Cara Capcom, o que se passa contigo?
De pioneiros a desgraçados.
Ah, a grande Capcom! Sempre na linha da frente da produção de grandes títulos, geração atrás de geração.
Nas 8-bits Mega Man e Duck Tales mostraram como jogos de plataformas com acção não precisavam de envolver canalizadores italianos. Nas 16-bits, foram reis e senhores da pancada com Final Fight e Street Fighter II e nas 32-bits foram responsáveis por muita muda de cueca com Resident Evil e Dino Crisis.
Na geração passada meteram a carne toda no assador com Onimusha, Devil May Cry, Okami, Viewtiful Joe e o grande Resident Evil 4, um dos melhores jogos de todos os tempos.
Nesta geração...bem, nesta geração a Capcom tem feito muita porcaria. Muita mesmo.
Normalmente apontamos o dedo à Activision e à Electronic Arts por promoverem algumas das mais recentes más práticas desta indústria, mas a Capcom é tão má ou pior do que as suas concorrentes norte-americanas.
Segundo este artigo do Gamesindustry.biz, a Capcom só tem $152M em caixa, uma soma bastante magra para uma empresa que se prepara para entrar numa nova geração de consolas.
Todo o dinheiro que a Capcom tem para se mexer não chega sequer para cobrir 60% do orçamento de Grand Theft Auto V.
"Todo o dinheiro que a Capcom tem para se mexer não chega sequer para cobrir 60% do orçamento de Grand Theft Auto V."
A culpa é toda tua, Capcom
Verdade seja dita, a Capcom até entrou bastante bem na actual geração. Dead Rising e Lost Planet foram bem recebidos e a quarta parte de Street Fighter deu à série uma popularidade que já não tinha desde os tempos da Super Nintendo.
Tudo corria bem até a ganância tomar as rédeas da Capcom.
"Inocentemente", Lost Planet 2 e Resident Evil 5 decidiram apelar a um público mais vasto e, com isso, perderam a sua base de fãs original. Resident Evil ainda vendeu bem, graças ao seu nome, mas foi alvo de fortes críticas por parte de fãs e imprensa. Já as mudanças de Lost Planet ditaram o fim de uma série que até prometia. Ainda saiu um terceiro mas já ninguém deu uma nova oportunidade ao franchise.
Conhecida por ser a rainha dos re-releases, não tardou até que Resident Evil 5 tivesse uma versão Gold e que Street Fighter IV se tornasse um lançamento anual, qual FIFA, com uma versão Super e outra Arcade. A Capcom já faz isto há muitos anos mas atingiu novos níveis de abuso quando a versão Ultimate de Marvel VS Capcom 3 saiu apenas meio ano após o original. Não se faz.
Mas não é só nos relançamentos que o dedo deve ser apontado à Capcom. Resident Evil 5 foi o primeiro jogo a incluir o agora famoso "Disc locked content", conteúdo que é lançado juntamente com o jogo mas que se encontra protegido por uma pay wall.
Querem jogar aquilo que existe dentro de um produto que compraram? Paguem à Capcom. Este "rasgo de genialidade" atingiu o seu pico máximo de controvérsia com o lançamento de Street Fighter X Tekken, que trazia fatos e personagens propositadamente bloqueados no disco.
A Capcom tentou-se esquivar das críticas, correndo em defesa do consumidor. Afinal de contas, tudo não passou de uma medida que servia para nos poupar tempo quando fizéssemos o download desse conteúdo. O que não referiram foi que o download não implicava a aquisição de qualquer novo conteúdo mas apenas o desbloqueio de conteúdo que já vinha no disco. Um acto deplorável e que mereceu a reprovação de toda a comunidade.
Mas não foi com o "Disc Locked content" que a Capcom abusou da boa fé dos seus fãs. A empresa foi também pioneira nas demos pagas e em DLC que não passa do cheat mode. Sim, aquele cheat mode que vem grátis em quase todos os jogos desde o início da história dos video jogos. A Capcom "inovou" e decidiu cobrar por isso. Querem-se divertir com cabeças grandes e troncos finos? Paguem.
O DLC pode ter feito com que a Capcom perdesse o respeito dos seus fãs mas são os seus mais recentes lançamentos quem tem feito o maior rombo nas contas da empresa. O sucesso de surpresas como Dragon's Dogma e do horrível Resident Evil: Operation Raccoon City não foram o suficiente para cobrir os prejuízos causados por Lost Planet , DmC, Asura's Wrath, Dark Void, Bionic Commando ou Remember Me. A esta extensa lista vai-se juntar em breve Lost Planet 3. É só esperar pelo próximo relatório de contas.
