Bionic Commando
Balanços de frustração por entre diversão.
Há cerca de 20 anos atrás, a NES recebeu um jogo chamado Bionic Commando. O jogo, uma espécie de sequela de um anterior título com o mesmo nome lançado para as arcades, conseguiu conquistar o estatuto de clássico e para uma geração tornou-se um título emblemático. A Capcom decidiu brindar gerações mais recentes com o jogo e deu-nos um remake na forma de Bionic Commando: Rearmed que serviu também como uma espécie de preparação e de apelo a estas novas gerações para a primeira sequela directa em duas décadas, o novo Bionic Commando feito para as plataformas de nova geração. Tal como o remake, o título publicado e vindo de uma companhia Japonesa, foi desenvolvido por um estúdio Sueco, a Grin, que depois de Wanted: Weapons of Fate nos brinda com a mais recente aventura de Nathan Spencer.
A nova aventura do soldado com braço biónico decorre dez anos após os eventos, que os menos atentos podem descobrir no clássico renovado presente nos actuais serviços online das diferentes plataformas. Cumprida a sua missão, ao contrário de condecorado Spencer foi traído pelo seu próprio governo, preso por crimes que não cometeu e com ordem de execução. No entanto, antes que tal aconteça, uma arma experimental explode no meio da cidade deixando-a mergulhada em radiação, exterminando a população e deixando-a à mercê de grupos terroristas. Spencer deixa de ser descartável e passa a ser imprescindível, ou seja, o governo volta a precisar dele para salvar o dia e é aqui que a nossa missão começa, com Spencer a partir para o salvamento de Ascencion City.
Os adeptos mais dedicados da série da Capcom vão reconhecer várias figuras do passado da série e vão gostar que a trama se mantenha com rostos familiares. No entanto, todo o argumento é bastante fraco, desinteressante e com pouco peso durante o decorrer da aventura e pode mesmo passar completamente despercebido. As sequências que nos contam a história são poucas e ainda bem pois em nada favorecem o jogo, sendo na verdade um aglomerado de movimentos e falas um pouco estranhos ou caricatos. Além do mais, os que não estão completamente familiarizados com a série, podem ficar perdidos com algumas personagens e eventos que ocorrem, porque o jogo nada faz para nos providenciar a informação necessária para um completo conhecimento e consequente impacto de algumas situações.
Ao longo desta geração temos assistido ao lançamento de jogos, que mesmo apesar de alguma inegável qualidade, não conseguem no entanto reunir o consenso entre os jogadores. Bionic Commando é um desses jogos e muito do proveito que tiram do jogo vai depender da vossa capacidade individual. Enquanto uns vão adorar, outros vão detestar mas seja qual for a categoria onde se vão inserir, a experiência terá sempre custos para o jogador. O mérito passa a ser completamente pessoal e a experiência flutuante consoante a capacidade individual. Um nicho deverá ter a habilidade para dominar e ser mais forte, ultrapassando os problemas do jogo, mas a maioria deverá simplesmente cair no sentimento mais forte aqui presente, a frustração. Algo que está intimamente ligado a problemas na jogabilidade e a escolhas de design.
Bionic Commando partilha vários elementos base com um outro jogo da Capcom, Lost Planet, onde por coincidência ou não também temos um gancho que pudemos usar, mas a diferença é que ao invés de um simples acessório, aqui é um elemento base e fulcral da experiência. Neste jogo de acção e aventura, tal como no original, Spencer vai progredir recorrendo a vários pontos no cenário onde pode agarrar o ganho do seu braço biónico para se poder movimentar e praticamente pode agarrar a qualquer ponto do cenário. Com o balanço necessário, com a direcção correcta e com o timing à medida, podemos ganhar a capacidade para progredir pelo nível sem nunca sequer tocar no chão. Mesmo que em grande parte do jogo possam caminhar pelo chão, em algumas secções o uso do braço biónico é a única forma para avançar e é precisamente aqui que os principais problemas de Bionic Commando se começam a registar, na sua jogabilidade mais básica.
Desprovida de fluidez necessária para uma experiência agradável e divertida a tempo inteiro, certas minuciosidades e certas restrições às quais temos que obedecer, fazem com que o jogo perca alguma da diversão para dar lugar a um nervosismo. Inconsistente e nem sempre com a melhor resposta, vamos passar por momentos de frustração ao longo da aventura quando tudo poderia ser tão simples quanto apontar o gancho e ser-mos puxados ou levados. Tal como referido, o timing e o balanço são essenciais em demasia e qualquer erro pode ter um preço elevado, demasiado elevado quando estamos a falar de uma forma de entretenimento que se quer divertida e não ela uma causadora de problemas. Vão precisar de algum hábito para aprender a navegar pelos cenários com o gancho e mesmo com um indicador no ecrã a indicar a altura ideal para largar o gancho e baloiçar, tudo permanece altamente restritivo e existem demasiadas regras a respeitar e a ter em conta quando tudo poderia ser fluído e intuitivo.