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Black Myth: Wukong review - ação chinesa implacável e empolgante

Uma espécie de Boss Rush soulslike que é um delicioso desafio.

Black Myth: Wukong não faz nada de particularmente novo, a sua jogabilidade é fortemente inspirada no trabalho da FromSoftware, e a sua qualidade técnica pode descer para níveis miseráveis, mas se conseguires ultrapassar isso, a competência e engenho artístico neste Soulslike chinês é irresistível.

Black Myth: Wukong trouxe para 2024 um pouco do perfume que Lies of P trouxe em 2023 e The First Berserker: Khazan pretende trazer em 2025, ação empolgante soulslike através da qual as produtoras coreanas e chinesas pretendem mostrar ao mundo que já sabem fazer mais do que copiar o trabalho da FromSoftware, já têm talento e criatividade para adicionar o seu toque pessoal que, em alguns casos, começa a roçar o majestoso.

Não há como negar que estamos numa nova era das cópias Soulslike, na qual os derivados dos esforços FromSoftware subiram para um novo patamar. Após os jogos Soulsborne inspirarem japonesas como Bandai Namco e Koei Tecmo a criar as suas cópias, temos agora as coreanas e chinesas a fazer o mesmo, mas com uma visão que é praticamente desconhecida do mundo. Black Myth: Wukong é o mais exemplo disso e sugere que o futuro terá coisas risonhas para os adeptos do género.

Tendo em conta que Black Myth: Wukong foi lançado em agosto, muito provavelmente já sabes o que te espera aqui, um derivado dos soulslike com um design altamente linear e que quase parece uma espécie de boss rush, com uma jogabilidade muito competente e frenética, capaz de te deixar eletrizado com os seus momentos mais épicos. A maior prova do talento aqui demonstrado é que mesmo com o desempenho e imagem tão inconsistentes que oscilam frequentemente, ao ponto de descer para níveis inaceitáveis, o melhor de Black Myth: Wukong brilha com mais força e conquista.

Um épico de ação chinesa baseado na sua mitologia

Baseado em “A Jornada ao Oeste”, Black Myth: Wukong é um olhar fortemente inspirado no folclore chinês dessa mítica jornada de um monge na China Antiga. Isto significa a presença de deuses, criaturas mitológicas e 6 capítulos que te levam todos eles para locais diferentes. No papel do Destinado, o macaco que finalmente conseguirá ressuscitar Sun Wukong após recuperar as seis relíquias, enfrentas todo o tipo de criaturas e monstros que se vão intrometer no seu caminho.

Desde o primeiro momento em que pressionas o botão para começar a jogar, desde a transição do menu para jogabilidade, Black Myth: Wukong revela um tom épico, com criaturas mitológicas gigantescas e um tom que nos remete para os grandes filmes de artes marciais produzidos na China. Quando o trabalho da Game Science corre sem defeitos gráficos ou quedas de desempenho, consegue tornar-se fascinante.

Existem imensas cutscenes que te deixam realmente interessado no que se está a passar, com bons momentos gráficos, personagens cativantes, e uma exploração do folclore chinês que fascina. Entre os melhores momentos estão a cenas no final de cada capítulo, curtas animadas com diversos estilos artísticos que são simplesmente fabulosas.

As cutscenes mostram personagens com um nível incrível de detalhe gráfico, mas muitas cenas épicas ficam manchadas por erros gráficos e até quedas no desempenho | Image credit: Game Science/Eurogamer Portugal

Os chineses mostram que já sabem copiar a FromSoftware, mas também já sabem ir além disso

À semelhança do que aconteceu em 2023 com Lies of P e em abril deste ano com Stellar Blade, também Black Myth: Wukong mostra como as produtoras asiáticas conseguem impressionar com as suas interpretações do popular design souslike da japonesa FromSoftware. No entanto, tal como nestes dois exemplos, há mais aqui do que um mero “copiar e colar”, há uma expressão de boas ideias que ramificam o género.

É inegável que a Game Science soube copiar a jogabilidade e os controlos de um jogo Soulslike, tal como a Neowiz fez com Lies of P, por exemplo, mas o seu cunho pessoal é o que realmente brilha. Seja na estética artística e sonora, no uso da mitologia chinesa e desta história em específico, a produtora chinesa apostou num ambiente de fantasia que lhe permite trazer uma magia própria para o gameplay.

Os movimentos, timings, gestão de risco e recompensa (basicamente saber quando atacar, quando esquivar e gerir o vigor) são os pilares de uma boa experiência soulslike de teor mais estratégico, algo que Black Myth: Wukong faz bem. A Game Science optou por não te punir quando perdes toda a vida e não te tira a XP tão preciosa, mas se perderes voltas a um checkpoint, existem imensas armadilhas e um festival de bosses. Em alguns capítulos surgem até de forma quase sucessiva. No entanto, há um uso dessa história chinesa para dar forma aos cenários, inimigos, habilidades, narrativa e é isto que lhe permite conquistar um tom tão próprio.

