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Broken Age: Act 1 - Análise

Física Quântica, Duh…

O trama de Shay não carrega tanta ambiguidade, mas é também ele representativo de uma luta por afirmação, pela tomada de controlo. Isto vai obrigá-lo a ir contra os padrões impostos pelos pais, ou melhor, pelo sistema da nave que simula as indicações paternais. Demonstra também o desligar da verdade absoluta que representa a palavra dos pais até à adolescência, pelo menos esta foi a forma que o interpretei.

Os puzzles não são complicados, e o facto de existir apenas um comando para todo o tipo de interação simplifica bastante todo o processo de progressão pelas aventuras de Shay e Vella. Claro que como em qualquer "point-and-click" que se preze, vão ter sempre daqueles momentos em que tentam combinações impensáveis de objetos em tudo que aparece. Felizmente, este primeiro acto de Broken Age está escrito de forma brilhante, e interpretado de modo mais brilhante ainda, e por isso é um prazer assistir a todas as interações, todos os diálogos das personagens.

Para esta qualidade muito contribuem as vozes dos actores participantes, a de Masasa Moyo como Vela, Elijah Wood como Shay, e ainda outras participações de nomes conhecidos como Wil Wheaton, Pendleton Ward, Alex Rigopulos ou o grande Jack Black, cuja identidade vou deixar em suspenso para tentarem reconhecer quando jogarem.

"Podemos trocar de personagem e história a qualquer altura, o que ameniza a frustração daqueles momentos em que ficamos encravados num determinado puzzle."

Os protagonistas lado a lado.

O humor é uma parte importante da escrita, mas está longe de ser central, a história assume mais contornos de drama, as duas personagens encontram-se numa situação indesejada, imposta pela ordem estabelecida, e é a partir daí que combatem para modificar a sua situação. Não temos muito aprofundar sobre as motivações dos protagonistas, os seus motivos parecem óbvios aos nossos olhos, a empatia gera-se com o tempo e à medida que vamos jogando. O humor é uma consequência natural do absurdo das condições. Broken Age é um produto muito superior àquilo que Tim Schafer tinha em mente, quando propôs 400 mil dólares para saber se a comunidade gamer estava mesmo interessada num novo jogo de aventura saído da sua mente. O valor que os apoiantes estiveram dispostos a investir tem o seu retorno espelhado no jogo que nos cai agora nas mãos, mas não deixa de ser apenas a primeira parte, não há como não encara-lo com um produto por terminar.

Foi um sentimento que carreguei ao longo de toda a aventura, tinha receio de acabar num "cliffhanger" daqueles que nos fazem sentir que acabamos de perder tempo, acabando sem respostas. Isso acabou por se confirmar em parte, ficaram muitas coisas por esclarecer no final, mas ao mesmo tempo, há uma sensação de resolução no final. Isto é muito importante, pensem na trilogia do Senhor dos Anéis, a resolução absoluta apenas acontece no último filme, mas todos eles têm algum tipo de conclusão que encerra parte do que carregávamos na mente, responde a algumas das perguntas e traz um sentimento de conquista ou superação.

Engraçado porque é difícil reconhecer Tim Schafer no jogo, já passaram muitos anos desde que o criador de Psychonauts nos trouxe um jogo de aventura, está mais maduro hoje, assim como estamos nós. Isto nota-se no cuidado que é dado a cada interação em Broken Age, mas mais importante ainda, nota-se nos temas em que o jogo toca, da forma como usa o humor, o óbvio ou o absurdo para tomar partido, pelos olhos de duas personagens desenhadas com o coração.

8 / 10

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