Call of Duty: Black Ops Cold War review - Diversão familiar
Treyarch entrega um pacote completo e variado.
Jogar um novo Call of Duty todos os anos é um pouco como brincar ao "encontra as diferenças". A fundação é sempre a mesma, com diferenças aqui e ali para justificar um novo subtítulo ou número e o preço de jogo completo. É a maldição de todos os jogos anuais e Black Ops Cold War não consegue escapar a uma sensação de muita familiaridade. Se jogaste qualquer Call of Duty nos últimos anos, Black Ops Cold War reserva poucas surpresas. Como se costuma dizer em inglês "if it ain't broke, don't fix it", e a Activision aplica essa mesma lógica. Os milhões de fãs que todos os anos compram o novo Call of Duty fazem-no precisamente por essa sensação de familiaridade. Querem algo novo, mas familiar, e a verdade é que no que toca a jogos de tiros na primeira pessoa, não existe nada tão oleado como Call of Duty.
Para além dessa sensação de familiar - que para uns é maldição, mas que para outros é bênção - Call of Duty: Black Ops Cold War é, francamente, um pacote completo (tão completo que é um pesadelo para quem tem problemas de armazenamento). A experiência divide-se em quatro modos distintos. A jogabilidade é transversal, mas cada modo opera com as suas próprias regras. Existe o modo campanha, o modo multiplayer, o modo zombies, e ainda o Warzone (este último é um modo completamente à parte que, apesar de aparecer integrado no menu, requer uma instalação em separado). É um jogo multifacetado que simultaneamente está a tentar agradar a uma grande variedade de públicos. Não é uma missão fácil e, no meio disto tudo, é cada vez mais difícil definir o que é Call of Duty.
Uma campanha surpreendente
A qualidade das campanhas de Call of Duty tem sido irregular ao longo dos anos. Por essa razão, Black Ops 4 nem sequer campanha teve, sendo substituída pelo modo Blackout (a primeira tentativa de introduzir um modo Battle Royale em Call of Duty). Com Black Ops Cold War, a Treyarch voltou a apostar numa campanha e, francamente, ficamos surpreendidos. A realidade é que também não estávamos à espera de muito e se calhar é por isso que o efeito surpresa foi maior. Cronologicamente, Cold War é um regresso ao passado, acontecendo depois do primeiro Black Ops e antes dos capítulos seguintes. Como já deves ter adivinhado pelo título, decorre durante a Guerra Fria, um período de elevada tensão entre os Estados Unidos da América.
A história abre com uma reunião com o presidente Reagan, ordenando que um grupo de agentes secretos liderado por Russell Adler encontre e elimine Perseus, o nome de código de um terrorista soviético que ameaça os Estados Unidos. Pela primeira vez num Call of Duty, podes criar a tua própria personagem, determinando a sua cor de pele e género (masculino, feminino ou não-binário). A tua personagem tem o nome de código "Bell" e pouca expressão tem ao longo da campanha. Todavia, na recta final, existe oportunidade para fazer escolhas que determinam a última missão na qual participas. A história tem uma reviravolta tremenda, completamente inesperada.
"Existe oportunidade para fazer escolhas que determinam a última missão na qual participas"
Outra surpresa desta campanha é que existem missões secundárias que necessitas de desbloquear ao encontrar evidências nas missões principais. Há inclusive pequenos puzzles para resolver em que as pistas estão nas provas que encontraste. Nada nisto é particularmente inovador, mas é inédito em Call of Duty. A campanha é sólida e com uma longevidade razoável se optares por completar as missões opcionais. As missões, que te levam a vários locais como Berlim, Vietname, e Rússia, são típicas da série, misturando muita acção com ocasional stealth. Há, contudo, uma missão que contrasta com esta fórmula, que decorre na sede do KGB. Nesta missão tens várias formas de completar o objectivo, a escolha é tua. Uma abordagem inesperada, mas bem-vinda, para um jogo que no resto é completamente linear.
