Call of Duty: Black Ops 6 review - continua a tratar das feridas
Diversão está proibida no multijogador.
Call of Duty: Black Ops 6 chegou e, depois de analisar a campanha para um jogador, que ficou aquém do desejado, é altura de explorar outras duas partes fundamentais do jogo: Multijogador e Zombies. Estes modos completam o pacote deste ano, mantendo a tradição da série de oferecer múltiplas experiências. Ainda que em algumas edições anteriores o modo Zombies tenha ficado na gaveta, desta vez regressa para reforçar a proposta do conteúdo de Black Ops 6.
Não há como negar que Call of Duty segue uma fórmula já bastante estabelecida, com duas décadas de lançamentos anuais que mantêm a filosofia do jogo praticamente intacta. Cada vez mais estúdios estão envolvidos na produção, com o desafio de entregar um produto que, pelo menos superficialmente, parece novo a cada ano. Embora seja possível notar uma evolução significativa quando se comparam edições mais distantes, num período mais curto essa mudança torna-se menos percetível, e a estratégia continua a ser a de pequenas alterações, formatadas pelo estúdio responsável por cada lançamento.
Treyarch e a direção em Black Ops 6
Este ano, é a vez da Treyarch liderar a produção, um estúdio que muitos consideram ser o melhor da série Call of Duty, possivelmente pela influência do sucesso dos primeiros dois títulos da série Black Ops. Com o lançamento do sexto capítulo, o impacto desta longevidade é já visível, dando sinais de desgaste e de uma possível desconexão com as expectativas dos jogadores. No entanto, esta postura pode não ser acidental, reflexo de uma priorização de objetivos que vão para além da experiência do jogador, privilegiando objetivos económicos.
A temática gira em redor dos anos 90, e todo o conteúdo reflete este cenário. Desde o arsenal aos mapas e operadores, tudo é inspirado nessa época. No entanto, este aspeto tornou-se um ponto secundário, pois é aceite como parte da experiência e cada jogador reage de forma diferente consoante o seu interesse pelo tema escolhido - seja ele futurista, histórico ou contemporâneo. No final, todo o jogo é construído sobre esta base narrativa.
Experiência multijogador e personalização
Para o modo Multijogador, esta nova versão inclui as habituais alterações visuais na interface e várias opções de configuração, quer seja para personalizar as armas, os operadores ou o estilo de jogo da cada um. Estas alterações seguem geralmente uma linha de ajustes regulares, com algumas escolhas na direção certa e outras que representam retrocessos. No final, o essencial é que a experiência seja satisfatória, dando uma sensação positiva no final de cada sessão e certificando-se de que o tempo investido é realmente bem empregue.
No que respeita à personalização, mais concretamente ao que influencia realmente a jogabilidade, temos os tradicionais Loadouts, que são basicamente os mesmos, mas com ajustes para que pareçam diferentes dos jogos anteriores. Como principal caraterística, destacam-se os Perks, agora organizados em categorias com cores diferentes. É uma forma de motivar a experimentação e criar formas de misturar um pouco as coisas, e faz com que o jogador pense no que deve escolher e no que pode dispensar, sempre com o objetivo de adaptar cada elemento à sua forma de jogar.
Essencialmente, Black Ops 6 é um jogo bem construído: é sólido, oferece uma excelente jogabilidade, armas que são gratificantes de utilizar e movimentos fluidos pelo mapa. A sensação é que foi concebido com a intenção de ser uma boa proposta para este ano. No entanto, todas estas qualidades acabam por ser comprometidas por um sistema que alterna entre a satisfação temporária e a penalização de bons desempenhos. É aqui que entram o conhecido SBMM (Skill-Based Matchmaking) e o recentemente destacado EOMM (Engagement Optimised Matchmaking), os quais condicionam a experiência e limitam potencialmente o prazer de jogar.
