
Bayonetta Origins, tal como o nome sugere, conta a história de origem desta personagem. Nos jogos anteriores, já tivemos vislumbres da infância de Bayonetta, cujo nome real é Cereza, mas ficaram pontas soltas. Este jogo dá continuidade a essas pontas, numa narrativa que mostra como Bayonetta evoluiu como bruxa e quando é que invocou o seu primeiro demónio.
Um conto que podia estar num livro infantil
Apesar da classificação etária PEGI 12, sinto que Bayonetta Origins facilmente pode ser apreciado por uma audiência miúda e graúda. É o típico conto de um livro infantil. Cereza perde-se na floresta proibida de Avalon e vê-se atacada pelas terríveis fadas. A diferença é que invoca acidentalmente um demónio que acaba por possuir o seu boneco de peluche.
A mensagem da narrativa é forte. Na ânsia de conseguir salvar a sua mãe, que foi aprisionada pelas bruxas devido ao seu romance com um lumen sage, Cereza luta contra os seus medos e começa a dominar as suas emoções. No início do jogo é apenas uma criança indefesa e insegura, mas a sua aventura pela floresta, juntamente com a sua amizade invulgar com Cheshire (o demónio), tornam-na gradualmente mais forte.
É uma história simples, mas com pilares fortes, que evoca sentimentos que facilmente ressoam com quem está a jogar. Ninguém consegue ficar indiferente a uma criança separada da sua mãe, seja bruxa ou não.
Com um joy-con controlas Cereza, com o outro Cheshire
Bayonetta Origins é um jogo cooperativo para ser jogado a solo. Controlas duas personagens em simultâneo: com o joy-com direito controlas Cereza; o joy-con esquerdo está atribuído a Cheshire. Pode parecer confuso, mas na prática não é assim tão complicado uma vez que te habituas a esta dinâmica. Controlas não apenas a direção de cada personagem como também os seus desvios e ataques.
Na verdade, Cereza não ataca. O seu papel nos combates é fazer um feitiço que prende os adversários no mesmo sítio, deixando-os expostos aos ferozes ataques de Cheshire. O importante é manter Cereza a salvo, porque Cheshire não morre, fica apenas sem energia e volta à sua forma de peluche. Quando isto acontece, tem que voltar para os braços de Cereza para ganhar energia, para se poder transformar novamente e continuar a combater.
A jogabilidade é radicalmente diferente dos jogos anteriores da Platinum Games, mas não olhes para isso como um ponto negativo, pelo contrário. A jogabilidade peculiar de Bayonetta Origins é uma das suas forças. Apesar da simplicidade inicial, é possível evoluir tanto Cereza como Cheshire com novas habilidades que alargam o leque de coisas que podemos fazer em combate.
Este sistema de controlar duas personagens em simultâneo não é inovador - Brothers: A Tale of Two Sons faz o mesmo, por exemplo - mas a Platinum Games tem o mérito de lhe adicionar complexidade e transportar eficazmente esse sistema para um jogo de combate. A ação não atinge os mesmos picos que viste nos outros jogos de Bayonetta, mas é satisfatória e adequada (afinal, Cereza ainda é uma pupila neste jogo).
Há muitos segredos na Floresta de Avalon
Neste jogo há tanto de ação como de aventura. Inicialmente, a exploração é limitada, mas assim que começas a desbloquear formas alternativas para Cheshire, o que te permite interagir com mais elementos do cenário, podes começar a desviar-te do caminho principal. Há vários colecionáveis, mas o que é realmente valioso na exploração são recursos específicos para desbloquear as habilidades mais avançadas de Cereza e Cheshire.
"Neste jogo há tanto de ação como de aventura"
Os checkpoints e locais onde podes gravar o progresso são frequentes. Eventualmente, desbloqueias a habilidade de fazer viagens rápidas entre estes locais, o que te permite regressar a secções da floresta por onde já passaste e aplicar novas habilidades para aceder a sítios que antes não conseguias. Os quebra-cabeças são ocasionais e requerem quase sempre a cooperação das habilidades de Cereza e Cheshire para os resolver.
Um pormenor que me agradou é que sabes sempre por onde é o caminho principal. Passas uma grande parte do jogo a perseguir um lobo branco, que deixa como marcas pegadas azuis brilhantes. Deste forma, sabes sempre quando estás a avançar na história e quando estás a explorar um caminho secundário da floresta. Este tipo de hand holding dá jeito, mas em outras ocasiões o jogo excede-se. Perdi uma vez e apareceu logo uma pergunta a ver se queria reduzir a dificuldade.
Visualmente também parece um livro infantil
Jogar Bayonetta Origins é como estar a folhear um conto infantil ilustrado. Visualmente, adopta esse estilo com grande eficácia. Não é apenas na jogabilidade que se nota que a Platinum Games tinha o desejo de fazer algo radicalmente diferente com Cereza and the Lost Demon, a direção artística é um evidente sinal desse desejo. A forma como a floresta nos é apresentada evoca imediatamente a sensação de mistério, de perigo, mas também a vontade de uma aventura. A comunicação visual é forte e eficaz.
Cereza and the Lost Demon chega pouco tempo depois de Bayonetta 3, mas não merece ficar na sua sombra. É um spinoff a transbordar méritos, que conta uma apelativa e adorável história de origem. Simultaneamente, apresenta uma versão evoluída e mais complexa do sistema de jogabilidade que previamente tínhamos visto em Brothers: A Tale of Two Sons. Somando tudo, uma grande surpresa, que vai além do que tipicamente se espera de um jogo que está de fora da linha principal. Vale tanto para quem jogou os anteriores como para quem vai conhecer pela primeira vez esta personagem.
Prós: | Contras: |
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