Mesmo quando os jogos vendem bem, a Capcom sente que ficam aquém das expectativas. O seu maior sucesso dos últimos tempos foi o horror de jogo Resident Evil 6. Vendeu 4.9M de cópias mas a Capcom estava à espera de 7M.
O aluno tornou-se o mestre
Outro "fenómeno" que também pode andar a afectar a Capcom é o facto de esta empresa pioneira andar, aos poucos, a ser vencida no seu próprio jogo.
Resident Evil pode ter sido o primeiro survival horror capaz de captar a atenção das massas mas depois de 3 capítulos seguidos onde a primazia foi dada à acção, a série perdeu tudo aquilo que um fez dela única e entusiasmante. Dead Space foi aquilo que se esperava de Resident Evil 5 e The Last of Us, Amnesia e The Walking Dead, cada um à sua maneira e dentro do seu género, elevaram a fasquia daquilo que se espera de um jogo survival horror. Resident Evil 6 é uma anedota ao pé de qualquer um destes títulos. Uma daquelas tão más que precisam de ser explicadas.
Também no género hack n'slash que ajudou a desbravar, a empresa deixou de ser vista como uma referência. Na geração passada, Devil May Cry foi uma revolução e o seu legado foi imenso. God of War, Dante's Inferno, Ninja Gaiden e Castlevania: Lords of Shadow tentaram a sua sorte(com imenso sucesso) mas foi a Platinum Games quem se assumiu como rainha do género nesta geração.
Até gostei de DmC, reboot da série Devil May Cry feito por um estúdio ocidental, mas os números são expressivos: a mudança de visual de Dante caiu muito mal entre os mais acérrimos fãs da série. Bayonetta e Metal Gear Rising são os novos reis do género, sendo bem recebidos tanto por jogadores como pela crítica.
Um segmento onde a empresa continua incontestavelmente a dominar é nos jogos tipo Monster Hunter. No entanto, a concorrência começa a crescer e a sua liderança aqui também irá acabar por ser contestada. Capcom, põe-te fina ou acabas por fazer companhia à THQ.
Fazer muito com muito pouco
Para rentabilizar o pouco dinheiro que ainda tem em caixa, a Capcom precisa de fazer aquilo que tem andado a descurar de há uns anos para cá: pensar bem no que anda a fazer.
A seguir à Nintendo, é a empresa com mais personagens populares e mais fãs dentro e fora do mundo dos video jogos. Quem não conhece Mega Man? Ken & Ryu? O Blanka até esteve para ser um dos maiores brasileiros de todos os tempos!
O sucesso dos jogos Versus falam por si e a Capcom tem de continuar a investir nos personagens que todos nós gostamos. É uma estratégia que tem resultado com a Nintendo.
Se se concentrar em apenas alguns IPs mas naquilo que fez deles o sucesso que um dia foram, a empresa fica no bom caminho.
Eis as minhas sugestões:
- Reboot completo a Resident Evil - a galinha dos ovos de ouro da empresa precisa urgentemente de começar do zero: nova mansão, novos personagens e nova história num jogo que seja, de facto, de terror. Funcionou muito bem com Tomb Raider. Vamos deixar de parte o tentar conquistar os fãs de Gears of War e Call of Duty, por favor. Há espaço para o survival horror, invistam antes nesse segmento.
- Pegar em séries clássicas que desapareceram no pico da sua popularidade - falo de casos como Final Fight, Dino Crisis e Onimusha, bons investimentos com grandes resultados e que foram imediatamente postos na gaveta com o virar da geração. Porquê, Capcom? Tragam estas(e outras) séries clássicas de volta.
- Dar aos fãs o que eles querem - Estiveram muito bem com Mega Man 9 e 10 mas muito mal com o cancelamento de Mega Man Legends 3 e Mega Man Universe. Há fãs a fazerem jogos com a vossa mascote melhores do que os que vocês têm feito! É óbvio que um Little Big Planet para Mega Man seria um sucesso garantido por isso toca a recuperar o jogo.
- Rival Schools 3 e Capcom Vs SNK - A sério, Capcom. O que é que vos custa? Não gostam de dinheiro?
E vocês? Se pudessem pedir apenas um jogo à Capcom, qual seria?