Bloodstained: Ritual of the Night - Análise - Triunfo Igavania
Castlevania em tudo, menos no nome.
Para quem cresceu com a série Castlevania, especialmente com os títulos 2D que tornaram as portáteis da Nintendo em plataformas imprescindíveis, Bloodstained: Ritual of the Night é um glorioso feito merecedor de todo o sucesso que possa alcançar. Apesar de não desfrutar do protagonismo alcançado por outras mentes criativas japonesas, Koji Igarashi fascinou o imaginário de milhões de jogadores com os jogos que produziu na série Castlevania da Konami.
Num momento de forte mudança nas filosofias dessa companhia Japonesa, Iga fez o mesmo que o mais mediático Hideo Kojima fez - saiu da Konami e formou o seu estúdio independente, após levar uma nega de várias editoras que não acreditavam no potencial de um novo Castlevania 2D/2.5D. Enquanto grande fã da série Castlevania que cresceu com os títulos de Iga, este Bloodstained: RotN é uma espécie de sonho tornado realidade e a forma como o criador japonês valida a todos os instantes o seu pedigree é sensacional.
Apesar do lançamento de Castlevania: Harmony of Despair em 2010 - uma experiência focada no multi-jogador, desde 2008 com Castlevania: Order of Ecclesia na Nintendo DS que não temos um novo jogo original 2D na série da Konami. Em sentido oposto, tivemos diversos metroidvania indie ao longo destes anos que mostraram o potencial deste género e mostravam os fãs a fazer o trabalho que os responsáveis pelas influências não queriam fazer. Foi preciso esperar mais de 10 anos, mas Bloodstained: RotN é um Castlevania em tudo menos no nome e mais uma gloriosa nova propriedade intelectual indie.
Bloodstained: RotN é tudo o que podes esperar de um Metroidvania, um jogo em side-scrolling no qual exploras diversos ambientes e te deparas com locais inacessíveis. Ao aceder a outros locais, encontrarás itens ou habilidades que te vão permitir finalmente alcançar novas salas em locais por onde já passaste. Pelo meio, terás de equipar melhores armas, habilidades e gear para derrotar o próximo boss. É a clássica experiência que Igarashi estabeleceu com Castlevania: Symphony of the Night e que é chamada de Igavania - uma forma de homenagear quem glorificou a fórmula.
Assim sendo, podes olhar para este Bloodstained: RotN como o regresso do pai da era moderna dos Metroidvania que aposta numa experiência altamente acessível, numa era em que alguns estúdios indie optam por jogos infernais e surreais.
Em Bloodstained: RotN não tens os vampiros e Drácula de Castlevania- Tens demónios e alquimistas, com Miriam como personagem principal. Numa Inglaterra alternativa, em pleno século 19, os alquimistas capturam poderes demoníacos em "Shards" que são injectados em humanos. Miriam é uma órfã com uma inigualável afinidade com estes shards, que inevitavelmente a vão transformar num demónio. Dez anos após Miriam e Gebel, outro Shardbinder, sofrerem cruelmente nas mãos dos alquimistas, a protagonista terá de entrar no castelo de Gebel para impedir que este destrua toda a humanidade e liberte de vez os demónios na Terra. Miriam contará com a ajuda do alquimista Johannes, do caçador de demónios chamado Zangetsu e Dominique, uma exorcista, para derrubar o plano de Gebel.
Na hora de fazer o que melhor sabe, a mente que elevou Castlevania para um novo estatuto de grandiosidade não tenta simplesmente repetir o que já fez no passado, revitaliza e actualiza a fórmula. Bloodstained: RotN mantém as bases Igavania, mas implementa novas mecânicas como o uso de shards para habilidades extra (Miriam pode mover alguns objectos, criar feixes de luz para se transportar para locais de outra forma inacessíveis, por exemplo), para invocar aliados que te acompanham a todo o tempo e para ataques especiais, que conferem uma camada extra ao gameplay.
Salas para gravar, salas para transporte imediato, demónios para derrotar e ganhar XP para subir de nível, bosses com rotinas para aprender e derrotar, uma trama demoníaca e trágica para desvendar, e o já referido design que te obriga a voltar a locais já percorridos para usar novos itens/habilidades é o que podes esperar deste jogo. Bloodstained: RotN mantém-se fiel à fórmula, mas as novidades aprofundam o Igavania e a possibilidade de melhorar gear certamente é interessante, mesmo que na dificuldade Normal não vá merecer a tua atenção. Mas se quiseres obter as armas lendárias, esta é a única forma de o conseguir
Bloodstained: RotN é um jogo que te fará recordar com encanto os clássicos Castlevania e sentir que o género continua incrivelmente apelativo em 2019. O estilo gótico e a necessidade de explorar bem os locais para descobrir segredos ainda é uma grande diversão. Além disso, terás de estar constantemente atento aos diálogos para obter pistas e em alguns momentos poderás ficar sem saber para onde ir e o jogo não te dá a mão.
Para quem cresceu com esses clássicos da Konami, Bloodstained: RotN não lhes fica a dever em nada, mas é um jogo que a todos os instantes te relembra que é um indie financiado com apoio de dinheiro público. A Artplay de Igarashi demorou perto de 4 anos a desenvolver o jogo e ainda existem problemas na performance, algumas animações precisam de refinamento e até a qualidade visual geral precisava de optimização, mesmo que muito tenha sido feito ao longo dos últimos meses. São pequenos pontos que terás de ter em conta num jogo que na sua grande maioria é um triunfo.
Quando terminei Bloodstained: RotN, o relógio marcava perto de 14 horas, o mapa perto de 98% e consegui uma percentagem de 48% nos Troféus. Ainda me faltam descobrir algumas salas secretas e derrotar dois bosses opcionais. Se não o quiser fazer, posso prolongar a experiência através do modo Boss Rush ou jogando com Zangetsu. Esta é uma longevidade muito saudável e equilibrada para um jogo do género e que te permitirá ficar com belas memórias sem sentir que a experiência se desgasta.
Apesar de não ter sido tão documentada quanto o caso de Hideo Kojima, a recta final de Koji Igarashi na Konami foi um momento igualmente amargo e penoso. Privado de desenvolver novos jogos na série Castlevania, Iga lutou para encontrar o seu lugar e contrariou todas as vozes negativas que duvidavam do sucesso destas experiências. Bloodstained: Ritual of the Night prova que o criador Japonês tinha razão e mais ainda, prova que existe sede por um Castlevania e que ele é o homem certo para saciar esse apetite. Lutou para dar vida ao seu projecto, manteve-se fiel a si mesmo e criou uma das histórias de maior sucesso no panorama do financiamento indie.
Prós: | Contras: |
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