Modern Warfare 3 é o reflexo da falta de ideias. Análise completa!
Um pontapé nos dentes.
Call of Duty: Modern Warfare 3 foi lançado num contexto controverso, essencialmente devido à especulação inicial de que se tratava de uma adição de conteúdo a Modern Warfare 2. No entanto, a realidade veio mostrar que as aparências enganam, ao revelar-se como um jogo completo que mais uma vez apela à saudade de outras épocas. Este capítulo da série capta elementos do passado e recria-os para apelar a novos públicos, ao mesmo tempo que dirige um olhar nostálgico aos veteranos de longa data da franquia.
Esta é a forma como Modern Warfare 3 chega, sem surpresa no final do ano e mesmo a tempo da quadra natalícia. Mas a sensação é que algo de estranho se passou, mesmo que as novidades já sejam escassas devido a tantos lançamentos anuais, este é ainda mais preocupante, já que a primeira impressão é que estamos perante uma versão do jogo do ano passado, com apenas alguns retoques cosméticos na interface e pouco mais.
A campanha de Modern Warfare 3 já foi objeto de análise, e este artigo serve como conclusão da minha análise global. É centrada principalmente no modo multijogador e no tão esperado regresso dos zombies.
Um clone de Modern Warfare 2
A inevitável comparação entre o multijogador de Modern Warfare 3 e o seu antecessor, MW2, revela um grau de semelhança que pode surpreender os menos atentos. À primeira vista, a diferença entre os dois títulos parece quase inexistente, distinguível apenas por algumas mudanças ocasionais na interface. As alterações aos menus são quase como um "jogo de aparências", uma tentativa subtil de o apresentar como uma nova experiência. Em contrapartida, a progressão e o desbloqueio de upgrades têm agora uma estrutura, que afeta diretamente tudo o que se faz e pode ser demasiado desgastante para quem procura uma experiência mais casual.
É normal que todos os anos sejam introduzidas alterações nas mecânicas do jogo, desde mudanças nos killstreaks/scorestreaks até à forma como se desbloqueiam os attachments das armas. No entanto, a Sledgehammer decidiu tornar as coisas ainda mais exigentes este ano. Anteriormente, bastava jogar e subir de nível, tanto no geral como nas armas, para desbloquear o conteúdo. Agora, acrescentaram mais um obstáculo aos jogadores: a maior parte do conteúdo tem de ser desbloqueado através de desafios diários específicos. Isto acrescenta uma camada extra de dificuldade, o que torna a tarefa de obter o conteúdo muito mais árdua e até penosa.
Péssimo novo sistema de progressão
A única justificação que consigo encontrar para este método moroso de desbloquear conteúdo é a estratégia que visa reter os jogadores em Modern Warfare 3 o mais tempo possível. Imagina que tens uma arma de que gostas ou que queres experimentar - agora não basta subir de nível para a teres à tua disposição. Algumas armas estão bloqueadas até completares um número específico de desafios. Mas não se fica por aqui; dentro destas armas, há mais desafios para muitos dos teus attachments. Esta complexidade de tarefas extra é intimidante, exigente e consome uma quantidade considerável de tempo. É uma reformulação substancial da forma como o conteúdo é desbloqueado, algo que pode encorajar aqueles que jogam Call of Duty durante todo o ano e praticamente sem parar. No entanto, para os jogadores mais casuais, isto torna-se um obstáculo quase intransponível.
Estas alterações à jogabilidade são intencionais, longe de serem acidentais. Trata-se duma estratégia adotada pelo estúdio no sentido de manter os jogadores agarrados, ainda que de uma forma pouco lúdica. Eu, que jogo Call of Duty desde o primeiro título, lançado em 2003, tenho vindo a notar ao longo do tempo estas manipulações e estratégias, que visam a manutenção do jogador envolvido, levando-o a tomar decisões que muitas vezes não são para seu próprio benefício. É uma forma de orientar e moldar a experiência do jogador de acordo com os interesses do criador, por vezes retirando-lhe o prazer genuíno da experiência.
Mas há mudanças substanciais? Nem por isso, existem subtis alterações e alguns regressos, especialmente em termos de jogabilidade e de movimentação pelo mapa. Agora somos mais ágeis do que em MW2, o que nos dá mais dinamismo e intensidade. Este reajuste da velocidade de deslocação dá um toque excitante à experiência, embora o ritmo de MW2 não fosse de modo algum problemático, o problema estava no som dos nossos passos. Para além disso, há muito que se esperava a reintrodução dos indicadores vermelhos no mapa para aqueles que disparam armas sem silenciadores e, claro, o regresso do dead silence como uma opção viável e sempre ativa.
