Brothers: A Tale of Two Sons - Análise
Diferente e emocionante.
Há jogos que valem pela gestão de recursos, outros pelo desafio, há aqueles que se demarcam pela possibilidade explorar mundos novos, e ainda os que oferecem uma experiência social ímpar, com a possibilidade de participar em algo maior do que nós próprios. Mais raros são os que nos desarmam pela história, mesmo os jogos de aventura clássicos onde a narrativa é muito importante, têm nos puzzles um elemento central, que nos impedem de progredir na história se não ferem ultrapassados.
Ora este Brothers: A Tale of Two Sons também tem puzzles e momentos de execução sempre de grande simplicidade, mas no geral é como uma viagem, poderia ter ido mais longe com as mecânicas é verdade, mas estas revelam uma enorme frescura, e estão aliadas a uma história muito humana, que torna a experiência memorável e algo que todos mereciam experimentar.
Até é estranho tratá-lo para análise, primeiro porque quanto menos revelar sobre ele melhor, e depois porque como disse, é muito ligeiro em termos de mecânicas. Começamos com dois irmãos órfãos de mãe, e um pai doente que precisa de algum tipo de medicamento de difícil acesso. Como filhos, somos capazes de ir até ao fim do mundo para salvar o velhote naquele momento, e é exatamente isso que vamos fazer, em equipa com os dois irmãos.
É verdade, Brothers: A Tale of Two Sons trata-se de uma aventura jogada a dois, de modo cooperativo, mas no lugar de dois jogadores, são os nossos dedos que trabalham em conjunto. Controlamos o mais velho e o mais novo, sendo que o controlo de um está dedicado ao analógico direito e outro ao esquerdo. Toda a interação está desenhada para funcionar com os dois protagonistas em conjunto, mas vão notar uma enorme diferença logo na navegação.
Aparte do movimento temos apenas um botão de ação para cada irmão, dedicado aos gatilhos do comando, o mais velho do lado esquerdo e o mais novo ao direito. Neste cenário a navegação já é suficientemente interessante, principalmente se os irmãos se encontrarem do lado oposto do analógico correspondente, mas esta não é a única forma de interação entre os dois.
Apesar de existir comunicação entre estes e as outras personagens, a linguagem está limitada a gestos, posturas, e pequenos sons impossíveis de decifrar. Isto obriga a que a história chegue ao jogador a partir do que ele próprio entende das ações dos outros e dele próprio, ao mesmo tempo que lhe dá total espaço para utilizar a sua imaginação. Os próprios nomes dos irmãos não são claros, embora os meus ouvidos os entendam como o Naí, e o Naái.
A estética animada é de longe um dos pontos fortes da aventura, aliás, o jogo faz questão de revelar grandes panos sempre que atingimos um ponto particular no cenário, o topo de uma colina, ou junto a um banco numa montanha. As texturas não são surpreendentes, mas isso não é o que importa neste caso, há sim um equilíbrio delicado na estética, que se vai desenvolvendo dos iniciais cenários naturais, para um tom mais negro para a frente na aventura.
À medida que vamos avançando o mundo vai ficando menos familiar, com mais elementos de fantasia e personagens com as quais vamos interagindo. Vão fazer alguns amigos durante a viagem, um ogre gigante com um ar deprimido e um cientista louco que gosta de jogar ao "pedra, papel, tesoura" são dois exemplos que me vêm à memória.
Quase toda a execução no jogo é centrada na coordenação que é necessária para movimentar os dois irmãos com os analógicos, seja para serrar uma árvore ou para mover plataformas de um lado para o outro, são muitas as vezes que precisamos fazer algo com um dos irmãos para ajudar o outro. Existem ligeiras diferenças entre eles, por exemplo, o mais novo é mais magro e mais baixinho, por isso é capaz de aceder a zonas que o irmão não consegue. Por sua vez o mais velho é mais pesado e forte, e ao contrário do miúdo, sabe nadar.
O jogo na PlayStation 3 por algum motivo não me permitiu ver ao certo quantas horas de jogo levou a "playtrough" inteira, mas em duas sessões de jogo vão percorrer todo o caminho necessário para tentar salvar o progenitor. Ainda é longe se querem saber, mas o ritmo é constante, sendo que quase não há espaço para erro, só se largarem o gatilho do comando por acidente numa das muitas sessões de trapezismo.
“…experiência memorável e algo que todos mereciam experimentar.”
Assim de memória, durante a aventura o jogo dá-nos dois "estalos", isto dependerá de pessoa para pessoa, mas fiquei legitimamente surpreendido com os acontecimentos por duas vezes. É emocional por várias vezes, e aqui penso que o facto de não existirem vozes ainda o torna melhor. Também tem os seus momentos de humor, não estivéssemos nós no fundo a controlar duas crianças, mas não força a relação entre ambos, isso surge naturalmente.
Claro que a limitação do projeto corresponde à simplicidade das mecânicas, torna-se rapidamente repetitivo, mas é daqueles casos em que o ritmo e as resoluções valem bem o tempo que lhe dedicamos. Tem alguns bons momentos de jogabilidade ainda assim, quando controlamos uma asa delta com o nosso peso, um barco por rios gelados, ou baloiçamos por plataformas utilizando uma corda com as extremidades presas a cada um dos irmãos. Poderia ter ido um pouco mais longe nos puzzles, mas como a interação é diferente a tudo que tinha jogado, estes acabaram por ser divertidos por mais simples que fossem.
O storytelling interactivo tem evoluído imenso nos videojogos, talvez uma das vertentes que mais tem avançado. Ainda há pouco tempo tivemos o The Walking Dead da Telltale, este ano o Bioshock Infinite e o The Last of Us, e agora este Brothers: A Tale of Two Sons que vem mostrar que nem sequer são necessários orçamentos gigantescos para emocionar os jogadores e dizer algo sobre a condição humana utilizando um media interactivo. Como comecei por dizer, aconselho qualquer pessoa a jogá-lo, talvez vos ajude a olhar para dentro e a perceber até onde iriam por aqueles que amam, ou que até já perderam.