Call of Duty: Black Ops Declassified - Análise
Tudo o que é COD sem a espetacularidade.
Call of Duty é uma das mais aclamadas séries da atualidade e não há dúvida que tudo o que tenha o seu nome gera interesse e provavelmente vai gerar dinheiro. Assim sendo não é de estranhar que a Sony tenha feito tanta força perante a Activision para que esta consagrada série chegasse à sua PlayStation Vita. É um nome mais do que sonante que chega a um formato portátil que pode em perspetiva oferecer tudo o que uma consola caseira oferece. No entanto, do fazer ao conseguir vai uma grande distância e apesar do empenho da Sony na sua própria máquina a Activision simplesmente não parece ter partilhado do mesmo interesse.
A prova disso é este Call of Duty: Black Ops Declassified que chegou recentemente à Vita e que é tudo o que os consumidores têm apregoado contra a filosofia da Sony perante as suas portáteis: o querer à força transportar para formatos portáteis produtos caseiros consagrados apenas pelo nome e sem pensar em como melhor seria caso fossem moldados para aqui melhor funcionar. BOD é um produto vindo de um estúdio que já trabalhou na Vita e num outro FPS, Resistance: Burning Skies é o outro trabalho do Nihilistic Software na portátil, e isto torna tudo ainda mais confuso pois perante uma série como COD e conhecimento prévio de como a máquina funciona, os erros gritantes e a experiência frustrante que é este jogo apenas pode ter nascido de uma completa falta de interesse e empenho.
BOD começa desde logo por desapontar na forma como transporta a espetacular campanha da série Call of Duty para o formato portátil. Ao invés de termos uma história repleta de momentos cinematográficos, recheada com as aclamadas set-pieces que espantam, envolta em intensidade e drama militar, o que temos é um conjunto de dez missões separadas e cuja história não tem qualquer esplendor. Este modo principal, de seu nome Operações, coloca o jogador em missões que duram entre meros três a cinco minutos e cujo design é do mais básico que podem esperar.
Não contem com momentos de brilhantismos e emoção, contem com caminhadas em frente sempre a disparar sobre os inimigos, a correr contra o tempo e sem quaisquer checkpoints. Podem pensar que não faziam sentido tendo em conta a extrema curta duração das missões mas quando vamos a meio e perdemos sendo forçados a começar do novo, a piada e a vontade perde-se quando estamos constantemente a jogar os "mesmos dois minutos" do nível. A ideia por detrás deste esquema é, supostamente, favorecer o formato portátil com missões curtas e com um incentivo à repetiçao para melhorar prestação e obter melhor pontuação. Não convence e o que temos perante nós é um produto que não cativa, pelo contrário, vai-se tornar frustrante.
Especialmente quando combinado com uma inteligência artificial que parece não querer nada com o jogador. Nem o quer enfrentar, desafiar ou sequer entreter. Apenas o quer chatear, parece. Desde inimigos que simplesmente não disparam para nós, inimigos que nos viram as costas, o comportamento padrão dos inimigos é de deixar a rir pois não convence, na maioria disparam de posições ou locais que os deixam completamente expostos. Isto combinado com o design básico e com níveis para esquecer, faz com que toda a experiência seja pouco cativante mas existe algo que ainda piora tudo, apesar de ser um dos pontos mais aclamados da série.
A jogabilidade "aponta e dispara" que tornou Call of Duty na série que é hoje é um dos pontos que mais me fascina nos jogos, aquela mecânica de carregar no botão para usar a mira e automaticamente o jogo nos aproxima do alvo faz com que tudo seja dinâmico, feroz e rápido. Muitos acreditam que é um facilitismo mas a verdade é que a dificuldade sempre foi contornada de outras formas e esta mecânica tornou a jogabilidade num par perfeito para o ambiente cinematográfico. Ora se temos aqui uma ausência desse ritmo e dessas sequências pré-definidas de espetacularidade com inimigos que simplesmente ficam ali a disparar, pressionar um botão para a mira se aproximar automaticamente do alvo e disparar faz com que a experiência perca prestígio, envolvimento e prazer.
Se o pretendido era tornar tudo dinâmico com a corrida contra o tempo e a procura de melhor prestação, o que temos aqui é uma experiência que se sente em tudo inferior ao que conhecemos e que se sente simples e sem qualquer desafio. Sentimos que só quando os comandos nos traem ou quando enveredamos por uma postura disparatada é que somos penalizados, caso contrário, somos máquinas de guerra sem esforço. Para piorar o pacote temos ainda um aparato visual que em nada surpreende. Se Burning Skies ainda deixava algumas imagens na memoria, não parece ter sido feito esforço para levar o grafismo mais além neste novo jogo e o Nihilistic apresenta visuais ricos em aliasing e cujas texturas são fracas. O design visual de níveis é fraco e certamente que muitos imaginariam níveis mais dinâmicos e envolventes.
Caso queiram algo mais, já que a campanha passa a correr, no verdadeiro sentido da palavra, temos os Time Trials, que são nada mais do que desafios nos quais temos que no melhor tempo possível derrotar todos os alvos em cartão. Aquelas sequências iniciais que servem como tutoriais nos jogos da série mas aqui elevado a modo de jogo para tentar artificialmente dar conteúdo ao pacote. O modo Hostiles tenta seguir um padrão estabelecido na indústria e coloca o jogador face a vagas sucessivas de inimigos enquanto tenta sobreviver e obter a melhor pontuação.
É bom que o jogo tenha este tipo de conteúdos e de modos pois são eles que tornam irrelevante a estrutura do modo principal, que não assume os contornos tradicionais da campanha Call of Duty. Essa estrutura deveria ter sido deixada para modos como o Time Trials e este Hostiles, que deveriam fornecer uma alternativa ao modo principal mais ao encontro do formato portátil. Experiências que podiam ser jogadas em qualquer lado, durante qualquer espaço de tempo disponível. Tendo em conta o esquema geral das coisas, não é este modo que salva BOD mas é um complemento bem-vindo.
Call of Duty há muito que "vive" do seu multijogador e Declassified não se esquece disso. Via WiFi vamos poder combater em seis mapas diferentes e ter um pouco daquele que tornou esta série numa referência e num padrão a emular: classes, armas e habilidades personalizáveis, níveis para subir e prestigiar, killstreaks e tudo o mais que podem contar num Call of Duty. O problema aqui é encontrar prazer em fazer isto nesta entrega e até encontrar jogadores que o queiram aturar. Se são fãs de Call of Duty e isso levou-vos a comprar o jogo então o mais provável é que tenham os produtos caseiros e não queiram sequer continuar com isto nas mãos.
Se Uncharted: Golden Abyss foi um exemplo de como transportar para as portáteis uma consagrada série caseira, Call of Duty: Black Ops Declassified é o perfeito exemplo de como um produto caseiro de excelência não deve ser transportado para uma portátil. Especialmente quando é entregue a mãos alheias à filosofia central da série e cujo esforço para as tentar compreender nem parece ter existido.
Call of Duty: Black Ops Declassified é um jogo frustrante, sem inspiração e que apenas mancha o nome da série que mais jogos vende nesta indústria atualmente. Parece um trabalho envolto em grande preguiça, sem qualquer empenho e sem qualquer prestígio para o estúdio e para a série. Os jogadores quase que se podem sentir insultados por o nome da sua série favorita ser usado no que parece ser uma armadilha para amealhar dinheiro fácil. Este é daqueles jogos que simplesmente deve ser evitado a qualquer custo e não pensem que é exagero, com uma estrutura tão rica e com bases tão sólidas, errar seria o mais difícil: conseguiram-no.