Beat the Beat: Rythm Paradise - Análise
A febre de quinta à noite e macacos que tocam pandeiretas.
Porém e para acomodar a entrada em cada tema, há passagem obrigatória por uma demonstração com participação direta do jogador e que serve de preparação e aquisição dos modelos rítmicos para o exame final que chega logo a seguir, um teste completo e exigente da matéria dada. A atribuição do resultado final depende da eficácia no acerto do ritmo. Tons falhados normalmente são identificados com uma imagem que denuncia pressão fora do tempo, enquanto que as notas corretas revelam gestos de satisfação e concordância. Atingir o mínimo (ok) para seguir em frente é, por vezes, algo bem complicado e, para piorar, um perfect só mesmo para os mestres. Para se qualificarem a um perfect (dispõem de 3 rounds) deverão concluir um mini-jogo com superb, resultado que abre três hipóteses para tentar um perfect e ganhar a música como desbloqueável no quadro das opções.
No fim de uma ronda de 5 temas, surge o desafio derradeiro, qual teste supremo. Uma prova rítmica que combina porções dos jogos anteriores num mesmo plano, forçando aqui a ginástica mental por diferentes ritmos. Nesta edição musical remix, os temas mais rápidos tendem a complicar e por vezes são selecionadas partes turbulentas, mas aqui também podem seguir em frente se passarem por apuros. Felizmente o jogo não acaba se falharem mãos cheias de notas. Avançam sempre até ao fim. As músicas não são exageradamente longas nem muito curtas. Sente-se que cada uma tem o tempo ideal, embora haja variações.
À medida que conquistam medalhas ganham podem usá-las para trocar por brinquedos que fazem uso de funcionalidades diferentes da capacidade de ritmo ou então por sequências infindáveis de músicas. As opções são constantemente desbloqueadas e o sucesso é devidamente compensado com a abertura de novos desafios.
Cada tema não só encerra uma composição musical bizarra como é antecedida de uma troca de diálogos entre as personagens, criando uma espécie de curta narrativa com princípio, meio e fim, podendo este ser bom ou mão. Atinjam o sucesso e as personagens conversam positivamente ou mostram sinais de apreço. Falhem e serão brindados com piadas jocosas. O humor é transversal e persistente. Desde a arquitetura do espaço cénico, às personagens e até às melodias, o melhor deste jogo, a par da música está na constante surpresa de argumentos.
Há o rapaz que se senta no banco de jardim da escola e deve afastar as bolas de futebol, basquetebol e futebol americano que teimam em cair numa zona onde um par de esquilos quer namorar em sossego. Há o macaco que quer tocar pandeireta, o macaco que faz hi-fives por segundo na ponta de um ponteiro do relógio. Há o porco que gira sobre a cadeira de escritório numa reunião de administração. Há o gato que joga badmínton com o cão enquanto ambos voam. Há o boneco insuflável que se transforma num boneco musculado capaz de rebentar o saco de boxe. Até ao último dos 50 jogos disponíveis faz-se um magnífico percurso por uma incrível dose de loucura, originalidade e imprevisibilidade.
Aos argumentos contagiantes acrescem composições e batidas altamente vibrantes e frenéticas. O estilo cartoon minimal contribui para glorificar a banda sonora. A maior parte das vezes as personagens ressaltam ao ritmo da música, espalhando com sucesso as vibrações maioritariamente de estilo 8-bit que abraçam a eletrónica, o jazz, o hip hop, entre outras variações. Ritmo não falta. O encaixe da dimensão visual na componente musical é quase perfeito e oferece toda uma paródia que só se pode dar como oriunda a partir do Japão. A respeito disso os europeus tiveram sorte pois existe uma opção que permite selecionar vozes em japonês (quando há temas cantados) e as traduções do Japão para os diálogos escritos resultam melhor.
Infelizmente a opção para dois jogadores está limitada em termos de músicas e os temas são os mesmos que integram a oferta para o jogador individual. Apesar da limitação é uma novidade e uma aproximação à competição que consegue ter o seu fascínio. Por outro lado esta é uma experiência simples e reduzida a um mínimo de interação, circunstância que pode desagradar a alguns utilizadores menos aptos a lidar com uma curva de dificuldade irregular e crescente.
Isso não apaga, contudo, a magnífica dimensão deste Rythm Paradise, que muito embora não incorpore muitas novidades no género, presta-se a proporcionar não só um elevado desafio rítmico como um é capaz de divertir, instruindo. A satisfação de entrar por dentro de um tema e tocar em cheio nas suas bases e variações rítmicas oferece um prazer genuíno como incomparável. As variações argumentativas e ilustradas com empenho e originalidade farão de Rythm Paradise um jogo de culto. Como festa de despedida da Wii não há melhor título para assinalar a despedida senão com boa disposição.