Sem uma mecânica de proteção, Black Myth: Wukong força-te a dominar a esquiva, a aprender a usar as diversas habilidades que podes melhorar e todas elas terão maior ou menor mérito de acordo com o boss, o que te força a testá-las para treinar e saber o melhor comportamento a adotar, até vencer. No entanto, permanece universal a exigência sobre os teus reflexos e a gestão dos timings de ataque e esquiva.

Especialmente porque a maioria dos bosses está dotada de um grande leque de habilidades, que variam de acordo com a fase da luta. Podes equipar itens em atalhos para te ajudar, mas serão os teus reflexos a ditar se segues em frente ou não. No que diz respeito à jogabilidade, a Game Science merece bons elogios para Black Myth: Wukong, que se torna num desafio irresistível para os sádicos que adoram sentir o pânico de enfrentar criaturas destas.

Apesar da qualidade gráfica descer para patamares miseráveis, com uma resolução incrível baixa que até pode fazer doer a cabeça, a boa qualidade dos artistas da Game Science ainda pode ser apreciada. | Image credit: Game Science/Eurogamer Portugal

Design linear surpreende com a quantidade de segredos

Para o seu primeiro grande esforço, a Game Science apostou num design linear e um local diferente para cada um dos capítulos. Na era dos jogos em mundo aberto, voltar a um design destes acaba por ser diferente, o que desperta mais interesse. Apesar da elevada linearidade e das incomodativas paredes invisíveis (tentas perceber se podes ir para alguns locais que parecem alcançáveis para descobrir que o Destinado é bloqueado e ainda são expostas partes do cenário graficamente pobres), existe uma quantidade surpreendente de segredos.

Os capítulos decorrem em zonas principalmente lineares, mas no meio destes “corredores” que te levam por florestas, desertos, montanhas com neve e mais, existem áreas mais abertas e algumas delas nem sequer vais entrar se não estiveres muito atento a pistas. Isto porque existe uma surpreendente quantidade de bosses secretos, outros especiais que apenas podes encontrar ao seguir pistas dadas por NPCs, e alguns deles apenas ficam acessíveis após terminares o capítulo.

É realmente surpreendente o trabalho feito pela Game Science aqui, que foi ao ponto de incluir áreas completas que muitos nem sequer vão ver se não cumprirem determinados passos numa missão opcional iniciada ao conversar com um NPC, como referido. Alguns dos bosses mais desafiantes são opcionais e alcançáveis dessa forma, algumas boas recompensas também são desbloqueadas apenas pelos mais atentos.

Miserável qualidade técnica

Poderá soar a exagero, mas Black Myth: Wukong é capaz de surpreender de forma extremamente positiva e também de forma intensamente negativa. Para um jogo que frequente exibe uma qualidade gráfica que te faz pensar no que se faz nas famosas “tech demos”, a qualidade de imagem (resolução e consequentemente a nitidez da imagem, aliasing, ruído visual, qualidade das texturas) pode descer para níveis inaceitáveis se o jogares numa PS5. No PC, com equipamento à altura, poderás contornar isto, nas se o vais jogar numa consola, não há volta a dar.

A inconsistência gráfica apenas se torna mais dramática porque os momentos bons são realmente muito bons, o que torna mais perceptíveis as quedas e reforça a intensidade da descida de qualidade. Pior é que isto não te garante um bom desempenho.

Black Myth: Wukong sofre com quedas frequentes que prejudicam o desfrutar da ação, ao ponto de sentir que muitas vezes as espetaculares boss fights perdiam valor pois já nem sabia se falhava porque falhei os timings ou o jogo me estava a prejudicar com tamanha inconsistência no desempenho. Ao longo do meu tempo em Black Myth: Wukong, fiquei mesmo desiludido com as quedas acentuadas no desempenho em simultâneo com quedas na qualidade de imagem, ao ponto de transformar boss fights numa questão de sorte.

Não precisas sequer procurar ângulos de câmara, o próprio jogo é incapaz de esconder as suas debilidades gráficas. | Image credit: Game Science/Eurogamer Portugal

Conclusão

Com Black Myth: Wukong, a Game Science entrega um jogo de ação empolgante, capaz de agarrar o jogador que não mais o largará até chegar ao fim desta jornada mitológica chinesa. Com controlos que conquistam o respeito do jogador, boas boss fights e locais interessantes de explorar, especialmente a quantidade surpreendente de segredos em cada zona, a jornada de Wukong peca e muito pela componente técnica, especialmente numa PS5. No entanto, prevalece o bom que a produtora chinesa fez e os momentos épicos que geram tanta descarga de dopamina.

Prós: Contras:
  • A implementação da mecânica dodge
  • Imensos segredos que permitem descobrir novas coisas em zonas por onde já passaste
  • Imensos bosses secretos
  • Imensos bosses desafiantes que despertam a vontade de melhorar
  • Banda sonora
  • Vários momentos espetaculares através dos quais a narrativa desenrola
  • Qualidade de imagem pode descer para níveis inaceitáveis
  • Desempenho pode tornar-se miserável, especialmente nas boss fights
  • Imensos erros gráficos que prejudicam a apresentação
  • Design linear não incomoda, mas muitas das paredes invisíveis sim

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