Matchmaking e frustração do jogador
Os modos de jogo são os habituais, com os mapas desta edição a serem dos mais fracos que a série Call of Duty alguma vez apresentou nos últimos anos. Mapas como Lowtown, por exemplo, parecem ter sido desenhados ao acaso, dando a impressão de que uma IA montou tudo ao acaso, resultando num layout confuso e pouco inspirado. É natural que seja necessário tempo para nos adaptarmos, mas mesmo após várias horas de jogo, nenhum dos novos mapas se destacou. Claro que as preferências variam e, se os mapas funcionam para alguns, não há razão para os questionar. Ainda assim, a experiência acaba por ser comprometida pelo sistema de matchmaking que a Activision utiliza, o SBMM e o EOMM.
Atualmente, a realidade dos jogos online, e não apenas em Call of Duty, é marcada pela influência de sistemas que monitorizam constantemente as estatísticas de cada jogador. Embora a diversão possa estar lá e o jogo tenha uma boa base - como é o caso de Black Ops 6, que traz uma experiência multijogador sólida - essa diversão é muitas vezes adulterada. O sistema só permite que o jogador realmente aproveite a experiência depois de passar por uma sequência de partidas menos favoráveis, o que acaba por tornar raros os momentos de verdadeiro entretenimento.
É a realidade, e eu pude constatar isso tanto em Modern Warfare 3 como agora em Black Ops 6. Fiz o teste, mesmo sabendo que ia exigir muitas horas de paciência, para ver como o algoritmo da minha conta iria mudar as partidas. Durante várias rondas seguidas, morria sistematicamente, até que, a partir de um certo ponto, o jogo mudou, passando a dar partidas visivelmente mais fáceis - contra jogadores que muitas vezes nem reconheciam quem era o inimigo. Estes testes levam à conclusão de que, ao jogar qualquer título Call of Duty moderno, a experiência de satisfação é limitada. Na maior parte das vezes, o jogador sente que está constantemente em jogos intensos, como se cada ronda fosse a final de um campeonato do mundo, o que muitas vezes leva à frustração e ao cansaço em vez de diversão.
Talvez seja apenas a minha impressão e talvez muitos estejam a gostar mesmo destes novos jogos Call of Duty. No entanto, a perceção não parece ser essa, porque sempre que ligo o chat de voz do jogo, a maioria dos jogadores com microfone passa o tempo a insultar, a gritar e a mostrar frustração. Algo parece estar fora de sintonia com o jogo, que já não parece gerar satisfação ou proporcionar o entretenimento, que deveria ser o seu principal objetivo.
Omni-movimento e maior dinâmica
Mas nem tudo é mau, é importante reconhecer a introdução de um movimento mais dinâmico, o chamado omni-movimento, que melhora essencialmente a agilidade dos operadores, permitindo movimentos rápidos, como saltos deslizantes e rotações em várias direções ao mesmo tempo que se dispara. Estes movimentos são de facto interessantes, mas também acabam por parecer um pouco caricatos e até cómicos quando observados noutros jogadores, uma vez que os movimentos não muito são naturais e são ligeiramente forçados para se adaptarem à mecânica.
O multijogador de Call of Duty: Black Ops 6 já não é o que era há muitos anos, e a esperança de que haja alterações relevantes parece ter-se dissipado. Enquanto o jogo continua a ser um sucesso de vendas e de engajamento, as produtoras não têm qualquer incentivo para alterar a fórmula, o que exige que os jogadores aceitem o estado atual e sigam em frente, quer gostem ou não, deixando para trás queixas de longa data. Ainda que a base seja sólida, o sistema de manipulação continua a ser um problema sério.
Zombies
A última peça que temos são os Zombies, que regressam este ano com uma fórmula mais clássica de mapas. Em Black Ops 6, temos os mapas Terminus e Liberty Falls, que trazem a sua própria história, mas com o mesmo objetivo: sobreviver em fases com dificuldade crescente. Apesar de nunca ter sido um grande fã dos Zombies, existe uma comunidade entusiasta que se dedica a explorar cada segredo, a bater recordes e a desafiar os seus próprios limites de sobrevivência.
