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Biomutant review - Mutantes de palmo e meio

Um jogo demasiado arrojado para as dimensões da equipa.

Demasiado arrojado e com uma ambição que a produtora não foi capaz de concretizar da melhor forma.

Anos após o seu anúncio (Agosto de 2017), e depois de um período que se chegou a pensar que o projecto tinha sido cancelado, chega finalmente Biomutant. A promessa é de uma experiência profunda, tanto em mecânicas como na história recheada de eventos que coloca à prova a nossa consciência e as decisões que tomamos ao longo da vida. Escolhas que trilham o caminho por nós percorrido e transformam o mundo envolvente. Desenvolvido pela Experiment 101, este projeto teve início em Maio de 2016 com uma equipa de apenas 6 pessoas, e em 2017 já eram 13 a trabalhar a tempo inteiro. É de facto muito tempo de desenvolvimento, são cinco anos que agora se resumem a um trabalho terminado que tem como objetivo cativar os amantes de RPG em mundo aberto.

Descrito pela Experiment 101 como um open-world, post-apocalyptic Kung-Fu fable RPG, Biomutant é isso mesmo. Uma história que tenta absorver o jogador com a sua fábula, colocando-o no centro de tudo o que se irá passar neste mundo de fantasia pós-apocalíptica. Mundo este repleto de criaturas estranhas que evoluíram após o colapso dum mundo de poluição que contaminou o planeta ao ponto de transformar os seres vivos em criaturas que evoluíram dessa poluição desmedrada.

Temos um passado trágico que nos persegue em toda esta jornada, com eventos em flashback que nos vão contando e juntando as peças do puzzle. Partimos para uma demanda com o objetivo de salvar o planeta, mais concretamente a Tree of Life, que é o centro de todas as coisas (faz lembrar um pouco o filme Avatar). Esta encontra-se na iminência da destruição e temos de salvar as raízes que a sustentam, literalmente. Para isso, há que eliminar quatro criaturas que ameaçam cada uma dessas raízes. Mas antes desta tarefa colossal, o objetivo primordial é ajudar na união de todas as tribos, para que num esforço final conjunto, consigamos derrotar os seres que ameaçam a Tree of Life.

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"Uma personalização de personagem muito completa e robusta"

Sendo um RPG, somos logo confrontados com uma escolha de personagem, onde existem imensos atributos, sejam eles visuais e obviamente características que temos de preencher para moldar as capacidades do nosso avatar. Aqui já se nota uma ambição demasiado elevada por parte da produtora. Manifestamente, é agradável termos tamanha quantidade de atributos por onde escolher e pontos para distribuir, mas ao longo desta experiência chega-se à conclusão de que a sua relevância não é de facto definidora na sua totalidade, muito é desperdiçado neste projeto, a meu ver, demasiado ambicioso. Mas é ótimo observar e há que dar mérito ao que disponibilizam ao jogador, uma personalização de personagem muito completa e robusta.

Logo no início temos a companhia de um narrador que nos guia durante todo o jogo. Este é uma presença constante em toda a aventura. É uma forma que encontraram de não nos perdermos, com dicas importantes e conversas que por vezes quebram a monotonia das longas caminhadas. Também é introduzido uma espécie de karma, aqui denominado por Aura, onde diversos eventos determinam uma escolha obrigatória, optamos pelo lado da escuridão ou pela luz da salvação. Estas escolhas são importantes para o nosso caminho, e determinam muitas vezes quais as habilidades que podemos desbloquear para o personagem.

Esta configuração complexa e robustamente abundante é de enaltecer. Há muito para escolher e personalizar, e dessa forma criar um personagem exatamente à imagem como queremos abordar Biomutant. Esse objetivo é alcançado pela Experiment 101, consegue uma boa combinação de aspetos culminando numa fantástica personalização e criação de armas. Este é de facto o ponto forte, a criação de armas. São quase infinitas as possibilidades, onde tudo é possível, desde uma espada onde o cabo é uma banana, até armas de fogo que mais parecem utensílios de cozinha. Temos armas de longo e curto alcance, como metralhadoras, caçadeiras, snipers, e obviamente, as armas de combate corpo-a-corpo.

As opções de combate não se ficam pelas armas, temos também as nossas técnicas Wung Fu (é o nome dado ao Kung-Fu), e existem igualmente parâmetros biónicos que foram desenvolvidos nas criaturas que habitam este mundo pelas mutações referidas. No Wung Fu temos técnicas base e outras a desbloquear, temos também as denominadas por Benefícios, onde moldamos parâmetros que nos dão a possibilidade de alterar aspetos do jogo, como a capacidade encontrar mais recursos, maior probabilidade de ataques críticos, entre muitos outros. Obviamente que se pode melhorar as bases do personagem, seja a força, agilidade, vitalidade e mais. O ponto mais interessante é o das Mutações, que nos dão capacidades Biogenéticas e poderes Psiónicos. Aqui temos capacidades de controlar inimigos, lançar fogo ou gelo, entre muitas mais. Como é fácil de observar, estamos munidos até aos dentes, somos uma criatura com um potencial quase ilimitado.

Momentos belos que fazem esquecer as muitas problemáticas.

