Passar para o conteúdo principal

Castlevania: Lords of Shadow 2 - Análise

Queres uma dentada?

Castlevania Lords of Shadow 2 tinha tudo para triunfar. O primeiro Lords of Shadow, ainda que comparado muitas vezes a God of War (tenho que admitir que tinha semelhanças, mas não era como se fosse uma cópia), teve sucesso em transportar uma série que estava emaranhada nas suas raízes 2D para um mundo 3D que maravilhou com a sua grande variedade de cenários e uma jornada dificilmente esquecível. Ao seu favor tinha ainda um final inesperado no primeiro capítulo que resultou em grandes expectativas para a continuação, que decorre séculos depois do primeiro, já no mundo moderno tal como o conhecemos.

Criando um contraste enorme com o mundo contemporâneo está o castelo do Drácula, no qual as fundações da cidade de Castlevania Lords of Shadow 2 estão estabelecidas. Em certas áreas regressa-se ao passado, época em que o Drácula (em outrora conhecido como Gabriel Belmont) reinava com punho de ferro e com os seus exércitos a espalhar o terror pelas aldeias e vilas em redor do seu território.

A dualidade é a palavra-chave. Temos duas épocas (e por sinal, dois mundos completamente diferentes), duas personalidades do Drácula e também dois jogos, ou duas metades se quiserem. Um deles é capaz de dar momentos fantásticos, o outro é facilmente esquecível e ignorado, criando vontade de regressar ao primeiro.

Castlevania Lords of Shadow 2 começa num ponto muito alto. Aqueles que jogaram a demo já conhecem este momento, que é mesmo o início do jogo. O castelo do Drácula está a ser invadido pela Brotherhood, a mesma irmandade à qual Gabriel chegou a pertencer, antes de derrotar os Lords of Shadow para se tornar no príncipe das trevas. Terminado o tutorial, que vos ensina a usar os poderes do Drácula, há logo um encontro com um boss gigante. É um confronto entre David e Golias de proporções épicas e igualmente o momento mais memorável, arrisco a dizer.

Ao longo do resto do jogo, este momento inicial nunca é igualado. Os bosses continuam a surgir com o intervalo de umas horas, mas sem tanto espectáculo e uma coreografia de ataques incríveis. Neste género, a hora de confrontar os bosses deve ser o pináculo da experiência. Lords of Shadow 2 falha neste ponto essencial. Tinha a vantagem de chegar mais tarde que outros jogos, mas deixa até a desejar em comparação com o seu antecessor, que lhe é superior em tudo menos no combate.

O combate está mais polido. A variedade cresce gradualmente com o desbloquear de novos ataques. Assim que desbloquearem tudo, as opções de ataque são muitas. Além do chicote que caracterizou o primeiro Lords of Shadow, que agora está envolvido numa aura vermelha, o Drácula tem no seu arsenal a Void Sword, capaz de sugar a energia vital dos adversários, e as Chaos Claws, dois punhos ardentes que derretem o escudo dos inimigos que ousam usá-los como defesa.

Com um combate que dá gozo explorar, é incompressível por que motivo o Mercury Steam sentiu a necessidade de embutir secções de stealth, nas quais o Drácula (diga-se de passagem que até o próprio Satanás tem medo dele) tem que passar sorrateiramente por uns inimigos que não consegue derrotar devido à sua armadura ser impenetrável. Ora, umas vezes sentimos que somos quase invencíveis, afinal estamos a controlar o Drácula, ora nestas vezes esse efeito é cortado e temos que fugir com o rabo entre as pernas... não faz muito sentido.

O problema é que o jogo foi evidentemente construído para ser um hack and slash, e as secções de stealth acabam por ser inapropriadas. Até é engraçado quando o Drácula se transforma num bando de ratos para navegar pelos canos e condutas de ar condicionado para chegar a sítios de outra forma inalcançáveis, mas ter que se esconder não encaixa na sua personalidade e torna-se inexplicável na segunda metade do jogo, quando já reganhou uma grande parte dos antigos poderes e derrotou bosses com várias vezes o seu tamanho.