Os Zombies de Black Ops 6 mantêm o seu apelo nostálgico e as suas raízes, especialmente com a dinâmica simples de sobreviver a vagas cada vez mais desafiantes. Nesta versão, enfrentamos hordas em dois mapas diferentes, com uma história que é desbloqueada ao jogar com personagens específicas. Algumas novas funcionalidades, como a possibilidade de evacuar a qualquer momento “exfil” e a opção de guardar e sair do jogo para continuar mais tarde, um esforço para tornar o modo mais flexível e acessível.
Por outro lado, os Zombies trazem desta vez um sistema de progressão mais complexo, com o regresso de personalizações já conhecidas, mas que as combina com várias formas de habilidades, bónus e consumíveis como os tradicionais Gobblegums, bem como novas funcionalidades que se acumulam de forma quase avassaladora. Este sistema inclui habilidades que podem ser investigadas, bónus ativos e passivos e uma grande variedade de equipamentos e upgrades que vão desde as máquinas Perk-A-Cola até upgrades de armas com os seus próprios níveis, como o tão emblemático Pack-A-Punch. Embora estes elementos criem uma sensação de generosidade, o excesso de mecânicas e opções transforma o modo numa experiência densa e por vezes demasiado confusa, o que pode afastar os jogadores que procuram algo mais simples, mas por outro lado poderá agradar aos veteranos destas andanças.
Para muitos, a atração dos Zombies sempre foi o seu aspeto mais descontraído, uma pausa do intenso modo multijogador, onde o objetivo é apenas sobreviver o máximo de tempo possível com os amigos. No entanto, com a introdução de várias formas de progressão e personalização, o modo torna-se um tanto confuso, tornando-o de difícil acesso para novatos e requer um bom conhecimento das mecânicas para ser desfrutado. A complexidade excessiva parece contradizer a essência relaxante do modo, ao criar uma barreira que só os jogadores mais experientes ou aqueles que contam com o apoio de guias online conseguem realmente ultrapassar.
Campanha single-player
A campanha single-player deste ano, que foi analisada separadamente para uma melhor apreciação, carece de um verdadeiro impacto. Apesar de alguns progressos, continua presa a elementos reciclados do passado. Há momentos que se destacam, mas a excessiva diversidade de missões acaba por criar uma atmosfera de saturação e falta de rumo. Ainda assim, há aspetos bem executados, como o toque especial nas missões ao estilo de James Bond e uma base de operações que convida a explorar a narrativa e as suas personagens principais em maior profundidade.
As lacunas persistentes dos anos anteriores continuam, no entanto, a ser um problema, como a péssima inteligência artificial, as escolhas narrativas desconcertantes, especialmente no final, e a reciclagem de ideias que já se tornaram gastas com o tempo. Reconheço que é difícil inovar com lançamentos anuais, mas com tantos estúdios envolvidos e recursos quase ilimitados, espera-se mais e melhor do que uma entrega que, no final, é meramente aceitável.
Visualmente, Black Ops 6 cumpre o que é esperado, mas sem surpreender. Atinge o seu objetivo, mas não vai muito além disso; em comparação com as edições anteriores, a qualidade gráfica parece mesmo inferior, o que é algo inesperado. Aliás, um ponto a ser destacado é a visibilidade dos inimigos, que este ano está ainda pior - em muitos momentos só conseguimos avistá-los graças aos nomes vermelhos acima de suas cabeças, o que dificulta a identificação dos mesmos. O som é outro ponto positivo a realçar; os sons das armas e do ambiente destacam-se imenso, permitindo uma sensação de alta qualidade, como é tradição na série. Está bem trabalhado e ajuda a criar uma atmosfera de envolvência.
Conclusão
No final do dia, Call of Duty: Black Ops 6 é mais um título a juntar-se à extensa lista da série, que consegue ganhar algum fôlego face ao lançamento atribulado do ano passado. Apesar dos progressos, continua a ter muitos problemas no seu modo multijogador, uma campanha que, apesar de tentar renovar, carece de inspiração, e um modo Zombies que, embora divertido, rapidamente se torna excessivamente repetitivo. Só nos resta esperar pelo próximo capítulo no próximo ano.
Prós: | Contras: |
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