O Skill-based matchmaking (SBMM) é um tema controverso, e em Modern Warfare 3 foi intensificado consideravelmente. Este sistema é na prática o pesadelo da franquia, já que não há mais espaço para partidas descontraídas - tudo se assemelha a torneios de eSports, onde até jogadores casuais lutam como se estivessem numa batalha pela própria vida. O SBMM controla de forma dinâmica o desenrolar das partidas, ao favorecer os jogadores que estão a ter um mau desempenho e a penalizar os que apresentam uma boa prestação. Fiz alguns testes a este sistema implementado pela Activision nos últimos anos e, depois de alguns jogos disputados deliberadamente de forma desleixada, fui posteriormente colocado pelo matchmaking em lobbies muito mais saudáveis. Estes lobbies proporcionam o verdadeiro divertimento, mesmo que a vitória não seja garantida. Na minha opinião, o SBMM compromete muito a experiência multijogador de COD.
Modo Zombies é a salvação
O regresso dos Zombies, há muito aguardado, é feito de uma forma completamente diferente do que muitos esperavam. Esqueçam o formato anterior, porque agora, em Call of Duty, tudo se resume a um mundo aberto, com um estilo que se assemelha ao de um battle royale (até a campanha tem momentos que fazem lembrar um battle royale). Esta mudança não é necessariamente uma má ideia; temos um mapa vasto, cheio de atividades que se dividem por três zonas, sendo a zona central a mais desafiante de todas. É fundamental entrar nesta zona muito bem equipado, utilizar todos os poderes disponíveis, pois vais enfrentar desafios extremos e testar ao máximo as tuas capacidades.
A abordagem dos Zombies cativou-me. Incorpora muitos dos elementos e mecânicas de zombies familiares da série Call of Duty, mas agora dentro de um mapa gigante. Embora jogar sozinho seja uma opção, pode não ser a estratégia mais eficaz. Muitas vezes enfrentamos desafios que só podem ser ultrapassados em cooperação e, se não tivermos amigos disponíveis para jogar, temos de recorrer ao matchmaking. No entanto, o problema é que a experiência de jogo pode variar consideravelmente dependendo do grupo em que estamos inserimos. Cada jogador tem os seus próprios objetivos e, se houver divergências entre os objetivos de cada jogador a dinâmica pode ser posta em causa.
Persistir e tentar encontrar aliados úteis é uma estratégia que muitas vezes compensa. Por vezes, mesmo jogadores aleatórios que encontramos no mapa acabam por nos dar uma ajuda valiosa (é importante referir que não é possível eliminar outras equipas). Esta interação entre equipas é um elemento refrescante, pois retira alguma da intensidade dos confrontos diretos entre adversários, o que permite a formação de alianças momentâneas em prol de um objetivo comum. É uma caraterística agradável que oferece uma abordagem mais estratégica e cooperativa para enfrentar os desafios apresentados no mapa.
Os mistérios e desafios presentes nos Zombies de Modern Warfare 3 são muitos, o que proporciona horas de entretenimento que, de certa forma, me afastaram do pesadelo que se tornou o multijogador. Há uma enorme variedade de atividades disponíveis, o que é algo contraditório tendo em conta o tempo limitado atribuído a cada incursão. O mapa é extenso, oferece inúmeras atividades, mas apenas 45 minutos para as explorar e completar. Este limite de tempo parece insuficiente para a profundidade das atividades; seria mais apropriado ter tempo ilimitado ou, pelo menos, uma extensão considerável do tempo para cada incursão, permitindo aos jogadores explorar e desfrutar plenamente de todas as facetas do mapa.
Call of Duty merece outro tratamento
Modern Warfare 3 não é por si só um jogo mau, apenas reside a ideia muito concreta de que não é um jogo feito de raiz, mas sim construído em cima de MW2 e baralhado de novo. São meros apontamentos visuais e alterações de algumas mecânicas que lhe conferem uma imagem marginalmente diferente, não é para mim um jogo novo e completo, é mais uma componente extra do trabalho do ano passado. Bastava ter sido posto cá para fora como conteúdo adicional onde o destaque seria o modo Zombies e a minúscula campanha de pouco mais de 3 horas. Quem possui MW2 não tem aqui grande apelo para o adquirir, a não ser que sejam fãs incondicionais dos Zombies.
Prós: | Contras: |
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