A personalidade do Drácula é colocada em foco neste capítulo. Está farto de viver e o desejo de morrer é o que fomenta Lords of Shadow 2. Mas o Drácula de há uns séculos, aquele retratado no início, é orgulhoso, não mostra remorso e não hesita em tirar uma vida. Estes traços continuam presentes quando acorda séculos numa catedral de uma cidade gótica, fraco e sem perceber muito bem o que se passou.

Em Lords of Shadow 2 controlamos o Drácula, mas vemos a sombra de Gabriel e traços daquilo que foi em outrora um humano, um ser mortal. A memória do seu filho, Trevor (que depois se transformou em Alucard), atormenta-o mas também lhe serve de conforto. Para quem apenas jogou o primeiro Lords of Shadow, Trevor (ou Alucard) é um nome estranho, que apenas surge com The Mirror of Fate, o jogo que foi lançado primeiro para a 3DS, estando agora disponível em versões HD para PC, PS3 e Xbox 360. Logo após o prólogo, o jogo perde alguns minutos a explicar o que se sucedeu em The Mirror of Fate, uma parte importante para perceber os eventos de Lords of Shadow 2.

Dar a conhecer o Drácula profundamente (dentro dos possíveis para um jogo deste género) é um ponto forte, o resto da história é uma montanha russa entre pontos altos e baixos, com os pontos baixos a estarem situados no mundo moderno. No castelo do Drácula habitam personagens com traços únicos, com a apresentação do Toy Maker, acompanhado de um belo puzzle na forma de uma peça de teatro, um dos momentos que nos mostra o que Lords of Shadow podia ser se fosse devidamente aproveitado.

Após acordar desnorteado naquilo que são os restos do seu castelo, Drácula é abordado por Zobek, que faz a revelação de que os servos de Satanás estão a preparar o seu regresso, insistindo que este é o único capaz de o impedir. É então dada a missão a Drácula de encontrar os servos antes que seja tarde de mais, o que implica explorar infiltração em laboratórios e outras cenas que normalmente não fariam parte de um Castlevania. Drácula no papel de um detective? Definitivamente que há algo de errado aqui...

Em restrospectiva, os momentos mais marcantes estão no castelo do Drácula, que é o sítio onde Lords of Shadow dá a sensação de ser um Castlevania. Quando o jogo troca para a modernidade perde a sua magia, parece um jogo completamente diferente. Os níveis tornam-se géneros, cinzentos, sem vida, ao ponto que chega a parecer graficamente pior. O contraste existe, e no final, acaba-lhe por custar caro.

"Os momentos mais marcantes estão no castelo do Drácula, que é o sítio onde Lords of Shadow dá a sensação de ser um Castlevania."

Voltando a tocar no combate, não há nada realmente de inovador. Os tão associados QTEs a God of War fazem parte do combate, nos momentos em que o Drácula pode eliminar de forma brutal e sangrenta os seus inimigos, normalmente ao sugar-lhes o néctar vital para lhes roubar a vida. A maior satisfação vem de dominar o sistema de bloqueio e contra-ataque, essencial para atingir grandes combos e encher as barras associadas à Void Sword e Chaos Claws.

Há conteúdos suficientes para repetir o jogo uma segunda e até terceira vez, seja pelos modos de dificuldade mais elevada, seja para desbloquear as habilidades do Drácula e encontrar todos os segredos graças à possibilidade de New Game Plus. Castlevania: Lords of Shadow 2 acaba por não corresponder às expectativas, mas não é um jogo mau, o combate torna-o agradável o suficiente para que queiram reviver a experiência e recordar os bons momentos.

Castlevania Lords of Shadow 2 é o capítulo final desta saga produzida pelo MercurySteam e pedia-se mais. Havia margem de manobra e um universo rico para uma história mais complexa, desenvolvida e melhor realização. Fica a ideia de que depois do primeiro Lords of Shadow, e daquele final que sobressaiu acima de tudo o resto, o estúdio ficou sem saber muito bem o que fazer e acabou preso entre o passado e o presente, esforçando-se para ligar os dois numa viagem entre séculos ao estilo de uma epopeia que falha por vezes demais em tornar grandiosos os acontecimentos.

6 / 10

Lê também