"Existem demasiadas vertentes problemáticas, desde a jogabilidade rudimentar em muitos momentos "

O poder de uma estrutura RPG aliada a elementos de combate com armas de fogo e corpo-a-corpo, são fundações muito fortes que dariam a entender um jogo muito bem conseguido. Está bem elaborado no papel, mas a concretização de toda esta "sopa" é uma mistura de problemas que não acabam. Logo de partida temos uma introdução que nos deixa antever que algo está fora do seu lugar, com cinemáticas muito rudimentares na sua concretização, em pontos do jogo estas chegam a ser anedóticas, no mau sentido. Mas se fossem apenas as cinemáticas, as questões erráticas são ainda mais profundas. Existem demasiadas vertentes problemáticas, desde a jogabilidade rudimentar em muitos momentos, como as nossas montadas (meios de deslocação pelo mapa), com animações ridículas que evidenciam ausência de captura de movimentos. É uma avalanche de parâmetros com medíocre concretização que me desanimaram por completo. De que serve tamanha estruturação do personagem quando a execução é tão defeituosa?

O visual de Biomutant é alcançado através do Unreal Engine 4, e apesar de momentos belos, principalmente no exterior, é apenas um ponto positivo em inúmeros equívocos. Se no exterior a beleza do jogo faz lembrar obras como The Legend of Zelda da Nintendo e até Immortals Fenyx Rising da Ubisoft, nas zonas interiores os visuais são completamente dececionantes e básicos. Com uma iluminação deficiente que cria a sensação de um jogo demasiado datado. Mas aceitava esta desilusão gráfica se a generalidade dos critérios fossem o oposto.

"Os bosses são executados com sons sem qualquer sensação de perigo, um em particular deu-me vontade de rir"

Continuando, é saliente que a continuidade da mediana concretização é absorvida também pela sonoridade demasiado pobre de Biomutant. Sonoramente é mesmo fraco, com sons dos inimigos ridículos, das nossas montadas, que são animais e até máquinas. Os bosses são executados com sons sem qualquer sensação de perigo, um em particular deu-me vontade de rir. Sinceramente, não consigo perceber o que correu mal, de todas as deceções a sonoridade é a que mais marcou, pois passamos muito tempo e percorrer o mapa e os sons ambiente são mesmo bastante tristes. Não posso deixar de referir o totalmente incomodativo narrador que nãos se cala, e até criaram uma opção no jogo para reduzir a frequência que ele fala, é uma loucura mesmo. Reparem que nos diálogos de todo o jogo, as criaturas com que interagimos falam numa linguagem que não se compreende, e todas as falas são reproduzidas em duplicado. Elas falam na sua língua e depois o narrador repete tudo em inglês (a versão PC não tem Português nas falas), é uma insanidade.

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O que salva em parte Biomutant é o seu fantástico sistema de personalização, desde os atributos do personagem, das vestimentas, e especificamente a criação das armas. É de facto na criação de armas que mais em diverti, seja pelo visual que podemos alcançar ou pelo seu efeito em combate. Não fosse esta vertente estaria perante algo demasiado pobre. Mas até aqui existem problemas, como a eficácia do que se cria. Dei por mim a utilizar duas armas de fogo e sempre a mesma de corpo-a-corpo. É estranho quando as possibilidades são quase infinitas. Algo não está bem aqui.

Ainda no combate, posso garantir que as batalhas com os bosses são do mais ridículo que já experienciei. São de facto de uma completa má estruturação, mais parece que não tiveram tempo para mais. Muito básicas e com os monstros a assumirem por vezes posturas cómicas. Apenas consigo salvar a luta final, que demonstrou algum cuidado e com mecânicas mais complexas, mas no fim dei novamente por mim a fazer spam de tiros e habilidades, sempre com as mesmas armas claro.

"Esta aventura open-world, post-apocalyptic Kung-Fu fable RPG é uma mixórdia demasiado ambiciosa para a Experiment 101 "

Esta aventura open-world, post-apocalyptic Kung-Fu fable RPG é uma mixórdia demasiado ambiciosa para a Experiment 101. Praticamente nada é executado de forma positiva, apenas a construção de armas se salvou. Deambulamos por um mundo recheado de coisas a descobrir, mas que ao fim de algumas horas refletimos, isto é demasiado básico e completamente fora da atualidade. Foram 17 horas para o acabar, e obviamente podemos continuar a explorar, indo a zonas contaminadas, grutas misteriosas, encontrar recursos lendários para aquela arma especial. Mas valerá a pena quando o sistema de combate dececiona?

Não fossem determinados pontos alcançados com positividade estaria perante um dos meus raros selos a Evitar. Mas Biomutant consegue superar essa fasquia e também não é merecedor de tamanha crueldade. Se estás à procura de algo para gastar dezenas de horas este é certamente para ti, se conseguires colocar de lado as suas problemáticas e o encarares como algo que não é AAA, mas vendido dessa forma, custa 59,99€ em todas as plataformas.

Prós: Contras:
  • Personalização do personagem
  • Construção de armas
  • Mundo enorme a explorar
  • Fraca execução de cinemáticas
  • Combate problemático
  • Lutas com Bosses fraquíssimas
  • Grafismo pobre nos interiores
  • Narrador leva-nos à loucura
  • Muito armamento inútil

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