Multiplayer - O habitual subir de rank e o nível das armas
Se por um lado a campanha surpreendente, por outro o multiplayer é exactamente o que esperávamos. Há pequenas afinações e diferenças, mas no geral a experiência é muito parecida com jogos anteriores. A estrutura de progressão é idêntica: em cada partida ganhas XP para subir o teu Rank, o que desbloqueia o acesso a novas armas e perks. As armas têm uma progressão separada, em que precisas de subir o nível de cada uma para desbloquear as muitas partes que alteram as estatísticas e comportamento. É um grind familiar para qualquer um que tenha jogado Call of Duty no passado. Dito isto, tudo está um pouco mais rápido, o que ajuda a manter a adrenalina sempre em alta. Pessoalmente, prefiro sempre jogos mais rápidos que beneficiem boa pontaria, reflexos e com um time-to-kill rápido.
Com uma grande lista de modos disponíveis - desde o clássico Team Deathmatch ao estratégico VIP Escort - o multiplayer de Black Ops Cold War é uma diversão familiar que facilmente nos mantém entretidos durante horas a fio. A Treyarch é um dos estúdios mais experientes a trabalhar na saga Call of Duty e isso nota-se bem no design dos mapas. Todos os mapas estão adaptados para vários estilos de jogo, tanto que é que na mesma partida encontramos jogadores adversários com Snipers, SMGs e Caçadeiras. Isto também mostra que vários tipos de armas são viáveis. Apesar disto, um grande debate que ainda decorre na comunidade gira em torno do SBMM (Skill Based Matchmaking).
"Uma diversão familiar que facilmente nos mantém entretidos durante horas a fio"
O Skill Based Matchmaking tenta encontrar jogadores de habilidade semelhante para as partidas. Para quem joga especialmente bem, isto significa que todas as partidas são como a final da Liga dos Campeões - os outros jogadores também são muito bons e tens que estar nas tuas melhores condições. Por outras palavras, torna-se difícil jogar de forma relaxada. Uma perspectiva diferente é que este sistema ajuda a proteger os jogadores menos habilidosos, que de outra forma poderiam ser "atropelados" por jogadores ávidos nas partidas (isto se o matchmaking fosse aleatório como em jogos anteriores). Ultimamente, nenhum sistema de matchmaking é perfeito e agrada a todos os públicos.
Modo Zombies - Um mapa, mas muita diversão
Comparativamente a iterações anteriores do modo Zombies, a versão de Black Ops Cold War é muito mais directa. Os objectivos para progredir no mapa estão sinalizados - em vez de estarem escondidos - e consegues perceber facilmente o que tens de fazer a seguir. O Die Maschine é o único mapa existente e trata-se de uma versão expandida do primeiro mapa de zombies (o modo estreou-se em World At War). Mais mapas virão no futuro, e apesar de ser o único, o Die Maschine é um mapa excelente. Fora isto, podes escolher se queres jogar no Modo Endless (sem fim) ou se queres uma partida de 20 rondas. Existe ainda uma nova mecânica chamada Exfill (apenas no Modo Endless), em que podes chamar um helicóptero de resgate a partir da décima ronda. Se o fizeres, a ronda de resgate torna-se muito difícil, com imensos inimigos a apacerem no mapa. Se morreres, não tens direito a bónus.
Black Ops Cold War é um pacote altamente polido, que demostra a experiência da Treyarch na série e no género dos FPS. É um jogo de tiros sólido em todas as suas vertentes e com capacidade para contentar um público muito amplo. O modo campanha é uma lufada de ar fresco comparativamente a jogos anteriores, o multiplayer continua a ser um vício, e o modo zombies atingiu aquela que é possivelmente a sua melhor versão (apesar de só ter um mapa disponível por enquanto). É como uma francesinha, estás farto de comer, mas eventualmente queres sempre repetir. Acho que nada resume melhor a experiência de Call of Duty.
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